Por Henrique Acker – As negociações de paz entre EUA e Rússia, que vão ocorrer esta semana na Arábia Saudita, são um recado claro ao mundo: a guerra nunca foi entre a Rússia e a Ucrânia, mas entre a Rússia e a OTAN. E quem comanda a OTAN é o governo dos EUA, não é a União Europeia.
Não haveria qualquer possibilidade da Ucrânia combater e resistir à invasão russa por três anos sem os recursos, armas e munições da OTAN. E o grande fornecedor são os EUA.
Muitos analistas fazem coro com líderes europeus, insatisfeitos pela Europa ter sido deixada de lado das conversações. Na verdade, do ponto-de-vista militar, não há futuro favorável à Ucrânia, como insiste Zelensky e fingem acreditar os líderes europeus, cientes do fracasso.
União Europeia e o fantasma da guerra com a Rússia
No terreno militar, os russos seguem avançando – mesmo lentamente – em todo o Donbass e já dominam 20% do território do país. A ocupação de um pequeno pedaço da província de Kursk por tropas ucranianas não é moeda de troca suficiente com os russos.
Uma paz que não devolva os territórios ocupados pela Rússia e não inclua a Ucrânia na OTAN é uma derrota amarga para a cúpula da União Europeia. Seus dirigentes têm plena consciência disso e insistem na ideia de que a guerra da Ucrânia, na verdade, seria um embate contra um pretenso expansionismo russo. Há quem enxergue uma guerra em alguns anos na Europa.
O que ganharia a Rússia de Putin com uma guerra contra a União Europeia? Muito menos do que os acordos comerciais com os países europeus sempre ofereceram nos tempos de paz. A Rússia tem capacidade para defender suas fronteiras e até reivindicar parcela dos territórios da antiga URSS.
No entanto, uma guerra de dimensões continentais é uma empreitada com custo infinitamente superior. Seria uma verdadeira estupidez, um sacrifício econômico e social sem qualquer sentido para a Rússia e para a União Europeia.

Trump mira na China
O contribuinte europeu está pagando caro pelos bilhões de euros empenhados na Ucrânia. E também pelas consequências dos 15 pacotes de medidas da UE que deveriam pressionar a Rússia, mas que também respingam no custo de vida na própria Europa.
Sem guerra, não há por que investir em armamentos. Por isso, os tais 5% dos orçamentos de todos os países da UE para a defesa só interessam aos fabricantes de armas e fornecedores de equipamentos militares da Europa e dos EUA. É preciso lembrar que os maiores fabricantes europeus estão justamente na Alemanha e na França, duas economias em crise.
O primeiro-ministro da Inglaterra ainda pretende insistir com Trump para garantir que tropas da OTAN sejam mantidas em território ucraniano depois do cessar-fogo. Vai ter que combinar com os russos, porque se depender de Vladimir Putin, isso está fora de questão.
Trump sabe onde o calo lhe aperta. Mostrou interesse pelas riquezas minerais do subsolo ucraniano oferecidas por Zelensky. No entanto, as ambições dos EUA são maiores do que o governo ucraniano pode entregar (o que já não é pouco). E já deixou claro: para ele, a prioridade dos EUA na luta pela hegemonia mundial é o enfrentamento com a China.
Daí por que os EUA deixaram a UE de fora das negociações e vão buscar um acordo preliminar diretamente com os russos, para depois aparar arestas com a Ucrânia. Na política, não há santos nem demônios, há interesses em disputa. A Ucrânia foi só uma bucha para as ambições de grandes grupos econômicos russos, europeus e estadunidenses. O resto é conversa fiada. (Foto: Reprodução)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)