Agropecuária desmatou 15% das florestas naturais nos últimos 38 anos, diz Mapbiomas

Estudo mostra que Amazônia e Cerrado são biomas mais ameaçados e reforça agronegócio como principal vetor da devastação

 

O Brasil perdeu para o desmatamento 15% da área ocupada por florestas naturais nos últimos 38 anos, entre 1985 e 2022. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (20) pelo Mapbiomas, na “Coleção 8 do Mapeamento Anual da Cobertura e Uso da Terra no Brasil realizado pela instituição”, que considera as estatísticas preocupantes e defende estratégias de conservação específicas para cada região do país.

Durante esse período, a área ocupada por florestas naturais passou de 581,6 milhões de hectares para 494,1 milhões de hectares. A redução total é equivalente a 3,5 vezes a área do estado de São Paulo.  O levantamento apontou que o principal fator de devastação (95%) foi a apropriação da agropecuária, que implica tanto a transformação de floresta em pastagens quanto a utilização das áreas para cultivo agrícola. Os últimos cinco anos aceleraram o processo de desmate, respondendo por 11% dos 87,6 milhões de hectares suprimidos nesses 38 anos. Os biomas mais atingidos foram a Amazônia (13%) e o Cerrado (27%).

“As florestas são importantes não apenas para manter o equilíbrio climático, mas também para proteger os serviços ecossistêmicos vitais para a sociedade e sua economia. A perda contínua das florestas representa uma ameaça direta para a biodiversidade, a qualidade da água, a segurança alimentar e a regulação climática”, salientou Julia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas.

O levantamento considera diversos tipos de cobertura arbórea: formações florestais, savanas, florestas alagáveis, mangue e restinga. Segundo o MapBiomas, esses ecossistemas ocupam 58% do território nacional. A Amazônia (78%) e o Caatinga (54%) são predominantes e aparecem como os biomas com maior proporção de florestas naturais em 2022. Os biomas que mais perderam florestas naturais entre o período analisado, foram Amazônia (13%) e Cerrado (27%).

“A perda contínua das florestas representa uma ameaça direta para a biodiversidade, a qualidade da água, a segurança alimentar e a regulação climática”, apontou Júlia Shimbo.

 

Amazônia e Cerrado lideram devastação

Os biomas mais desmatados foram a Amazônia, que perdeu 13% de suas florestas naturais, e o Cerrado, com 27%. Juntos, esses biomas responderam por mais de 80% do desmatamento de florestas naturais nos 38 anos analisados. Os dois estados com maior perda de vegetação estão inseridos no chamado arco do desmatamento, onde a pecuária avança de forma mais rápida sobre a floresta amazônica: Mato Grosso, com 31,4 milhões de hectares derrubados, e Pará, com 18,4 milhões. Rio de Janeiro e São Paulo foram os únicos a ganharem área de floresta.

Enquanto a floresta amazônica caminha, segundo especialistas, rumo ao chamado ponto de não retorno, cresce a preocupação dos cientistas a respeito das savanas, formações caracterizadas por vegetações esparsas e com predominância de arbustos e gramíneas.

“Em biomas como no Cerrado e na Caatinga, que já perderam parte significativa de sua vegetação nativa, o ritmo do desmatamento das savanas é alarmante, principalmente na região do Matopiba, que ainda apresenta grandes remanescentes deste ecossistema, mas que estão sendo convertidos para a expansão da agropecuária”, destaca Barbara Costa, pesquisadora da equipe do Cerrado no MapBiomas.

O estudo também observou que dois terços da área destruída, ou 58 milhões de hectares, foram de formações florestais, que são áreas de vegetação com predomínio de espécies arbóreas e dossel contínuo como as florestas que prevalecem na Amazônia e na Mata Atlântica. Nas décadas analisadas, a diminuição das formações florestais foi de 14%; o Pampa foi o único em que o patamar se manteve estável.

MapBiomas é iniciativa de uma rede colaborativa formada por organizações não governamentais, universidades e empresas do Brasil, organizada com o objetivo de utilizar tecnologia de qualidade e baixo custo para produzir séries anuais de mapas de cobertura e uso do solo dos biomas brasileiros.

(Foto: Douglas Magno/AFP)

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