A Igreja de Francisco em três atos

Por Henrique Acker  –  Durante os 12 anos de seu pontificado, por onde passou nas 47 viagens apostólicas que realizou, o Papa Francisco foi recebido por multidões. As palavras que mais proferiu nessas ocasiões foram reconciliação, periferia e acolhimento.

Três iniciativas marcaram o período em que Jorge Bergoglio esteve à frente da Igreja Católica: a visita à Ilha de Lampedusa (Itália – 2013), o movimento que redundou na chamada “Economia de Francisco” (2019) e a Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa (2023).  (foto acima)

 

A ilha dos mortos “que ninguém chora”

Em 2013, o Papa que colocou os pobres no centro da sua missão visitou a ilha italiana de Lampedusa, abrigo para milhares de imigrantes sobreviventes da travessia do Mar Mediterrâneo. Em oração, pediu um “despertar das consciências” para combater a “globalização da indiferença”.

O Sumo Pontífice quis manter a sobriedade dos atos para “chorar os mortos que ninguém chora”, dos naufrágios de embarcações que transportam imigrantes do Oriente Médio e Norte da África para a Europa.

Na ocasião, apelou a um despertar das consciências para contrariar a “indiferença” para com os imigrantes. “Perdemos o sentido da responsabilidade fraterna e esquecemo-nos de como chorar os mortos no mar”, lamentou.

Doze anos se passaram desde aquele dia e o sonho de uma vida mais digna fez dezenas de milhares de vítimas desde então. Tantas que o Pontífice chegou a se referir ao Mar Mediterrâneo como cemitério. Francisco não cansava de repetir: “Os migrantes não são números, mas pessoas”.

A gestão dos países diretamente atingidos pouco mudou, mas mudou o olhar da Igreja em relação à migração. Francisco criou uma comissão especializada no assunto no Vaticano, que trabalha junto a organizações internacionais defendendo políticas migratórias baseadas em quatro princípios: acolher, proteger, promover e integrar.

O Papa fez discursos e exortações duras, desmascarando as raízes da questão, denunciando as desigualdades e oferecendo soluções. Mas também fez gestos de ternura, indo ao encontro dos imigrantes na fronteira entre México e Estados Unidos, Mianmar e Bangladesh, Moçambique, Sudão do Sul, Iraque, Chipre, Grécia e Polônia.

 

O Papa na visita a Lampedusa

 

Economia para os povos

Em maio de 2015, o Papa Francisco promulgou a encíclica Laudato Si, com base nas linhas centrais da sua exortação apostólica Evangelii Gaudium. O documento identifica as causas estruturais das injustiças da economia mundial e propõe a correção dos modelos de crescimento, que parecem incapazes de garantir o respeito pelo meio ambiente.

“Hoje temos que dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social. Esta economia mata”, advertiu o Papa, no Evangelii Gaudium. A Economia de Francisco  (foto abaixo) foi lançada em 2019 e é inspirada em São Francisco de Assis.

O movimento tem por objetivo repensar o modelo econômico atual, baseado apenas no lucro e na competição, em favor de um modelo solidário e equitativo. O objetivo é promover uma economia mais fraterna, justa, sustentável e ecológica.

A Economia de Francisco baseia-se em 10 princípios:

. Pôr a economia a serviço dos povos – Priorizar o bem-estar humano e a inclusão social acima dos interesses financeiros e corporativos.

. Dizer “não” a uma economia de exclusão – Combater todas as formas de desigualdade e marginalização econômica.

. Construir uma economia inclusiva – Promover oportunidades econômicas para todos, especialmente para os mais vulneráveis.

. Proteger a casa comum – Adotar práticas econômicas que sejam ambientalmente sustentáveis e responsáveis em relação ao meio ambiente.

. Considerar a longo prazo – Buscar soluções de longo prazo que beneficiem as futuras gerações, em vez da busca por lucros imediatos.

. Fomentar a solidariedade e a cooperação – Encorajar a colaboração e a partilha de recursos em vez da competição predatória.

. Reconhecer o valor do trabalho humano – Valorizar o trabalho digno e garantir condições de trabalho justas e decentes.

. Promover a justiça fiscal – Garantir que os sistemas fiscais sejam justos e equitativos, evitando a evasão fiscal.

. Buscar a paz e a justiça social – Promover a paz, a justiça social e a reconciliação em todos os aspectos da vida econômica.

. Amar a nossa economia e a nossa humanidade – Cultivar uma abordagem mais holística da economia, que reconheça a interconexão entre todas as áreas da vida.

 

 

Igreja para “todos, todos, todos”

A frase que marcou o pontificado de Francisco foi cunhada na cerimônia de acolhimento da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em 2023, na cidade de Lisboa. “Na Igreja ninguém está a mais, há espaço para todos.

“Na Igreja, ninguém é excedente, há lugar para todos. Tal como nós somos. Todos nós. E Jesus diz claramente, quando envia os apóstolos a chamar para o banquete do Senhor que o tinha preparado. Ele diz: “Ide e trazei todos: jovens e velhos, sãos e doentes, justos e pecadores”. Todos. Todos. Todos. Na Igreja há lugar para todos. Padre, mas eu sou um miserável, sou uma miserável, há lugar para mim? Há lugar para todos.”

“Repitam comigo. Quero que digam na vossa própria língua: todos, todos, todos”, insistiu o Papa Francisco, num apelo que contagiou a multidão.

“O Senhor não aponta o dedo, mas abre os braços”, foi o recado de Francisco a mais de um milhão de jovens de todas as partes do planeta que participaram da JMJ e aos que ouviram sua mensagem mundo afora.

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

AQUI.    AQUI.    AQUI.    AQUI.

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