Eleição nos EUA: entre o conservadorismo e a extrema-direita

Por Henrique Acker    –   Apesar de perder importância econômica nas últimas décadas, a influência política e militar dos EUA ainda tem reflexos em todos os cantos do planeta. A escolha do novo presidente da maior potência mundial cria expectativas nos mercados de capitais, nos blocos econômicos e entre os envolvidos nos conflitos da Ucrânia e do Oriente Médio.

Os próximos dias serão de nervosismo entre conservadores, representados por Kamala Harris, e a extrema-direita, que aposta em Donald Trump. O que está em jogo são interesses pesados, como os do sistema financeiro, da indústria do petróleo, das armas, do tabaco, da diversão, das empresas de tecnologia de ponta (big techs), além dos lobbies pró-Israel e dos cassinos, entre outros grandes doadores de campanha dos dois candidatos. Juntos, eles já gastaram R$ 10,8 bilhões na campanha.

O voto não é obrigatório e espera-se que 160 milhões de eleitores compareçam às urnas. Serão eleitos 538 delegados para um colégio eleitoral que escolherá o novo presidente. Para obter maioria, um candidato precisa de 270 delegados. Sete estados decisivos são disputados com maior atenção:  Michigan (15 delegados), Wisconsin (10), Nevada (6), Arizona (11), Pensilvânia (19), Geórgia (16) e Carolina do Norte (16).

 

Pesquisas apontam empate técnico

As pesquisas indicam empate técnico entre os Republicanos e Democratas nos sete estados-chave, com ligeira vantagem para Trump. Em números absolutos, o empate técnico também é registrado em todas as pesquisas, mas o presidente dos EUA é eleito no Colégio Eleitoral e não pelo voto direto.

O agregador FiveThirtyEight, que compila e publica a média das pesquisas realizadas até agora, mostra Kamala Harris com 48% das intenções de voto, pouco à frente de Donald Trump, que tem 46,7%.

Nos estados-chave, Kamala teria pequena vantagem em Michigan e Wisconsin, enquanto Trump teria leve vantagem nos outros cinco estados, de acordo com as pesquisas do New York Times e do portal FiveThirtyEight.

 

Mais de 70 milhões já votaram

Cerca de 72 milhões de eleitores votaram pelo correio, uma modalidade de antecipação do voto que visa desafogar as assembleias eleitorais no dia da votação (5 de novembro). Cerca de 6,5 milhões de eleitores estão aptos a votar fora do país.

O voto nos EUA não é obrigatório. Daí porque os dois grandes partidos montam equipes para visitar pessoalmente e convencer os eleitores a irem votar. Nas eleições de 2020, cerca de 156 milhões (61%) de eleitores compareceram às urnas.

Apesar de existirem cerca de 2,8 milhões de brasileiros nos EUA, a esmagadora maioria não pode votar, mesmo os que possuem o chamado “green card” (cartão de residente permanente). Apenas os que conseguem a naturalização conquistam o direito ao voto, um processo longo e difícil.

Boston é a cidade com a maior concentração de brasileiros nos EUA — cerca de 420 mil. Em seguida, vêm Atlanta, com 120 mil, e Chicago, com 45 mil.

 

Imigração no centro do debate

Do total de latinos com direito a voto no país, 59% são mexicanos ou mexicano-americanos, 14% são porto-riquenhos, 5% de origem cubana e 22% de outras origens hispânicas, segundo dados de 2016 do instituto Pew.

Trump coloca nas costas dos imigrantes a responsabilidade pela violência e pela perda de postos de trabalho nos EUA. Promete deportar um milhão de imigrantes latinos assim que assumir. Num comício em Nova Iorque, um de seus apoiadores chamou Porto Rico de Ilha de Lixo, o que causou impacto sobre os 32 milhões de pessoas da comunidade hispânica nos EUA.

Harris, ao contrário, tem acenado para uma política mais branda, embora o governo Biden não tenha alterado consideravelmente as restrições à entrada de imigrantes no país. O eleitorado latino já corresponde a 13,3% do total.

 

Reflexos na economia brasileira

Os Estados Unidos são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Isso significa que há um importante fluxo de importação e exportação entre os países. Aço e alumínio são mercadorias fundamentais de exportação brasileira para os EUA.

Protecionismo – Trump tem uma postura mais protecionista, com promessa de elevação de tarifas e uma escalada da guerra comercial contra a China. Kamala adota uma política menos protecionista, o que favorece o avanço do comércio com o Brasil e a entrada de dólares no país.

Exportações e moeda brasileira – Com Trump, as sanções contra a China devem afetar as exportações brasileiras. Quanto menos vendas para o exterior, menor é o volume de dólar entrando no Brasil, o que enfraquece o real frente ao dólar.

Indústria brasileira – Outro aspecto é que quanto maiores as barreiras impostas nos EUA, mais exposto fica o Brasil à entrada de produtos ultrabaratos da China, o que pode prejudicar a indústria brasileira e também impactar nossa balança comercial.

Inflação, juros e “mercado” – A taxa de juros é outra variável importante para a economia brasileira e mundial. Se a inflação nos EUA crescer, a tendência é que o Banco Central dos EUA adote uma taxa de juros mais elevada, visando conter o consumo e deter a inflação. Juros mais altos são tudo que os especuladores querem, o que pode afetar a ciranda financeira brasileira.

 

Repercussões da eleição dos EUA no Mundo 

. Guerra na Ucrânia – Trump já anunciou que pretende negociar o fim da guerra. Alega ter boas relações com Putin e que os EUA estão gastando muito com o conflito. Isso deve ter impacto direto na política de V. Zelensky e a UE, que se prepara para apostar na indústria das armas como carro chefe para sua recuperação econômica.

. Conflito no O. Médio – o governo Netanyahu aposta num triunfo eleitoral de Trump para seguir com carta branca para fazer o que quiser no O. Médio. Por isso, tem desconsiderado as preocupações e alertas do governo Biden quanto à possibilidade de um cessar-fogo em Gaza e no Líbano, com uma saída negociada do conflito.

. China – Trump sempre apontou o dedo para a China, para justificar a política protecionista nos EUA, prometendo barreiras alfandegárias e impostos pesados sobre produtos chineses. Biden também acenou para a taxação de produtos chineses, política que já vem sendo adotada pela UE.

. Comportamento do grande capital – Com Harris, a tendência é que haja uma aposta num misto de confrontos militares – via OTAN e aliados da UE – e diplomacia na defesa dos interesses do capital financeiro. No caso de uma vitória de Trump, o centro da política deverá estar voltado para conter o avanço da China como potência em ascensão, além de estimular o crescimento da extrema-direita no cenário internacional.

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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Fontes:

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