A humanidade acaba de perder uma extraordinária liderança política.
Faleceu aos 89 anos o ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, informou nesta terça-feira (13) o presidente do país, Yamandu Orsi, nas redes sociais.
“É com profundo pesar que anunciamos o falecimento do nosso colega Pepe Mujica. Presidente, ativista, líder. Sentiremos muita falta de você, querido velho. Obrigado por tudo o que você nos deu e pelo seu profundo amor pelo seu povo”, escreveu Orsi em seu X.
Um símbolo da esquerda na América do Sul, Mujica passou 14 anos encarcerado e sofreu torturas sob o regime militar de sua nação antes de ser eleito para a presidência.
Ao assumir o cargo, ganhou notoriedade por seu estilo de vida modesto.
Ele governou o país entre 2010 e 2015.
Em abril de 2024, Mujica revelou que havia sido diagnosticado com um tumor no esôfago, informando que o órgão estava “bastante afetado”. Em janeiro, ele comentou que a doença havia se disseminado.
Ele também declarou que sua condição de saúde era “duplamente complicada“, uma vez que lidava com uma doença autoimune há mais de 20 anos, a qual havia impactado seus rins.
Nesta segunda-feira (12), Lucía Topolansky, companheira de Mujica e antiga vice-presidente do Uruguai, declarou que o político encontra-se em fase terminal e recebendo cuidados paliativos.
José Alberto Mujica Cordano veio ao mundo em Montevidéu, no dia 20 de maio de 1935. Na década de 1960, ele se integrou à guerrilha conhecida como Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros. Este grupo se destacou, antes do início da ditadura militar no Uruguai, em 1973, por realizar assaltos a bancos e redistribuir alimentos e dinheiro subtraído entre os menos afortunados.
Enquanto estava envolvido em atividades clandestinas, Mujica foi atingido em quatro ocasiões durante embates com a polícia. Ele conseguiu fugir da prisão duas vezes antes de ser finalmente capturado em 1972.
Preso e torturado
Seu tempo encarcerado durante a ditadura foi caracterizado por sofrimento, além de viver em condições desumanas, passando longas temporadas em isolamento.
Ele era um dos detentos considerados “reféns” pelo regime — e seria executado de forma rápida se os Tupamaros voltassem a agir como guerrilheiros. No total, cumpriu 14 anos de sua vida encarcerado.
No ano de 1985, Mujica foi solto após a implementação de um decreto de anistia. Ingressou na política formal, contribuiu para a criação do partido de esquerda chamado Movimento de Participação Popular (MPP) e foi eleito como deputado em 1994.
Cinco anos mais tarde, ele entrou para o Senado e, em 2005, com a posse de seu colega de partido Tabaré Vázquez (1940–2020) na presidência, foi designado como ministro da Agricultura.
Mandato de Mujica
Mujica foi escolhido como o sucessor de Vázquez e tomou posse como presidente em 2010, permanecendo no cargo até 2015. Durante sua administração, os investimentos sociais aumentaram de 60,9% para 75,5% do total das despesas públicas.
De acordo com sua perspectiva política, o salário mínimo foi elevado em 250%. Em 2012, ele sugeriu a regulamentação do uso e comércio da maconha, que foi efetivamente implementada no país.
Junto de sua esposa, Lucía Topolansky, Mujica se destacou como um líder que levava uma vida modesta: residia em uma chácara nos arredores da cidade e, diariamente, dirigia seu Fusca de 1987 até o palácio presidencial, localizado na Praça Independência.
Após sua saída da Presidência, retornou ao Senado, onde permaneceu até 2020, ano em que se afastou por questões de saúde, durante o surto da Covid-19.
Mujica dedicou os últimos anos de sua vida a cuidar de seu jardim. É dito que ele destinava 90% de sua remuneração como ex-presidente para iniciativas voltadas ao enfrentamento da pobreza.
Por muitos anos, ele se identificou como ateu. Em uma conversa em 2012, resumiu sua visão: “Não sigo uma religião, mas me considero quase panteísta: tenho uma grande admiração pela natureza”. (Foto: APress)