Agricultores de toda a Europa querem menos exigências para produzir

Henrique Acker (correspondente internacional) –  Os protestos na França obrigaram à mobilização das forças de segurança em grande escala em torno de Paris.

Na Alemanha, autoridades dão conta que já há cerca de 550 tratores em pontos de concentração.

Mais de 700 agricultores também se manifestaram na Bélgica, no final de semana.

Há promessas de manifestações organizadas pelo setor agrícola também na Itália, Polônia, Romênia, Portugal e na Espanha.

Na terça-feira, 30 de janeiro, agricultores alemães realizaram uma marcha com centenas de tratores em Hamburgo, causando engarrafamentos nas estradas.

Os agricultores alemães percorreram cinco rotas principais em direção ao centro da cidade, onde organizaram uma manifestação com o lema “Contra a loucura fiscal e burocrática”. De acordo com as autoridades locais, cerca de 550 tratores ocuparam aquela zona da cidade por volta do meio-dia de segunda-feira.

 

Protestos se alastram a outros países

Centenas de agricultores saíram às ruas do município belga de Turnhout, no domingo (28/1/24), em protesto contra um acordo para reduzir as emissões de azoto no setor agrícola. Mais de 700 pessoas e 80 tratores alinharam-se nas ruas do município na noite de domingo.

Os protestos também chegaram à Espanha, onde os agricultores prometem grandes manifestações para as próximas semanas. “O setor agrícola na Europa e em Espanha enfrenta uma frustração e um mal-estar crescentes devido às condições difíceis e à burocracia sufocante gerada pela regulamentação europeia”, justificaram as organizações agrícolas em comunicado.

Em relação à União Europeia (UE), os espanhóis destacam a “concorrência desleal” e a luta dos agricultores contra um mercado que importa de países terceiros “a preços baixos” e com regulamentos desiguais.

Consideraram tratar-se de “uma contradição e hipocrisia” que põem em causa a viabilidade de milhares de culturas agrícolas, inclusive a limitação do uso de alguns defensivos químicos na produção.

 

Franceses próximos de pontos estratégicos de Paris

Nesta quarta-feira, 31 de janeiro, o cerco a Paris avançou e está cada vez mais próximo de diversos pontos estratégicos, ameaçando estrangular a cidade. Os agricultores estão a poucos quilômetros do aeroporto de Orly, o segundo maior da capital francesa, e também de Rungis, onde se localiza o maior mercado de produtos frescos da Europa.

O protesto dos franceses não tem data para terminar. Os agricultores aguardam com expectativa a reunião entre o Presidente Emmanuel Macron e a Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen.

Os dois encontram-se nesta quinta-feira, 1 de fevereiro, em Bruxelas, à margem da cúpula dos 27 países da UE, para discutir a crise agrícola que atinge a França e vários outros países europeus.

Há pelo menos três pontos em comum entre as reivindicações dos franceses e seus colegas europeus: o aumento do imposto cobrado no diesel usado em tratores (conhecido pela sigla GNR) no período de 2024 a 2030; os custos de adaptação às normas ambientais do pacto de transição ecológica da União Europeia; a concorrência desleal de produtos provenientes de outros países não submetidos a essas regras – Brasil e Ucrânia, entre outros.

 

Problemas com o comércio de cereais da Ucrânia

Na tentativa de auxiliar o escoamento da produção de cereais ucranianos, a UE concedeu livre circulação para milho, trigo, colza, óleo de girassol e sementes de girassol daquele país, desde que para serem comercializados em outros Estados-membros da UE ou dirigir-se para países ou territórios fora da Europa.

A medida vem sendo contestada por agricultores da Bulgária, Hungria, Polónia, Roménia e Eslováquia, países vizinhos.

As restrições também não agradam ao governo ucraniano, que contesta a medida, alegando que isso dificulta ainda mais a exportação de produtos do país, que já sofre as consequências da guerra com a Rússia.

Os motivos da insatisfação variam de um país para outro, mas a cinco meses das eleições para o Parlamento Europeu, partidos de extrema-direita buscam se apropriar dos protestos dos agricultores e atacar a União Europeia, apontada como a fonte de todos os males pelos ultranacionalistas.

 

Desmatamento ilegal é barreira para acordo com o Brasil

A mobilização de agricultores europeus deve provocar uma revisão, ainda que provisória, de uma série de normas e exigências impostas pela União Europeia ao setor. Mas também pode complicar o avanço de entendimentos para um acordo entre União Europeia e Mercosul, defendido pelo governo brasileiro.

O ponto de discórdia é a exigência da UE em relação ao fim do desmatamento ilegal da Amazônia, sobretudo para pastagem, condição imposta para o acordo de livre comércio que permita a ampliação da entrada de produtos agrícolas brasileiros na Europa.

Ainda assim, a União Europeia tem 16% da quota de mercado das exportações do agro brasileiro. Cerca de 50% do que o Brasil exportou de café em 2022 foi para a União Europeia, assim como 14,5% da soja embarcada ao exterior naquele ano. (Foto: AP)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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