Identificar o autismo na idade adulta representa um desafio para muitas pessoas que, por longos períodos, não conseguiram entender suas particularidades e dificuldades. O reconhecimento do autismo nessa fase da vida é um processo que exige autoconhecimento, avaliação por especialistas e aceitação. Infelizmente, muitos ainda recebem o diagnóstico de forma tardia, o que pode resultar em consequências emocionais, sociais e funcionais significativas em suas vidas.
O reconhecimento tardio do autismo na idade adulta resulta de várias razões, sendo a mais significativa a falta de compreensão tanto da sociedade quanto dos profissionais de saúde em relação ao espectro autista. Por muito tempo, pensava-se que o autismo se manifestava somente na infância e que suas particularidades eram perceptíveis apenas através de comportamentos extremos, como a total ausência de fala ou ações repetitivas claras.
A falta de entendimento sobre o autismo em adultos contribuiu para um estigma que vincula o transtorno a disfunções graves e incapacitantes, ignorando as diferentes nuances e variações presentes no espectro. Essa falta de conhecimento levou à desconsideração de sinais discretos que, frequentemente, são subestimados ou erroneamente entendidos como problemas emocionais ou características de personalidade.
A discriminação e a ausência de formação apropriada entre os profissionais de saúde complicam o processo de diagnóstico. Diversos adultos autistas experimentam numerosas consultas médicas e sessões de terapia ao longo de muitos anos sem obter o diagnóstico correto, lidando com desânimo e a ausência de uma orientação clara para um tratamento eficaz.
Diagnóstico tardio
Identificar o autismo na idade adulta pode ser um marco libertador para diversas pessoas, embora também apresente desafios emocionais. Indivíduos que obtêm esse diagnóstico nessa etapa da vida frequentemente expressam sensações de alívio, pois finalmente conseguem entender suas dificuldades e comportamentos que anteriormente eram vistos como problemáticos ou indesejáveis socialmente.
Por sua vez, um diagnóstico realizado tardiamente pode acarretar angústia emocional, especialmente quando o indivíduo percebe que passou longos anos lidando com dificuldades sem a assistência adequada. Problemas como depressão, ansiedade e baixa autoconfiança são frequentes em adultos autistas que não foram identificados durante a infância. Ademais, a ausência de um diagnóstico precoce prejudica a inclusão social e a adaptação em contextos educacionais e de trabalho. Muitos adultos autistas mencionam ter dificuldades em manter empregos, estabelecer relacionamentos e se envolver em atividades sociais, devido à falta de compreensão e suporte apropriados.
Sinais do TEA na fase adulta
Reconhecer o autismo na fase adulta demanda uma análise cuidadosa de diversos indícios que podem não ser facilmente perceptíveis, mas que afetam a qualidade de vida. Entre os principais sinais estão:
- Desafios na compreensão de sinais faciais, entonação da fala e comunicação não verbal.
- Tendência a seguir horários fixos e desafios para enfrentar alterações imprevistas;
- Foco intenso em áreas de interesse particular, frequentemente exploradas com profunda dedicação;
- Alteração na percepção de estímulos sensoriais, que pode ser intensificada ou reduzida (como luzes, sons e texturas);
- Desafios para começar e sustentar interações sociais e românticas;
- Transtorno de ansiedade social profundo e a necessidade de momentos de solitude para reenergizar.
Identificar esses sintomas é fundamental para garantir que o diagnóstico seja feito corretamente. A assistência de um profissional qualificado é vital para uma análise abrangente e para a orientação adequada do tratamento e do apoio requeridos. (Foto: Freepik)
*Texto escrito pela terapeuta ocupacional Silvia Neri Marinho (Crefito 3 14036-TO), especialista em Análise do Comportamento Aplicada, Co-founder da Clínica Formare e membro do Brazil Health
