(*) Glauco Alexander Lima – Hoje as pessoas vivem no celular. Diante dessa constatação, fica a grande questão: como conseguir permissão para entrar nessa casa?
É a cada vez mais difícil disputa pela atenção. A luta por audiência. E a coisa fica muito mais complicada para quem precisa falar de política, governo, eleições , ideologias, nesse turbilhão de conteúdos surgindo toda hora nas redes socais web e nos aplicativos de mensagem.
É uma batalha épica pela atenção, travada em meio a um mar revolto de conteúdo nas redes sociais e nos aplicativos de mensagem, onde até mesmo as correntes mais relevantes podem ser submersas na enxurrada de informações triviais e rasas.
A persuasão, esse ato sagrado da comunicação, seja para vender um apartamento ou uma ideia política, exige a conquista e a manutenção da atenção do público em um cenário agora saturado de distrações.
Agravado pelos algoritmos
E que batalha árdua é essa, onde a propaganda se mistura com vídeos virais, memes efêmeros e notícias fugazes, numa arena onde a profundidade é muitas vezes relegada ao esquecimento em prol da superficialidade. Tudo agravado pelos algoritmos das big techs , que conduzem esse mundo como deuses do destino de quem deve viver e de quem deve sumir.
Para os comunicadores ligados a governos, políticos e partidos, o desafio é ainda maior. Nesse turbilhão informacional, onde a lacração muitas vezes se sobrepõe ao raciocínio, vender um ideário político ou uma plataforma de gestão torna-se uma tarefa quase insana. É a tempestade perfeita: estímulos em profusão, ansiedades exacerbadas, algoritmos, déficits de atenção amplificados, todos contribuindo para uma atmosfera de apatia e desencanto generalizado.
Isso é mundial! E no Brasil, esse colosso digital e desigual , o vendaval informacional ganha uma complexidade ainda mais desafiante. O país, onde a população passa cada vez mais horas imersa nos recônditos digitais, testemunha uma verdadeira revolução na forma como as pessoas se comunicam e participam da política. A ascensão do paradigma “muitos para muitos” redefine as relações de poder na esfera comunicativa, conferindo voz às margens e desafiando as estruturas de controle tradicionais.
Revisionismos conservadores
Além disso, somos testemunhas de mudanças no tecido mental do país, com a ascensão de uma visão individual, neopentecostal e superficial sobre o mundo e revisionismos conservadores sobre as conquistas sociais do século passado. Valores democráticos, direitos trabalhistas, regramento ambiental, a ciência, a inclusão social — tudo está em xeque, num embate e numa confusão entre o real e as teorias conspiratórias.
Mas como penetrar nesse mundo, onde cada cidadão vive em seu próprio universo digital? A resposta reside em conquistar permissão para contar nossa história. E para comunicação governamental do século XXI, não há outro caminho além de priorizar a prestação de serviços ao cidadão, utilizando a tecnologia de ponta para estabelecer pontes digitais entre a gestão pública e os anseios populares.
Assim, a comunicação se torna uma jornada, que começa na resolução de um problema da pessoa e não apenas do governo ou do governante. Uma abertura para uma conversa contínua, onde a prestação de serviços é o primeiro passo rumo à construção de uma relação de confiança.
E é dessa relação que brotam os anônimos ativistas favoráveis, os disseminadores entusiastas de nossa causa nos grupos da família e nos grupos do futebol de final de semana, transformando contatos em aliados, em uma luta conjunta pela defesa de nossos propósitos.
Núcleo de produção
Assim, nesses meandros da comunicação contemporânea, o marqueteiro mais eficaz emerge como uma figura inesperada: a pessoa comum, anônima, cuja influência molda os rumos das opiniões, online e offline, em consonância com nossas causas.
Mesmo aqueles que não detêm o poder político algum, podem erguer suas bandeiras, testemunhar benefícios, criar movimentos e mobilizações que ressoam aspirações e desejos muitas vezes invisíveis. E o fazem quando se sentem notados, nutridos por conteúdos que prestam serviços e não apenas divulgam agenda e feitos, mobilizando pessoas para superar desafios, numa jornada nova, quente e ativa no cotidiano.
Portanto, é necessário escolher com cuidado nossa abordagem, conectar com pessoas através de forma rica e valiosa para a pessoa, ter um núcleo de produção de conteúdos criados a partir de informações geradas por dados, padrões e hábitos desses diálogos de prestação de serviços nos aplicativos de mensagem. Dados que podem e devem até aperfeiçoar a política pública e o discurso de governo.
Somente através dessa relação e dessa nutrição, vamos transformar contatos em ativistas, aliados na busca por metas coletivas, onde a comunicação se torna a ponte e não muro. Não é fácil, é trabalhoso, o tempo é insumo, exige outro modelo mental de fazer comunicação, mas diante do mundo atual, é o único caminho.
(*) Glauco Alexander Lima– Operário do setor de comunicação.