Tarifaço de Trump tem cálculos sem fundamento e penaliza mais pobres 

Por Henrique Acker    –   “Nossa visão é que a fórmula na qual a administração (…Trump) se baseou não tem fundamento nem na teoria econômica nem na lei comercial.” É o que diz um estudo dos economistas Kevin Corinth e Stan Veuger, do American Enterprise Institute (AEI), sobre a fórmula usada pelo governo Trump para taxar os produtos importados de 80 países pelos EUA.

“Corrigir o erro da Administração Trump reduziria as tarifas supostamente aplicadas por cada país aos Estados Unidos para cerca de um quarto do seu nível declarado e, como resultado, cortaria as tarifas anunciadas pelo Presidente Trump na quarta-feira na mesma fração, sujeitas ao piso tarifário de 10%”, conclui o estudo da AEI, considerado um instituto conservador.

Alheio às críticas, Donald Trump disse num jantar do Partido Republicano, na terça-feira (8/4/25), que representantes de diversos países têm feito contatos para negociar, após a imposição das tarifas globais. “Esses países estão nos telefonando, beijando minha bunda. Estão doidos para fazer um acordo”, zombou Trump anunciando que os EUA estão ganhando dois bilhões de dólares por dia.

 

União Europeia também perde

Economistas ao redor do mundo alertam que a fórmula divulgada pela Casa Branca não considera a alíquota cobrada pelos países e, sim, o déficit comercial dos EUA em relação a eles.

“O déficit comercial com um determinado país não é determinado apenas por tarifas e barreiras comerciais não tarifárias, mas também por fluxos internacionais de capital, cadeias de suprimentos, vantagem comparativa, geografia, etc.” É a conclusão dos economistas da AEI.

A consequência disto é que a fórmula usada para taxar produtos importados pelos EUA afeta mais fortemente algumas das nações mais pobres do mundo, que vendem, mas não podem comprar muito dos EUA, porque sua população não tem poder aquisitivo para adquirir produtos industrializados, como Iphones e automóveis.

Da lista de 80 países atingidos pelas novas tarifas de importação dos EUA, os 20 com taxas mais elevadas – acima de 35% – são pobres ou muito pobres. Lesoto (50%), Camboja (49%), Madagascar (47%), Vietnam (46%), Bangladesh e Botsuana (37%) e Tailândia (36%) tiveram as taxas mais altas impostas pela administração Trump.

Para a União Europeia, a fórmula de Trump produziu uma tarifa punitiva de 20%, quatro vezes mais que os 5% calculados pela taxa média da EU, de acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC).

 

 

Um negócio “da China”

Com o cálculo feito dessa forma, quanto maior o déficit comercial dos EUA com um determinado país, maior a tarifa. A conclusão é do economista Pedro Rossi, professor do Instituto de Economia da Unicamp.

É o caso do comércio com a China, que vendeu US$ 438,9 bilhões para os EUA e comprou US$ 143,5 bilhões em 2024, segundo dados do US Census Bureau.

“Trump falou como se a China cobrasse 67% de tarifas dos EUA, o que não é verdade. Na tabela, havia uma informação que dizia que o cálculo considerava manipulação cambial e barreiras não tarifárias, mas o cálculo mostra que os valores são determinados em função do déficit comercial dos EUA com esses países”, resume o professor Rossi.

 

Bolsas em nova baixa

Se as tarifas impostas por Trump a 80 países forem confirmadas e mantidas, sem que esses países respondam com as mesmas taxas de importação dos EUA, os produtos estadunidenses terão preços muito mais baratos em todo o mundo.

A China já impôs nova tarifa de importação de 84% aos produtos dos EUA, enquanto a União Europeia anunciou a taxação de 25% sobre soja, aço, aves, arroz, milho, plásticos, madeira, nozes, frutas, entre outros produtos.

As bolsas de valores voltaram a amargar quedas em todo o mundo. Na Ásia as perdas não refletiram o anúncio da China, mas caíram entre 1,5% e 1,8%. Na Europa, a média de perdas ficou entre 2% e 3%. O desempenho negativo atingiu a maioria das grandes empresas europeias, como a Airbus (-4,58%), Stellantis (-3,52%), Philips (-4,18%) e Bayer (-4,36%).

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

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