Francisco, torcedor do San Lorenzo e admirador do Brasil

O falecimento do papa Francisco, ex-cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, aos 88 anos, toca o coração do mundo e especialmente da Argentina, nação que ele não teve a chance de visitar durante seu pontificado.

Desde que tomou posse no Vaticano em 13 de março de 2013, o Papa era aguardado na sua terra natal, com a qual sempre teve uma forte conexão. Como um típico argentino, ele era de futebol, torcia pelo San Lorenzo e possuía um senso de humor característico de Buenos Aires. Em sua última entrevista, realizada no domingo, uma repórter lhe questionou na Praça São Pedro sobre como ele estava: “Sentado”, respondeu com uma risada. “E quanto à vida, vou levando da melhor forma”.

Ele ocupava o assento da frente do veículo que o conduzia de volta para casa.

Fervoroso observador da complexa política argentina, era um grande fã de Jorge Luis Borges, demonstrando uma solidariedade profunda, com abertura para diferentes crenças. Para ele, a espiritualidade ia além da Igreja católica. Durante seu tempo como bispo, atendia telefonemas de pessoas necessitadas a qualquer momento do dia ou da noite. Além disso, percorria as áreas carentes, onde atualmente se estabelecem as igrejas evangélicas pentecostais – que ainda não possuem a mesma presença que têm no Brasil.

Francisco tinha uma postura crítica em relação às desigualdades sociais, reconhecia e admirava a jornada do presidente Lula e tinha uma compreensão nítida da relevância do Brasil, considerando sua rica história, a grande população católica e os laços espirituais que compartilhava com amigos como Frei Betto. “Nós perdemos o papa dos pobres“, declarou o arcebispo de Buenos Aires, Jorge García Cuerva, na manhã desta segunda-feira.

Durante as manifestações em Buenos Aires, é comum encontrar cartazes afirmando: “o Papa Francisco pertence ao peronismo”. O movimento peronista, fundado mais de oitenta anos, é quase contemporâneo ao próprio Papa Francisco.

No Vaticano, ele foi recebido pelos ex-mandatários Cristina Kirchner, Alberto Fernández e Mauricio Macri.

Com Macri, ficou evidente que ele recebia uma pessoa cujas opiniões não coincidiam com as suas. A imagem do papa, com uma expressão séria, gerou uma onda de memes e discussões na Argentina.

Durante sua campanha para a presidência, Javier Milei afirmou que o papa era o emissário do mal na Terra“. No entanto, com o falecimento do pontífice ocorrido nesta madrugada de segunda-feira, ele decidiu instaurar sete dias de luto nacional na Argentina. Além disso, Milei está se preparando para viajar e estar presente na cerimônia de funeral no Vaticano.

Uma transformação espiritual do presidente famoso por suas ofensas àqueles que não concordam com suas opiniões.

A expectativa mais atual sobre uma possível viagem do papa Francisco à Argentina, pouco antes de sua internação de 38 dias, era que ele poderia chegar à capital do país no segundo semestre deste ano. No entanto, essa visita nunca foi oficialmente confirmada por ele.

Ele esteve no Brasil, onde aconselhou os jovens: “façam ‘lio’ (bagunça).

Passou pelo Paraguai, pelo Chile, pela Bolívia, pelo Peru e pelo México.

Durante seus quinze anos à frente da gestão, ela visitou mais de dez nações na América Latina e no Caribe. Sua trajetória inspirou diversos livros e filmes.

A obra mais nova – “El loco de Dios en el fin del mundo” – foi criada pelo autor espanhol Javier Cercas, membro da Real Academia Espanhola, que esteve presente em diversas aventuras ao longo de suas viagens.

O autor, que não acredita em Deus, foi selecionado pelo próprio papa Francisco, o líder religioso que faleceu em uma segunda-feira de Páscoa. (Foto: Reprodução)

(*) Texto escrito por Marcia Carmo, jornalista residente em Buenos Aires corresponder do 247.

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