Marcos Coimbra: “instituições financeiras não fazem pesquisas eleitorais por espírito público”

Marcos Coimbra, sociólogo e cientista político que lidera o Instituto Vox Populi, manifestou sua forte desaprovação em relação à utilização política de pesquisas eleitorais financiadas por bancos. Ele ressaltou que esses estudos não são realizados com a intenção de servir ao bem comum, mas sim para atender aos interesses particulares de conglomerados econômicos e veículos de comunicação que desejam impactar a discussão política.

“É improvável que possamos considerar isso como uma manifestação de altruísmo ou de compromisso social por parte das instituições financeiras que realizam esse tipo de pesquisa e a divulgam amplamente”, disse Coimbra ao se referir ao estudo publicado pelo Banco Genial, que ganhou atenção significativa da mídia. Segundo o cientista político, essas informações têm sido utilizadas para sustentar uma narrativa de deslegitimação do governo Lula, em uma aliança entre o setor financeiro, a imprensa convencional e grupos da extrema direita.

Coimbra notou que há uma tendência frequente de interpretar pesquisas sobre a avaliação do governo como uma previsão do comportamento eleitoral da população. No entanto, segundo ele, esses resultados pouco revelam sobre o que realmente ocorrerá nas votações. “A ligação ou a separação entre a avaliação e o voto pode ser extremamente relevante. Lula teve 60% de intenção de voto no final de 2021, mas saiu do primeiro turno com apenas seis pontos de vantagem. Por outro lado, Bolsonaro, que tinha 30% naquela época, chegou ao segundo turno com 48,5% dos votos”, destacou. Para ele, o exemplo de Jair Bolsonaro é esclarecedor: apesar da forte reprovação em relação à sua administração durante a pandemia, o ex-presidente quase conquistou a vitória nas eleições.

Coimbra também ressaltou a divergência entre o perfil verdadeiro do eleitor e as amostras utilizadas nas pesquisas. Segundo ele, há um desinteresse generalizado da população em relação à política, o que prejudica a representatividade dos resultados. “Mais de 50% da população adulta do Brasil não consegue responder corretamente a perguntas simples sobre política, como o nome do vice-presidente ou do presidente da Câmara. Como essa pessoa pode oferecer uma avaliação qualificada sobre a gestão?”, indagou. Ele argumenta que as amostras estatísticas são construídas com base em critérios simplificados, como nível educacional e renda, mas não conseguem capturar de forma precisa o comportamento e as motivações dos eleitores.

Coimbra também criticou a maneira como as pesquisas são divulgadas pela mídia convencional, percebendo nesses atos uma tentativa de gerar uma atmosfera de crise em relação ao governo. “A pesquisa da Genial Quest dominou a cobertura nos principais veículos da imprensa corporativa, recebendo ênfase, menções em subtítulos e títulos tendenciosos. Há uma estratégia evidente para maximizar o uso dessas pesquisas na construção de narrativas”, afirmou. Para ele, o presidente Lula está ciente desse jogo político e adota uma postura cética. “Lula está consciente de que, nesta fase, as pesquisas têm pouco significado. Ele possui uma série de experiências que o capacitam a lidar com cautela com o alvoroço que esses grupos econômicos provocam.”

Coimbra defendeu a realização de pesquisas internas pelos governos como um meio de avaliar a gestão, mas ressaltou que é um equívoco utilizar esses dados para análises eleitorais. “O governo realiza pesquisas para se autoavaliar, não quer ser pego de surpresa três anos depois. Compreender como a gestão está sendo percebida faz parte do processo”, disse. Segundo ele, a questão essencial que deve ser abordada em pesquisas políticas não é sobre a aprovação de políticas específicas, mas sim sobre a disposição do eleitor em apoiar um determinado candidato. “A pergunta mais relevante é: você motivos para desejar que essa pessoa seja o presidente da República? Você votaria nela?”

O especialista em ciência política destacou que a luta dos governos para conseguir avaliações favoráveis é um fenômeno observado em todo o mundo. Baseando-se em estatísticas globais, ele mencionou que, entre os 25 países democráticos mais significativos, apenas três apresentam opiniões predominantemente positivas sobre suas administrações. “Nos demais quase 20, as avaliações são desfavoráveis. Isso indica a existência de um fenômeno que vai além de partidos e ideologias, impactando líderes de esquerda, centro e direita”, afirmou.

Marcos Coimbra reduziu a possibilidade de que Jair Bolsonaro se mostre novamente competitivo em uma futura eleição presidencial. De acordo com ele, a viabilidade eleitoral do ex-presidente em 2022 advinha do fato de estar no poder e ter acesso à estrutura do governo. “A única razão que fez Bolsonaro ser competitivo foi a posição que ocupava: ele estava no Palácio do Planalto. Precisava aumentar o Bolsa Família? Conseguia. Precisava oferecer verba a taxistas? Tinha essa capacidade. Isso a direita não vai ter em 2026, pois não estará no governo”.  (Foto: Arquivo Pessoal)

Relacionados

plugins premium WordPress