A arte de recomeçar – Rodrigo Vargas

Rodrigo Vargas – O ano chega ao fim como um livro prestes a ser fechado, com páginas marcadas por histórias que nos moldaram. Lá estão as conquistas que nos fizeram sorrir, os tropeços que nos ensinaram, e aqueles momentos em que o coração bateu forte, seja por alegria ou dor. No entanto, o término de um ano não é um ponto final; é, na verdade, uma vírgula na narrativa que continua, dia após dia, sempre recomeçando.

Rubem Alves, em sua infinita sensibilidade, já nos ensinava que “há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas”. Assim também é a vida: podemos nos prender às frustrações ou permitir que as experiências nos deem asas para voar mais longe. Cada amanhecer é uma nova aula, um convite a deixar o que nos pesa e alçar voos mais altos.

Machado de Assis, mestre em observar as nuances da alma humana, escreveu certa vez: “A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal.” E não é verdade? Cada recomeço carrega uma luta implícita: a de enfrentar nossos medos, nossos erros, nossas limitações. Mas também é uma oportunidade de sermos melhores, de recriarmos nossa história.

Clarice Lispector, com sua poesia quase metafísica, sussurrava: “Sou o que quero ser, porque possuo apenas uma vida e nela só tenho uma chance de fazer o que quero.” É com esse espírito que devemos encarar cada novo dia: como uma chance única, um campo aberto de possibilidades à espera de nossos passos.

No fim das contas, como bem dizia Carlos Drummond de Andrade, “a cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca.” Não desperdicemos. O recomeço não espera por um calendário novo; ele acontece em cada gesto, em cada escolha, em cada palavra que proferimos.

Que o ano que se aproxima seja como as primeiras páginas de um livro ainda em branco, e que tenhamos a coragem de escrever nele com tintas vivas. Afinal, recomeçar é uma arte que nos torna eternamente jovens, aprendizes da vida.

 

O texto é de autoria do jornalista Rodrigo Vargas

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