Por Henrique Acker – O ano de 2024 foi o mais quente da Era Industrial, é a conclusão do estudo do Copernicus Climate Change Service (C3S), órgão da União Europeia que monitora as mudanças climáticas no planeta. A conclusão reforça outro estudo – “Estado do Clima” – da Organização Meteorológica Mundial, sobre os primeiros nove meses de 2024.
O C3S documentou médias de 1,6 °C acima do período 1850-1900, e 0,12 °C acima de 2023, ano mais quente da série histórica até então, com 1,47 °C além da média da década de referência 1991-2000.
“Os anos de 2024 e 2023 parecem excepcionalmente quentes devido à aceleração do aquecimento climático induzido pelo homem e uma fase incomumente quente de variabilidade oceânica, com anomalias de temperatura média diária global da superfície do mar (SST) sem precedentes em várias regiões”. É uma das conclusões do estudo.
Oxfam denuncia mais ricos
De acordo com o Comitê de Oxford para Alívio da Fome (Oxfam), o 1% mais rico da população mundial consome sua parcela do orçamento global de carbono — a quantidade máxima de CO2 que pode ser emitida sem ultrapassar o aquecimento de 1,5°C — em apenas 10 dias.
Segunda a Oxfam, o grupo mais rico precisaria reduzir suas emissões em 97% até 2030, para limitar o aquecimento global a 1,5°C.
Para Nafkote Dabi, líder de Política de Mudanças Climáticas da Oxfam Internacional, é hora de taxar, reduzir emissões e proibir excessos como jatos particulares e iates de luxo. “Líderes que não agirem estarão escolhendo ser cúmplices dessa crise”, alerta Dabi.
Tragédia no Brasil e no mundo
As tragédias naturais em 2024 tiraram a vida de 11 mil pessoas e custaram US$ 320 bilhões (cerca de R$ 2 trilhões). É o que atesta um levantamento da Munich Re, um dos maiores grupos seguradores do mundo.
O relatório divulgado em 9 de janeiro cita as cheias no Rio Grande do Sul como uma das grandes tragédias climáticas das Américas no ano de 2024. “Chuvas extremas no final de abril e início de maio levaram a inundações severas. Quase todo o estado federal do Rio Grande do Sul foi afetado”, cita o documento.
De acordo com o cientista climático-chefe da seguradora, Tobias Grimm, quanto maior a temperatura, mais vapor de água e energia são liberados na atmosfera. “A máquina climática do nosso planeta está mudando para uma marcha mais alta. Todos pagam o preço pelo agravamento dos extremos climáticos.”
Calamidade e prejuízos
Levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), apresentado em maio de 2024, apontava que, nos últimos dez anos, os desastres climáticos causaram R$ 639 bilhões de prejuízos ao Brasil, sem contar as recentes enchentes no Rio Grande do Sul.
A CNM apontou que 94% das cidades brasileiras foram afetadas pelo menos uma vez por eventos que resultaram em decreto de situação de emergência ou estado de calamidade pública, entre os anos de 2013 e 2023.
Até abril de 2024, foram milhares de decretos de emergência ou calamidade, com 41,8 milhões de pessoas afetadas, sendo 2.667 mortes, 925 mil desabrigados e 4,1 milhões desalojados, causando um prejuízo de R$ 81 bilhões aos cofres públicos.
O número de moradias afetadas por desastres chegou a 2,6 milhões, sendo que desse total, 115 mil habitações foram totalmente destruídas, somando um prejuízo de R$ 36,2 bilhões em habitações.
Ação humana
Apesar das conferências e fóruns internacionais cada vez mais frequentes e concorridos, os alertas de cientistas e da ONU parecem não ter efeito sobre governos e grandes empresas.
Em 2024, incêndios florestais queimaram partes do Pantanal no Brasil e afetaram vários países da América do Sul, enquanto regiões como o Rio Grande do Sul, partes do Sudão, dos Emirados Árabes Unidos e da Espanha foram atingidas por fortes inundações. Ondas de calor atingiram a Europa e a África Ocidental e tempestades tropicais varreram partes dos Estados Unidos e das Filipinas.
Análises do Met Office, da Universidade de East Anglia e do Centro Nacional de Ciência Atmosférica, no Reino Unido, também confirmaram o recorde de temperatura no planeta. Resguardar o limite de 1,5 °C é um dos compromissos-chave do acordo global sobre o clima, fechado em Paris em 2015.
A queima de combustíveis fósseis pelo homem para atividades como calefação, indústria e transporte é o principal fator do aquecimento global, mas fenômenos naturais, como o El Niño, também contribuíram para o aumento das temperaturas nos últimos dois anos, concluíram os cientistas da C3S.
Oceanos mais quentes
A água dos mares em temperatura mais alta reduz a capacidade de absorção de dióxido de carbono da atmosfera. O aumento do derretimento das geleiras nos polos Norte e Sul contribui para elevar o nível do mar. Os oceanos mais aquecidos também afetam o habitat e o comportamento de algumas espécies.
Para a cientista Samantha Burgess, do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF), as temperaturas globais altas, associadas ao recorde global de vapor atmosférico em 2024, provocaram ondas de calor sem precedentes e eventos pluviais pesados, “causando miséria para milhões”.
Rowan Sutton, diretor do Centro Hadley do Met Office, reforça que cada fração de grau centígrado a mais da temperatura global “aumenta o risco de ultrapassar pontos de inflexão com potencial de alterar o mundo, como os colapsos do bioma da Amazônia, ou da calota de gelo da Groenlândia ou da Antártida”.
Alerta da ONU
Em seu discurso de Ano Novo, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, fez um novo alerta às autoridades mundiais. Ele afirmou que o mundo está enfrentando um “colapso climático”.
O objetivo deve ser reduzir pela metade as emissões de gases com efeito estufa até 2030, para impedir que as temperaturas subam mais de 1,5 °C. “O problema é que estamos muito longe desta meta e muitos especialistas são céticos em relação a uma possibilidade real de que o resultado esperado seja alcançado”, reconheceu Guterres.
Segundo o dirigente da ONU, se isso não acontecer, fenômenos climáticos extremos se tornarão mais regulares, com ondas de calor, incêndios florestais, alagamentos, secas e tantos outros desastres naturais ganhando ainda mais força, de acordo com o alerta de cientistas.
Na imagem destacada, centro de Porto Alegre (Fotos: Reprodução)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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Fontes:
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