A corrupção e os hipócritas

João Salame – Um dos argumentos mais fortes utilizados na campanha eleitoral contra o presidente Lula foi o da corrupção. Dois escândalos, o do Mensalão e o do Petrolão, serviram de base para essa virulenta campanha. Tentam imputar às forças de esquerda o carimbo da corrupção.

É certo isso?

Em primeiro lugar temos que reconhecer que tanto o Mensalão como o Petrolão foram grandes casos de corrupção que ocorreram nos governos do PT. Mas isso implica dizer que por ser de esquerda, o governo será necessariamente corrupto?

O Brasil tem 522 anos de existência e desde sua descoberta convive com casos de corrupção. A esquerda (assim chamada pelos críticos, pois não considero que o País tenha tido verdadeiramente um governo de esquerda), governou o País por 12 anos sob o manto do PT.

Pra sermos generosos demais com o termo esquerda e atender aos direitistas mais raivosos, podemos colocar mais oito anos do democrata Fernando Henrique, dois do democrata Itamar Franco, dois do excelente democrata João Goulart e quatro do democrata Juscelino Kubistichek. Que de esquerda não tinham quase nada.

Se colocarmos mais 15 anos de Getúlio Vargas no poder, que apesar de autoritário implementou várias políticas em benefício aos trabalhadores, somaremos 43 anos.

Ora, o País tem 523 anos. Logo as forças de direita governaram esse País, com sucessivos escândalos de corrupção, durante 480 anos.

É pouco?

No período mais duro da ditadura militar, de tão volumosos que foram, não conseguiram abafar escândalos de corrupção envolvendo a construção da hidrelétrica de Tucuruí, da Rodovia Transamazônica, da Ponte Rio-Niterói e da Usina Nuclear de Angra dos Reis, só pra citar alguns casos.

A imprensa era amordaçada.

Mas voltemos aos casos de corrupção nos governos do PT.

A imprensa registra que o Mensalão causou um prejuízo de 101,6 milhões de reais aos cofres públicos do País num período de quatro anos.

O Petrolão causou um rombo de 6,2 bilhões de reais para a Petrobrás.

Já o Orçamento Secreto patrocinado pelo time de Bolsonaro para comprar apoio de parlamentares no Congresso Nacional, consumiu 53,5 bilhões de reais entre 2020 e 2022.

Derramaram dinheiro nas eleições para eleger parlamentares conservadores. Não por acaso, o novo Congresso é o mais alinhado às forças de direita de que se tem notícia na história no País.

Isso não é corrupção?

E com valores estratosfericamente maiores do que os escândalos anteriores.

Isso sem falar nas denúncias de “rachadinha” de salários parlamentares e aquisição de dezenas de imóveis em dinheiro vivo, dos quais são acusados a família Bolsonaro.

Até joias do mundo árabe quiseram enfiar no bolso.

O mais engraçado são os honestos defensores do bolsonarismo, muito fortes no meio empresarial e na agroindústria.

Claro que existem muitos empresários sérios, mas muitos desses “moralistas radicais” são sonegadores de impostos, adoram contratar com o Poder Público sem licitação, dão propinas para viabilizar seus negócios, praticam o trabalho escravo, não assinam a carteira de seus empregados e quando assinam tentam não pagar os seus direitos.

São os “honestos”.

No fundo gostam mesmo do Bolsonaro porque ele está se lixando para a proteção do meio ambiente e faz vistas grossas para atividades ilegais que exploram a natureza sem renová-la.

Que vibram por cada incursão da polícia nas favelas tendo como resultado dezenas de mortos, sem importar se são culpados ou não, desde que sejam negros e favelados.

Que destilam preconceito contra os homossexuais, mesmo que as elites sejam as mais permissivas possíveis entre quatro paredes.

Que protestam contra as drogas, sendo justamente essas elites que mais consomem cocaína, que é uma droga cara.

A causa da corrupção está na concentração absurda de riquezas nas mãos de uma pequena elite.

No sistema político estruturado para fazer vitoriosos os que tem muito dinheiro, que chegam no poder para defender os interesses das elites, porque por elas são patrocinados.

Um sistema que compra votos e depois tem que pagar por eles.

Um sistema que beneficia sobretudo as forças de direita, que ao longo de quase 500 anos mandaram e mandam no Parlamento e nesse País.

É verdade que a esquerda, quando chegou ao Poder, não soube enfrentar adequadamente essa estrutura corrupta e a ela se adequou, dando discurso para os representantes das elites tentarem igualar todos os políticos na lama da corrupção.

Mas isso é apenas uma meia-verdade.

Em todo o mundo, em todos os regimes, a corrupção consome trilhões de reais. Impede a execução de políticas públicas que melhorem a vida das pessoas.

É preciso combatê-la.

No Brasil não é diferente. Mas não ajuda achar que o combate a esse mal é primazia das forças de direita.

Com todos os seus erros, são justamente as forças de esquerda e os verdadeiros democratas que mais fortalecem as instituições que apuram essas denúncias de irregularidades.

São as forças que mais se preocupam em dividir parte do bolo com os mais pobres, enquanto a direita tenta enriquecer ainda mais os que já são muito ricos, realimentando o sistema corrupto.

O resto é hipocrisia!

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