Crise e divisão: eleitorado pode levar Alemanha a um governo instável

Por Henrique Acker     –   A única certeza da eleição alemã de domingo, 23 de fevereiro, é que nenhum partido terá maioria de votos dos cerca de 53 milhões de eleitores. A dúvida é se será possível formar uma coligação de governo com dois ou mais partidos.

De acordo com as últimas sondagens, divulgadas na sexta-feira (21/2), a coligação de direita tradicional CDU/CSU teria 29% dos votos e a AfD, de extrema-direita, chegaria a 20%, obtendo a segunda maior bancada do parlamento. O SPD, de centro-esquerda, teria 16% dos votos e os Verdes em torno de 10%.

Os Liberais (FDP) correm o risco de não atingir o coeficiente eleitoral mínimo (5% dos votos) para obter representação no parlamento. O mesmo acontece com os dois partidos de esquerda, o Die Linke e o BSW.

 

Governos frágeis por toda a Europa

Os três maiores partidos negam qualquer possibilidade de coligação governamental com a AfD, de extrema-direita, mas Olaf Scholtz também rejeita uma aliança com partidos de esquerda. No entanto, se as previsões das pesquisas eleitorais se confirmarem nas urnas, será difícil ignorar a AfD e sua política.

Por toda a Europa, a crise econômica e o crescimento de partidos neofascistas nos últimos anos enfraquecem a direita tradicional, levando à formação de governos frágeis e instáveis. É o que se verifica nos resultados mais recentes nas eleições na França, Portugal, Holanda e Áustria.

A eleição antecipada na Alemanha, provocada por um voto de desconfiança aprovado no parlamento contra o atual governo do chanceler Olaf Scholtz (SPD), foi marcada pela crise econômica que o país atravessa há dois anos.

 

Economia em crise

A burocracia, o aumento dos custos da energia com a guerra da Ucrânia e uma indústria automobilística que luta para afirmar os veículos elétricos e sofre a concorrência das empresas chinesas, fizeram com que a economia alemã recuasse durante dois anos consecutivos.

Esta é apenas a segunda vez, desde 1950, que o PIB alemão cai dois anos seguidos: −0,3% em 2023 e −0,2% em 2024. Entre 2013 e 2023, o PIB do país cresceu, em média, 1,1% ao ano, mostram as estatísticas. Para 2025, as perspectivas também não são as melhores. O Banco Central Alemão prevê um crescimento econômico de apenas 0,2%.

O custo da alimentação na Alemanha aumentou 2,84% em outubro de 2024 em relação ao mesmo mês do ano anterior. A inflação dos alimentos atingiu um recorde histórico de 21,20% por cento em março de 2023.

 

Desemprego em alta

A taxa de desemprego na Alemanha atingiu o seu nível mais elevado desde fevereiro de 2015 no início deste ano, de acordo com novos dados da Agência Federal de Emprego.

De dezembro a janeiro, o número de pessoas sem trabalho aumentou em 11.000, numa base ajustada sazonalmente.

Em comparação com o mesmo mês do ano passado, o número de indivíduos desempregados aumentou em 187.000 – elevando o total para 2,993 milhões.

A taxa de desemprego subiu para 6,4%, mais 0,4 pontos percentuais do que no mês anterior.

 

Composição atual do Parlamento alemão

 

Imigração vira bode-expiatório

Cerca de 25 milhões de imigrantes vivem na Alemanha, dos quais 13 milhões são estrangeiros e 12 milhões são imigrantes que já possuem cidadania ou passaporte alemão.

Dois ataques mortais nas cidades de Magdeburgo e Aschaffenburg, em que os suspeitos eram oriundos da Arábia Saudita e do Afeganistão e aguardavam a aceitação de seu pedido de asilo no país, alimentaram a polêmica sobre migração e segurança.

O candidato da CDU, Friederich Merz, aproveitou para endurecer o discurso e até recebeu o apoio da AfD no Parlamento a uma lei de imigração mais rígida. Outros partidos de centro e conservadores, apesar de não apoiarem a proposta – que acabou vetada – também prometem um endurecimento no trato com os imigrantes.

 

Salários mais baixos

A Alemanha é o segundo maior produtor de veículos elétricos do mundo e a falta de clareza sobre o futuro dos veículos a gasolina e a óleo diesel levou os líderes da indústria a exigir políticas consistentes por parte do governo.

Das 120 mil pessoas que vivem na cidade de Wolfsburg, mais de 60 mil trabalham para a Volkswagen. Jean-Jerôme Ahiagba é um dos funcionários da Volks e confirma que a redução dos horários de trabalho já atingiu seu salário. Seu depoimento ao portal DW é contundente.

“Já não trabalhamos como antes. O salário que ganhava antes da guerra (da Ucrânia) ou antes da crise mudou. A economia transformou realmente os nossos bolsos e a nossa vida familiar”, confirma Ahiagba.

 

Esquerda dividida

O partido Die Linke (Esquerda) escolheu a taxação de impostos sobre os ricos e a moradia a preços acessíveis como principais pontos da sua campanha. A polarização com a extrema-direita em relação à imigração e o uso das redes sociais fazem com que o partido tenha esperança de se manter no Parlamento.

Já a Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), partido de esquerda e com posicionamento nacionalista, teve um bom desempenho nas eleições europeias de junho e nas estaduais de setembro. No entanto, sua campanha nacional não obteve maior impacto sobre o eleitorado.

Na imagem destacada, manifestação em Hamburg contra a extrema-direita (Fotos: Reprodução)

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

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