O teatro de máscaras de Putin e Zelenski

Por Henrique Acker –  Com o apoio da administração Trump e sob a ameaça de novas sanções econômicas por parte da União Europeia, Vladimir Putin convocou negociações diretas da Rússia com a Ucrânia, a realizarem-se na Turquia.

Para Putin, seria a retomada das rodadas de negociações interrompidas em 2022, em Istambul, convocadas, na época, por iniciativa do governo turco. Já para Volodimir Zelenski, a negociação de paz estaria condicionada a um cessar-fogo de 30 dias.

Apesar do descontentamento da União Europeia, de fora das conversas de bastidores sobre a guerra da Ucrânia desde a posse de Donald Trump, Putin partiu para a ofensiva diplomática.

 

Putin quer OTAN longe da Rússia

Cada um a seu modo, Putin e Zelenski agem para se credenciar junto a administração Trump. Zelenski abraçou o discurso da cúpula da União Europeia de desconfiança e isolamento da Rússia, e quer a volta do apoio militar e político dos EUA e da OTAN. Daí tentar descredibilizar o inimigo.

Putin quer diminuir a importância da Ucrânia e de Zelenski nas negociações, acenando a Trump com um acordo mais amplo sobre suas fronteiras, que não crie mais problemas e custos econômicos à Casa Branca.

O governo russo não quer apenas debater o conflito ucraniano, mas estabelecer um acordo de paz que lhe assegure tranquilidade nas fronteiras com países da OTAN.

Zelenski, numa condição militar e política inferior a 2022 e bastante fragilizada, procura criar embaraços ao oponente russo, ao reafirmar com prioridade um cessar-fogo de 30 dias. E faz um desafio para que Putin compareça em 15 de maio a Istambul, afirmando que estará lá.

No terreno de guerra, cerca de 20% do território ucraniano está sob domínio russo e as tropas de Moscou já se aproximam do rio Dniepre, que separa o Leste do resto do país.

 

Ator secundário

O acordo com os EUA sobre a exploração dos minerais das chamadas “terras raras” da Ucrânia deu a Zelenski algum fôlego junto à Casa Branca. Afinal, o que Trump queria era uma garantia de que as empresas fornecedoras de armas e equipamentos militares serão ressarcidas pelo investimento que fizeram a pedido de Kiev.

O presidente ucraniano joga para responsabilizar o Kremlin, caso as negociações não avancem. Em certa medida, é o mesmo discurso da cúpula da União Europeia e dos líderes políticos da França, Alemanha e Inglaterra, que veem em Putin e na Rússia uma grande ameaça. Mas Zelenski não pode negar-se a participar das conversas na Turquia.

É evidente que uma trégua neste momento só favorece o lado que está mais debilitado nas frentes de combate. Seria tempo suficiente para analisar a situação, refazer planos, rever objetivos, reorganizar tropas e deslocar equipamentos militares. Assim mesmo, Putin não descarta essa possibilidade, desde que condicionada ao avanço das negociações.

A razão pela qual Vladimir Putin não deve comparecer a Istambul tem muito menos a ver com desinteresse em negociar, mas com o fato de que as negociações entre países sempre foram conduzidas por diplomatas.

E, como é óbvio, só interessa a Putin sentar-se com Trump para firmar um acordo de paz. Neste caso, para Putin, o presidente ucraniano é só um ator secundário. (Fotos: Reprodução)

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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