União Europeia cada vez mais subordinada a Washington

Henrique Acker  –  Sob pressão do governo dos EUA, uma suposta ameaça de novos conflitos com Moscou e a perda de terreno no mercado internacional para a China, a União Europeia move-se como um barco sem rumo. Na política, a extrema-direita avança, apontando o dedo para os imigrantes.

A aliança de direita que governa o parlamento europeu sustenta um grupo de dirigentes que se omite frente aos ataques de Donald Trump, com ameaça de taxação de seus produtos e a exigência de 5% dos orçamentos dos países europeus para sustentar a OTAN. Trump já deixou claro sua intenção de vender segurança à UE.

A queda das economias da Alemanha e da França, que acarreta a perda de mercados, fechamento de empresas e aumento do desemprego, torna mais frágil a já cambaleante economia europeia. É impossível resistir e conter a entrada de produtos da China na Europa, sobretudo automóveis e eletrodomésticos.

Resta à cúpula da UE ressuscitar as supostas ameaças da Rússia, sobretudo depois da invasão da Ucrânia. Putin é visto como o maior inimigo da Europa. A UE lidera a doação de apoios financeiros à Kiev e prepara-se para impor o 16º pacote de sanções econômicas a Moscou.

 

Calados diante dos disparates de Trump

De Washington, Trump dirige um governo errático, um misto de ficção e realidade. Seu melhor garoto-propaganda, o multimilionário Elon Musk, ataca o governo trabalhista britânico e apoia o partido neonazista na Alemanha “contra a centralização de Bruxelas”.

Apesar da flagrante intromissão de um representante do governo dos EUA no processo eleitoral de um país membro e na própria União Europeia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, não se pronunciou a respeito.

Von der Leyen também se calou diante da ameaça de Donald Trump em “tomar a Groenlândia”, hoje território sob administração da Dinamarca. À primeira-ministra social-democrata Mette Frederiksen, Trump disse estar “determinado a tomar” a Groenlândia, depois de ouvir que o território não está à venda. Em declaração recente, Trump afirmou que se trata da segurança do “mundo livre”.

O episódio da Groenlândia seria grave por si só, mas torna-se mais escandaloso quando a própria Frederiksen pede aos parceiros da Europa mais discrição para tratar da questão, porque os EUA são considerados o principal aliado na Dinamarca.

 

Fixação em Putin 

Enquanto Elon Musk declarava apoio aos neonazistas alemães, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, preocupava-se em condenar o regime da Bielorrússia, que sequer é membro da UE. Metsola enviou mensagem ao povo bielorrusso, afirmando que “a ditadura vai acabar”, em referência à eleição presidencial, realizada em 26 de janeiro.

“As eleições fraudulentas que se realizaram hoje na Bielorrússia não foram nem livres, nem justas”, declarou recentemente a chefe da política externa da UE, Kaja Kallas.

No entanto, o atual presidente bielorrusso Alexander Lukashenco, que há 30 anos governa o país e é aliado de Vladimir Putin, foi reeleito com 88% dos votos. Lukaschenco também avisou que não está preocupado com Bruxelas. Esse comportamento é o mesmo do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, cujo país pertence à UE.

 

Preparar para a guerra

Mas o que faz a cúpula da UE ser tão severa com a Rússia de Putin e omissa frente às ameaças diretas de Donald Trump? O plano de recuperação econômica proposto por Mario Draghi (ex-primeiro-ministro italiano) para a União Europeia dá à indústria de armas papel estratégico. No entanto, os efeitos desse plano só poderão ser sentidos daqui a alguns anos. Ou seja, a UE continuará dependente dos EUA para sua defesa.

Ursula von der Leyen, Roberta Metsola, Kaja Kallas e Christine Lagarde são as principais dirigentes da União Europeia. Todas pertencem a partidos conservadores, da direita tradicional. Sua política sempre esteve alinhada com o capital financeiro, através do Banco Central Europeu, e subordinada à agenda política e militar dos EUA.

Seu principal aliado é o ex-primeiro-ministro holandês Mark Rutte, atual secretário-geral da OTAN. Rutte dirigiu um governo em aliança com a extrema-direita em seu país, e hoje peregrina pela Europa a exigir 5% do orçamento de cada estado-membro da UE para a segurança (armas e equipamentos militares). Trump e a indústria armamentista estadunidense agradecem.

Rutte repete todos os dias que a Europa deve se preparar para a guerra com a Rússia. Daí por que se transformou a “ameaça” russa em política determinante para a UE, principalmente depois da invasão da Ucrânia.

 

Extrema-direita cresce e agradece

Quem mais cresce na vida política europeia são os partidos de extrema-direita. E cresce porque a direita tradicional não tem respostas para a crise que se avoluma e vai acumulando os principais problemas da população europeia: moradia, piora dos serviços públicos, trabalho precário, aposentadorias e salários cada vez mais baixos, etc.

Para tentar conter o avanço da extrema-direita, os partidos da direita tradicional europeia têm assumido bandeiras políticas cada vez mais extremadas, como as restrições à imigração.

A maior prova disso são os elogios rasgados de Von der Leyen à primeira-ministra Giorgia Meloni, que implantou um sistema rigoroso para impedir a entrada de imigrantes africanos na Itália. Meloni é líder de um dos três grupos da extrema-direita no Parlamento Europeu e vista como a dirigente mais próxima de Donald Trump.

Foi o que se viu também com a moção apresentada recentemente pela CDU (direita tradicional) no parlamento alemão, com o apoio dos neonazistas da AfD. O objetivo é não perder votos para o partido de extrema-direita na eleição de 25 de fevereiro.

 

Divisões no Parlamento Europeu

A extrema-direita europeia fixou sua política no combate à imigração, localizando no imigrante uma espécie de ser indesejável que usurparia empregos, usando os serviços públicos e aumentando a incidência de crimes na UE.

É evidente que isso não se sustenta em números, mas serve ao propósito dos que querem um bode expiatório para oferecer uma solução que restrinja as liberdades na Europa.

No Parlamento Europeu, a extrema-direita se divide (*). Um setor prefere se alinhar a Washington, apoiando a OTAN e aliando-se à direita tradicional. Deste grupo faz parte a senhora Giorgia Meloni (Itália), recebida por Trump antes de sua posse.

Outro alia-se a Moscou, apostando em regimes políticos mais fechados e numa boa relação econômica e comercial com a Rússia para sustentar suas economias. Esse grupo é capitaneado por Viktor Orbán (Hungria).

Há ainda um setor mais extremado, que não se alinha nem com a Rússia, nem com os EUA. Entre eles, o AfD, partido neonazista da Alemanha.

 

(*) Grupos partidários de extrema-direita no Parlamento Europeu:

. Patriotas pela Europa (84 membros)

. Conservadores e Reformistas Europeus (78 elementos)

. Europa das Nações Soberanas (28 membros)

 

Na imagem, Ursula von der Leyen, Roberta Metsola e Kaja Kallas, todas de partidos conservadores, dirigem a Uniao Europeia

Por Henrique Acker (correspondente internacional

 

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Fontes:

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