‘Superfungo’ detectado em BH preocupa autoridades sanitárias

Dois novos casos de candida auris foram confirmados na capital, fazendo o total de ocorrências da doença chegar a quatro. Outros 24 casos estão em investigação e são acompanhados pelas autoridades

 

Subiu para quatro o número de pacientes infectados pelo superfungo Candida auris em Belo Horizonte. Segundo informou a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), nesta quarta-feira (16), dois pacientes já receberam alta (um em 20 de setembro, e o outro, em 2 de outubro) e outros dois seguem internados no hospital João XXIII, na região Leste da capital.

Além dos confirmados, há 24 pacientes monitorados na unidade e aguardando os resultados dos exames. Todos os casos são assintomáticos. Até o momento, 39 pacientes já foram testados para o fungo, sendo que dois testaram negativo, mas permanecem internados e outros nove tiveram a infecção descartada e já receberam alta.

Em nota, a SES-MG ressalta que o fungo tem alta transmissibilidade e capacidade de colonizar rapidamente a pele do paciente e o ambiente próximo a ele. Assim, é de fundamental importância a prevenção de contato com casos suspeitos, sendo que esses leitos são mantidos isolados.

Seguindo os protocolos de segurança sanitária em ambiente hospitalar, o hospital João XXIII tomou todas as medidas de controle e manejo necessárias para proteção dos demais pacientes e profissionais da unidade, como higienização das mãos, medidas de precaução de contato (uso de luvas e avental) dos casos suspeitos e testes para detecção de novos casos.

A SES-MG garante ainda que monitora os casos suspeitos de infecção pelo fungo Candida auris desde o ano de 2021, logo após o primeiro caso confirmado no país. Desde então, foram descartados 129 casos no estado.

O infectologista Carlos Starling explica que o superfungo vem sendo investigado há algum tempo pela medicina, mas a sua origem ainda não é sabida. “Se a causa tem a ver com mudanças climáticas, por exemplo. Não se sabe quais fenômenos estão contribuindo para o aparecimento desse fungo”, diz.

Por não apresentar sintomas evidentes, a detecção, esclarece o especialista, acontece de forma ocasional, quando o paciente está dentro do contexto hospitalar, internado, seja qual for o motivo. “Se algum tipo de infecção está sendo investigado, quando existe alguma condição de saúde, o diagnóstico pode acontecer, quando o paciente é submetido a algum exame com coleta de material. Por exemplo, está com dor ao urinar, e faz um exame de urina, ou tirou um cateter, ou está com febre. Dentro de um procedimento normal para investigar a infecção, o fungo aparece”, esclarece Carlos Starling, lembrando que o paciente pode já carregar o fungo mesmo antes de dar entrada na unidade de saúde.

“Pode ficar ali, quieto, sem que ninguém saiba”, complementa. Uma vez identificado o fungo, que, segundo Carlos Starling, causa infecções principalmente em pacientes já debilitados, ou com doenças prévias, o paciente deve permanecer isolado enquanto estiver no hospital.

A transmissão, elucida o infectologista, pode acontecer de pessoa para pessoa, dentro do hospital, principalmente pelas mãos ou contato com objetos contaminados e, dessa forma, a higienização constante das mãos é a forma de prevenção mais eficaz. “O que esse fungo tem de especial é que tem uma alta resistência aos antifúngicos atualmente disponíveis”.

O candida auris não é um componente da microbiota humana, mas está presente no ambiente e é perigoso por ocasionar surtos em estabelecimentos de saúde. É resistente a temperaturas elevadas e a desinfetantes usados em hospitais, o que faz com que fique impregnado no ambiente de maneira importante.

O fungo pode sobreviver na pele ou nas mucosas de um indivíduo sadio sem causar problemas à saúde e, por isso, pode ser levado de um lugar diferente para o hospital. Pessoas hospitalizadas por razões distintas podem ter contato com o microrganismo e serem infectadas, já que estão com o sistema imunológico fragilizado e expostas a antibióticos e procedimentos médicos invasivos.

Outros riscos dizem respeito ao uso de imunossupressores, antibióticos de amplo espectro ou antifúngicos, cirurgia recente e doenças crônicas, como diabetes e doença renal crônica. O superfungo é considerado altamente resistente também pela sua característica de conseguir aderir a tecidos vivos e superfícies inertes, como dispositivos médicos. É o que faz com que os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), órgão de saúde dos Estados Unidos, alertem para o fato de que equipamentos médicos podem ser meios de transmissão.

A utilização de dispositivos médicos permanentes que perfuram a pele, como cateteres venosos centrais, pode ser porta de entrada para o fungo na corrente sanguínea. Uma vez no sangue, é comum que se dissemine para outros órgãos e cause candidíase invasiva, ou seja, uma infecção generalizada. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, a taxa de mortalidade da candidíase invasiva varia de 29% a 53%.

(Foto: TopMicrobialStock)

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