Prisão de Moraes foi discutida com chefes das Forças Armadas, diz ex-FAB

Carlos Almeida de Baptista Junior, ex-comandante da Aeronáutica, declarou durante uma audiência no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta manhã que os líderes das três Forças Armadas deliberaram em uma sessão de ideias sobre a viabilidade de prender o ministro Alexandre de Moraes, mas chegaram à conclusão de que ele seria libertado imediatamente pelo próprio Supremo.

Um oficial rememorou a reunião entre os líderes militares e Jair Bolsonaro. Os três principais comandantes das Forças Armadas se encontraram com o ex-presidente e discutiram não a utilização das tropas para assegurar a ordem durante a transição, mas também situações envolvendo supostos golpes. Ao ser indagado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre se havia conversas sobre a detenção de ministros do STF, ele confirmou que sim e mencionou a possibilidade de encarceramento de Moraes.

De acordo com o ex-comandante, essa ideia foi mencionada durante uma sessão de brainstorming“. Durante as conversas para analisar várias possibilidades, Baptista Junior comentou que, quando a questão da prisão foi levantada, uma das pessoas presentes sugeriu que seria imprescindível detentar todos os ministros do STF, caso contrário, Moraes seria liberado instantaneamente pela corte.

Durante as sessões de troca de ideias, essa situação ocorreu. Recordo que surgiu a proposta de deter o ministro Alexandre de Moraes, que na época ocupava a presidência do TSE. Carlos Almeida de Baptista Junior, ex-comandante da FAB, descrevendo a reunião em uma audiência no STF relacionada à tentativas de golpe, questionou: “Amanhã o STF deve conceder o habeas corpus para libertá-lo, e o que faremos? Vamos prender os outros?”.

O militar foi a última testemunha da acusação a prestar depoimento. Ele reafirmou os detalhes de sua declaração feita à Polícia Federal durante a investigação sobre a tentativa de golpe, mas fez uma ressalva, indicando que não conseguia recordar se o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, esteve presente nas reuniões entre os comandantes, o ministro da Defesa e Bolsonaro.

De acordo com Baptista Junior, ele participou de cinco encontros com o presidente na época em novembro de 2022. As reuniões com os líderes das outras Forças aconteceram nos dias 2, 12, 14, 22 e 24 do mesmo mês, logo após a vitória de Lula sobre Bolsonaro no segundo turno das eleições, realizado em 30 de outubro.

O militar afirmou que a preocupação principal era preservar a paz social e o clima de radicalização no país. Em seu depoimento, ele destacou que, em um primeiro momento, as Forças Armadas consideraram a possibilidade de realizar operações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) para enfrentar cenários que poderiam resultar em desordem social, como acampamentos de cunho golpista e a ameaça de paralisações por parte dos caminhoneiros.

A partir de 11 de novembro, Baptista Junior percebeu que o presidente tinha a intenção de usar os mecanismos para finalidades diferentes. O militar teria notado que a meta era impedir a posse de Lula, seja por meio de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) ou de um estado de exceção, e não simplesmente assegurar a tranquilidade até a transição de governo que aconteceu em janeiro de 2023, conforme suas declarações.

Críticas ao almirante e discordâncias em relação a Freire Gomes. O brigadeiro apresentou a possibilidade de detenção citada pelo general Freire Gomes de uma maneira distinta. “Não é fácil ignorar o que o general mencionou sobre uma possível prisão. Não houve uma ordem de prisão, como foi reportado na mídia, apenas uma suposição. Eu reafirmo o que disse: por cortesia, ele comunicou ao presidente que, hipoteticamente, poderia ser necessário prender alguém.”.

Na segunda-feira, Freire Gomes trouxe uma narração distinta. Durante seu testemunho, o general adotou um tom mais suave e afirmou que teria avisado o presidente sobre a possibilidade de ele ser “responsabilizado legalmentecaso mantivesse algumas postulações que escapavam do “domínio jurídico”.

Ele também afirmou que o almirante Garnier, que na época era o comandante da Marinha, ofereceu sua ajuda ao presidente. “Minha percepção sobre o almirante Garnier é bastante passiva. Em uma das reuniões, ele chegou a mencionar que as forças navais estariam prontas para atender às solicitações do presidente.”

O plano golpista não se realizou devido à ausência de consenso entre os militares. O brigadeiro afirmou que a tentativa não teve sucesso porque “não contou com a adesão unânime das Forças Armadas”.

‘Melancia’ Em resposta a questionamentos sobre possíveis ataques após se opor a uma proposta golpista, o ex-comandante da FAB afirmou que ainda é referido como ‘melancia’. Ele compartilhou que continua a ser alvo de ofensas diárias na plataforma X, assim como outros membros das Forças Armadas, e que chegou a desativar seu perfil. O militar acrescentou que sua família também enfrentou agressões, mas ele reafirmou que sua posição permanece inalterada(Foto: FAB / Reprodução)

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