A introdução das apostas online no Brasil pode ameaçar a continuidade do jogo do bicho, conforme reportado neste domingo (12) pelo jornal norte-americano New York Times.
Uma reportagem afirmou que o Jogo do Bicho aparenta estar enfrentando uma “crise existencial”. De acordo com o periódico, a oferta sem restrições de sorteios e os prêmios significativamente mais altos oferecidos pelas apostas com cota fixa têm levado um número reduzido de brasileiros a investir nesse jogo.
A faixa etária dos participantes do jogo do bicho representa outro desafio. Segundo a reportagem, a maior parte dos apostadores dessa loteria clandestina aparenta ter mais de 50 anos.
Apostadores movimentam cerca de R$ 140 bilhões em apostas anuais no Brasil. De acordo com a matéria, as autoridades brasileiras acreditam que cerca de 25% da população tenha participado de apostas online nos últimos cinco anos, com um gasto médio mensal superior a R$ 20 bilhões nesse segmento.
Uma carioca que foi entrevistada relatou ter perdido aproximadamente R$ 480 mil em um período de dois anos devido ao Fortune Tiger, um jogo de loteria online que é conhecido popularmente como Tigrinho. “É complicado desistir“, disse a comerciante Taiza Costa em entrevista ao jornal.
A crescente popularidade das apostas provocou uma discussão sobre a regulamentação dessa prática no Brasil. A matéria enfatiza a diversidade de jogos acessíveis, abrangendo desde cassinos online até apostas em eventos esportivos, especialmente no futebol. Um estudo realizado em setembro pelo Banco Central revelou que R$ 3 bilhões recebidos pelo Bolsa Família foram utilizados em apostas.
Febre no território brasileiro
“Mais devastador que uma droga, é angustiante“, declara uma jogadora online. Vitória Bittencourt, de 23 anos, perdeu R$ 50 mil de suas economias e atualmente enfrenta uma dívida de R$ 110 mil devido a empréstimos para apostar no Jogo do Tigrinho. No ano de 2024, as apostas online tiveram mais acessos do que sites pornôs. Um estudo realizado pelo portal Aposta Legal Brasil revelou que as páginas relacionadas a jogos atingiram 970 milhões de acessos no Brasil apenas em outubro do ano passado, um aumento de 28% em comparação com a soma de dois dos maiores sites de conteúdo adulto.
Recursos financeiros desviados para jogos online estão afetando o comércio. Segundo a Confederação Nacional do Comércio, as apostas teriam “retirado” R$ 100 bilhões que poderiam ter sido utilizados para a compra de bens varejistas e serviços no ano anterior.
A situação continua a ter repercussões no mundo do futebol. No dia 31 do mês passado, o Ministério da Fazenda publicou uma lista das apostas permitidas a funcionar no Brasil em 2025, mas deixaram de fora as apoiadoras do Corinthians e do Flamengo. Atualmente, os investimentos dessas companhias estão entre as principais fontes de renda dos clubes.
O Supremo Tribunal Federal irá analisar até abril se a operação de apostas no Brasil é legal. Embora tenham sido autorizadas a funcionar em 2018 durante o governo de Michel Temer, a regulamentação esperada não ocorreu durante a gestão de Jair Bolsonaro (2019-2022). Como resultado, o país ainda carece de normas definidas para essa atividade. (Foto: Reprodução)
