Por Henrique Acker – O Primeiro Comando da Capital (PCC) estaria usando clubes de futebol e transferência de jogadores como instrumentos para a lavagem de dinheiro de negócios ilícitos. Foi o que revelou reportagem do Jornal Público, diário de Portugal.
A apuração inclui detalhes sobre financiamentos com origens suspeitas e operações financeiras que levantam questões sobre a sua legalidade. Como consequência das revelações do Público, o Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) decidiu instaurar processos para averiguar “eventuais ilícitos” relacionados com lavagem de dinheiro no futebol português, informa a FPF em comunicado.
Um relatório divulgado recentemente pelos Serviços de Informação e Segurança (SIS), conhecido como a “secreta” de Portugal, dá conta de que já são aproximadamente mil pessoas ligadas ao PCC atuando no país, inclusive nos estabelecimentos prisionais masculinos e femininos.
Sistema envolvia compra de SAD
De acordo com o Público, “elementos com ligações ao crime organizado tentaram comprar a Sociedade Anônima Desportiva (SAD) do Varzim, sondaram o Felgueiras e o Vilaverdense, e acabaram por se instalar em Fafe”.
Os “elementos” em questão são Ulisses de Souza Jorge, agente de jogadores, e Christiano Lino de Menezes. Os dois propuseram em 2023 a compra da futura SAD do Varzim Sport Club, operação que não foi adiante. Ainda no ano passado, a dupla fez proposta de dois milhões de euros ao Vilaverdense e de 2,5 milhões ao Felgueiras.
Fracassadas as três tentativas, Ulisses e Christiano se associaram ao ex-jogador brasileiro Derlei (Vanderlei Fernandes Silva), que atuou na década de 90 pelo Porto, Benfica e Sporting, e era cotado para estar à frente da futura SAD do Varzim.
Empresário assassinado denunciou esquema
O nome de Ulisses de Souza Jorge está associado às investigações sobre atividades do PCC, a partir de denúncia do empresário Antônio Vinicius Gritzbach, que colaborava com a polícia e foi assassinado recentemente no aeroporto de Guarulhos.
Entre as transações suspeitas denunciadas por Gritzbach está a transferência de Emerson Royal para o Barcelona em 2021, por 14 milhões de euros. Outra foi a de Éder Militão do FC Porto para o Real Madrid, por 50 milhões de euros. Ambas estão sendo investigadas.
O Fafe disputa atualmente a terceira divisão do campeonato português, contando com quatro brasileiros em seu plantel e com a estrutura da UJ – Football Talent — sociedade do brasileiro Ulisses Jorge, sediada em Portugal. O Vilaverdense e o Varzim também participam da Liga 3. O Felgueiras pertence atualmente à Liga 2.
O sítio Transfermarket, que publica dados das agências de jogadores, transferências e valor de mercado dos atletas de futebol, informa que a UJ – Football Talent tem em seu cartel 27 jogadores profissionais, num valor de mercado euqivalente a 63,65 milhões de euros, além de um treinador.
PCC presente em 24 países
Em junho deste ano, uma reportagem do Jornal O Globo revelou que o PCC expandiu suas operações como maior grupo de intermediação na exportação de drogas da América Latina para a Europa e outros continentes. As operações de exportação se dariam a partir do Porto de Santos e outros portos da costa brasileira.
Entre os grupos mafiosos internacionais com os quais o PCC mantém laços estão o clã Šaric, da Sérvia, e a ‘Ndrangheta, da Itália. O faturamento anual da organização é estimado em um bilhão de dólares, sendo 80% desse montante arrecadado a partir do tráfico internacional de drogas. A facção criminosa foi fundada em 1993 com o objetivo de combater a opressão no sistema prisional.
No Brasil, o PCC também lava dinheiro através de atividades lícitas e mantém ligações com o Estado em cidades de São Paulo. Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, preso desde 1999, é a figura central do PCC. Com cerca de 42 mil integrantes, o grupo tem representantes em diversas partes do mundo, incluindo EUA, Europa e Oriente Médio.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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