A quem interessa a privatização do Porto de Santos?

Hiroshi Bogéa – Durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, o  Porto de Santos corria o risco de ser privatizado.

Um dos maiores defensores de transferir a gestão do porto à iniciativa privada foi o então ministro dos Transportes Tarcísio Freitas, atual governador de São Paulo.

Nem bem assumiu as rédeas do governo paulista, Tarcísio reforçou sua intenção de tirar a administração do mais o importante porto do país às mãos de empresários, completando sua ideia desestatizante.

Pesquisando na Internet, encontramos uma entrevista do governador de São Paulo, no Canal Livre de 29 de abril passado, na qual ela disse que não desistiria da privatização do Porto de Santos.

Palavras de Freitas:

“Tenho uma esperança eterna e lutarei até o último momento para que aconteça, porque é bom, é bom para o estado, é importante. Seria a grande novidade da Baixada Santista”.

O governador pontuou que a privatização traria benefícios para toda a região da Baixada Santista e a indústria de Cubatão.

“Quando falamos da privatização de Santos, está em jogo a competitividade do porto. O porto que é responsável pelo maior fluxo de comércio exterior do Brasil precisa ser cuidado”, citou

“A privatização ela traz a maior oportunidade de mobilizar capital em menor tempo, falamos de aprofundamento do canal, mobilização das áreas adjacentes, observe que tenho uma área industrial de Cubatão que morreu. E se tenho um canal cuidado, com incentivos tributários, lógica de porto-indústria, consigo remobilizar, reindustrializar a área”, pontuou.

Tarcísio Freitas e seus auxiliares direto, quando falam sobre o tema privatização do Porto de Santos, dizem que tudo está acontecendo com base em ampla discussão com a sociedade, convidada a colaborar e opinar na tomada de decisões sobre segurança das operações, sustentabilidade, infraestrutura, regulamentação e atração de mão de obra, e plano de desenvolvimento e zoneamento de Santos e demais cidades envolvidas.

Mentira!

Alguém já ouviu falar de grupos estrangeiros e nacionais postulantes à compra de empresas privatizadas serem dirigidos pela “sociedade”? Justamente aqueles que serão atingidos pelas mudanças drásticas que virão? Com que poder os atingidos interferirão nas decisões se o preço da venda e o volume e destinação dos investimentos e dos lucros já foram definidos?

Na verdade, só os interessados nas próprias vantagens discutem.

E são parceiros na negociata governos municipais, ministérios e secretarias, parlamentares e empresários envolvidos no pacote.

Acompanhando aqui na Internet, descobrimos que as audiências públicas convocadas para debater o tema,  são vazias, opositores esperneiam, mas são feitas só para constar do processo.

O Porto de Santos é o maior e mais importante do hemisfério Sul, portanto é estratégico, inclusive, para a soberania nacional.

No 3º trimestre de 2021 teve um lucro recorde de R$ 98,3 milhões, 9,2% superior ao mesmo período de 2020.

Lucros que assanham os abutres das empresas privadas.

O porto é o principal fator de desenvolvimento da economia e do mercado de trabalho em todas as cidades da chamada Baixada Santista.

Com a privatização, os empregos, já escassos na região, serão afetados por centenas de demissões, através da substituição pela mecanização.

Fala-se também em “importação” de mão-de-obra para a gestão e outros postos, de acordo com a vontade da administração privada.

Outro ponto é a ampliação das autorizações para instalação de novas atividades, extremamente lucrativas para os acionistas – e não necessariamente para o País.

Um exemplo são os pontos de estocagem de cargas perigosas.

Só o estoque de nitrato de amônia hoje já é superior em 10 vezes àquele que fez explodir bairros inteiros no entorno do Porto de Beirute, no Líbano, em 2020. Afora a possibilidade de o porto ser usado para estocagem de lixo dos “países ricos”, fato já comum em diversas partes do mundo.

Há também a questão do gás de xisto (o gás natural liquefeito) que vem de fora, a maior parte dos EUA, hoje seu maior produtor e exportador mundial e precisando de mercados. Passa pelo porto nos chamados (pela população) “navios-bomba”.

Eles são capazes de armazenar mais de 100 mil metros cúbicos de gás num único navio, com potencial superior a dezenas de bombas atômicas de Hiroshima. Daí a pressão dos EUA sobre a União Europeia – a pretexto da tensão com a OTAN e Ucrânia – para fechar as torneiras alemãs, e outras, para o gás natural encanado pela Rússia.

A boa notícia para quem mora em Santos e no seu entorno é que o atual  presidente do Porto de Santos, Anderson Pomini , opõe-se radicalmente contra a privatização do porto, seguindo a linha do governo Lula contrária às privatizações de setores importantes ao desenvolvimento do Brasil.

Nas entrevistas que concede, Anderson Pomini  tem deixado claro  que a privatização da Autoridade Portuária está completamente descartada.

Numa das entrevistas do presidente do porto de Santos, Pomini disse que os portos exercem atividade essencial de interesse nacional e, por se tratarem de áreas de segurança, não podem ser concedidos, pontuando que os 100 maiores portos do mundo são públicos e o de Santos ainda tem uma função social.

Apenas os terminais do Porto de Santos são administrados por empresas particulares, algo que é defendido pelo governo federal, inclusive. Em maio, o ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França, reforçou a posição de manter o porto público, mas sinalizou que passar a administração do terminal para a iniciativa privada está fora de cogitação.

Este é o caminho a seguir.

(Foto: Gazeta do Povo)

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