O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), chamou a atenção na manhã desta segunda-feira (19) do general Marco Antônio Freire Gomes, que foi o comandante do Exército, enquanto acontecia o depoimento de testemunhas no caso referente à tentativa de golpe de Estado.
Moraes afirmou ter notado inconsistências nas declarações de Freire Gomes ao STF em comparação às que ele forneceu à Polícia Federal.
“Antes de dar uma resposta, reflita cuidadosamente. A testemunha deve sempre revelar a verdade. Se ela mentiu para a polícia, precisa admitir essa mentira. Não pode agora no STF afirmar que não tinha conhecimento… Ou o senhor alterou a verdade na polícia ou está fazendo isso aqui”, afirmou o ministro.
Moraes destacou que Freire Gomes, em depoimento à Polícia Federal, mencionou ter participado de uma reunião no final de 2022, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro discursava sobre um golpe de Estado. De acordo com Moraes, Freire Gomes informou às autoridades que o almirante Garnier Santos, então chefe da Marinha, havia se mostrado favorável a esses planos golpistas.
Durante seu testemunho no STF nesta segunda-feira, Freire Gomes declarou que não observou qualquer “conspiração” por parte de Garnier.
“Minha atenção estava voltada para a importância de ser honesto com o presidente sobre nossas opiniões. O brigadeiro também se opôs a qualquer sugestão naquele instante. Lembro-me de ter sido bastante claro, e, na ocasião, o ministro da defesa ficou em silêncio, enquanto o almirante Garnier apenas expressou respeito pelo comandante das forças armadas. Não considerei isso como um tipo de conluio,” afirmou o general na presença de Moras.
Os documentos da Polícia Federal indicam que, em março de 2024, Freire Gomes informou:
“O depoente [Freire Gomes] e o Brigadeiro Baptista Junior, da Aeronáutica, expressaram firmemente suas discordâncias em relação ao que foi apresentado. Eles destacaram que não havia fundamentação legal para agir de qualquer maneira e, conforme suas lembranças, acredita-se que o Almirante Garnier teria se oferecido para ajudar o Presidente da República”, registrou a PF.
O STF inicia a coleta de depoimentos das testemunhas de acusação e defesa no processo sobre o golpe.
Moraes enfatizou que o general, ao atuar como testemunha, não deve fornecer relatos conflitantes a respeito dos eventos e informou sobre as repercussões de falsificar informações durante o testemunho.
“Ou o senhor forneceu informações falsas à polícia ou está distorcendo a verdade aqui no STF”, enfatizou Moraes.
Na segunda-feira, durante seu depoimento como testemunha ao STF, Freire Gomes declarou que havia advertido Bolsonaro acerca dos perigos de operar além dos limites legais.
“A imprensa chegou a afirmar que eu prendi o presidente, o que não ocorreu“, afirmou Freire Gomes.
Ele esclareceu que, em diálogos com outros líderes militares, ressaltou que qualquer atividade que fosse contra o processo eleitoral seria considerada como uma atuação à margem da lei. (Foto: Romério Cunha/VPR.)