Impunidade de militares perpetuou tradição golpista, diz historiador

Com mais de 20 obras publicadas e a notoriedade de ser um dos principais especialistas em regimes militares no Brasil, o historiador Carlos Fico está prestes a se aposentar. O que ele considera seu “último livro” será lançado na próxima semana, intitulado “Utopia autoritária brasileira: como os militares comprometem a democracia desde o início da República até os dias atuais”.

Em uma conversa com a Agência Brasil, o docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) expressou a vontade de criar uma obra que atingisse um abrangente público e fosse significativa para a sociedade. Nesse aspecto, o assunto se relaciona diretamente com a contemporaneidade.

Na obra, o autor argumenta que todas as crises institucionais que o Brasil enfrentou desde a Proclamação da República em 1889 foram provocadas pelos militares. Sua influência ao longo da história se evidencia por dois pontos principais: a crença na sua própria superioridade em relação aos civis, considerados incapazes de liderar o país, e a visão de que têm uma autorização constitucional para intervir nos assuntos políticos.

De acordo com o historiador, as abordagens autoritárias e intervencionistas estão enraizadas na sociedade brasileira há mais de um século, principalmente devido à maneira como os civis se relacionaram com os militares. A ausência de punição foi a norma. Ao longo desse período, nenhum dos participantes de golpes ou tentativas de golpe de Estado enfrentou prisão.

O timing do lançamento do livro é pertinente. Nesta quarta-feira (20), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, incluir mais dez pessoas no rol de réus acusados de participarem do esquema golpista para que Jair Bolsonaro permanecesse no cargo, mesmo após a derrota nas eleições de 2022. Dentre os réus, nove são militares. Assim, uma eventual condenação representaria um marco histórico no Brasil (Foto: Carlos Fico/Arquivo pessoal)

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