O título acima é de um texto assinado pelo jornalista Rodrigo Assis, que o portal Opinião em Pauta reproduz a seguir:
Rodrigo Assis (*) – Quando dezembro chega e as ruas se vestem de luzes, somos convidados a relembrar um aspecto essencial da vida que, no turbilhão do cotidiano, muitas vezes negligenciamos: a presença em família. O Natal, mais do que uma data comercial ou um marco no calendário, é um momento de pausa, reflexão e reencontro – com os outros e conosco mesmos.
A filósofa Hannah Arendt, ao falar sobre a condição humana, destacou que a ação e o discurso são os elementos que nos conectam aos outros e nos tornam plenamente humanos. O Natal, neste sentido, é a oportunidade perfeita para exercermos essa humanidade. Sentar-se à mesa com aqueles que amamos, partilhar histórias, risos e memórias, é um ato que reforça os laços e nos lembra de que, apesar das diferenças, pertencemos uns aos outros.
Os historiadores também têm algo a nos ensinar sobre o espírito natalino. O historiador britânico Eric Hobsbawm, ao estudar as tradições inventadas, apontou como os rituais criam identidades coletivas. O Natal, com suas árvores enfeitadas, presépios e cantos, é um desses rituais que transcendem o tempo e nos ligam a algo maior do que nós mesmos. Ele é tanto uma tradição quanto uma reinvenção contínua, adaptando-se aos contextos de cada família, mas sempre carregado de um simbolismo comum: o amor e a esperança.
O espírito natalino, tão frequentemente associado à bondade e generosidade, é na verdade um convite ao resgate de nossa própria essência. Albert Schweitzer, médico, filósofo e teólogo, dizia que “felicidade é o único bem que se multiplica quando é compartilhado”. É no abraço dado sem pressa, no presente escolhido com carinho, no perdão que concedemos ou recebemos, que o Natal mostra sua verdadeira face. É nesses gestos que aprendemos que a felicidade é, em última análise, um dom coletivo.
E o que seria da magia do Natal sem a convivência familiar? Em um mundo onde a tecnologia nos conecta a milhares de pessoas e, paradoxalmente, nos afasta daqueles mais próximos, reunir-se em torno da mesa natalina é um ato quase revolucionário. É reafirmar que a família, em suas diversas configurações, é o núcleo de nossas histórias. É nela que encontramos refúgio, raízes e, muitas vezes, o impulso para seguir adiante.
Ao vivermos o Natal em família, abraçamos não apenas aqueles que estão fisicamente presentes, mas também as memórias dos que partiram e os sonhos dos que ainda virão. É um momento em que, como dizia o poeta Mario Quintana, “a alma parece sair do corpo para passear nas estrelas”. E essas estrelas são as que acendemos nos olhos daqueles que amamos, lembrando que, no fundo, o Natal é uma celebração da vida – da vida que doamos e recebemos.
Portanto, que neste Natal possamos silenciar as distrações e abrir espaço para a escuta. Que os presentes sejam apenas um reflexo do presente maior: o tempo dedicado ao outro. Que as diferenças sejam colocadas de lado, e que a comunhão nos lembre do que é realmente essencial. E, como nos ensina o espírito natalino, que possamos carregar essa luz não apenas em dezembro, mas em todos os dias do ano. Afinal, o Natal, vivido em sua plenitude, é muito mais do que uma data: é uma ponte que une corações e renova esperanças. (Foto: Reprodução)
(*) Rodrigo Assis é jornalista