Em novo aceno aos evangélicos, Lula cria dia da música gospel

Cerimônia no Palácio do Planalto contou com a participação de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, como o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ)

 

Em novo aceno aos evangélicos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou nesta terça-feira (15) a lei que cria o Dia Nacional da Música Gospel, a ser comemorado em 9 de junho. A data comemorativa — iniciativa do deputado federal Raimundo dos Santos (PSD-PA), que é cantor e sanfoneiro gospel — foi aprovada pelo Congresso em agosto deste ano, e teve apoio de parlamentares da oposição, como dos senadores Damares Alves (PL-DF) e Marcos Rogério (PL-RO).

A cerimônia de sanção ocorreu com a presença do deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, que fez elogios ao atual presidente. Lula enfrenta resistência no segmento, majoritariamente apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, e tem tentado estratégias de aproximação desde que voltou ao Palácio do Planalto.

“O senhor é a prova que pode divergir politicamente, durante as eleições, sem permitir, contudo, que as paixões eleitorais contaminem a gestão governamental, que deve olhar e cuidar a pluralidade, seja cultural ou religiosa desse imenso Brasil”, disse o parlamentar evangélico.

Apoiador de Bolsonaro, Otoni de Paula disse a Lula que os evangélicos “não tem um dono” e nem escolhem um candidato por idolatria ou revelação divina. “Nós, evangélicos, uma parcela cada vez mais importante nas decisões e escolhas políticas dessa nação, não convergimos na grande maioria em torno de um candidato a cargo eletivo por idolatria ou revelação divina, como se Deus fosse membro de um partido ou votasse em alguém. Nossas escolhas são pautadas em crenças e valores. Não temos um dono, senhor presidente. Somos um corpo plural em nossa visão de mundo a partir do nosso entendimento das santas escrituras.”

O parlamentar disse que, “fora do palanque eleitoral”, se dirigia a Lula presidente da República e não ao Lula do PT. Otoni de Paula também lembrou que Lula sancionou, em 2003, a Lei de Liberdade Religiosa, no primeiro ano do primeiro mandato de Lula na presidência. “As igrejas e organizações religiosas passaram, graças ao senhor, ao sancionar aquela lei, a ter personalidade jurídica, fazendo correções jurídicas no código civil, permitindo que as igrejas deixassem de ser simples personalidades como entidade de classe ou clubes de futebol. Assim, cada igreja passou a ter direito de fazer valer seu próprio estatuto”, acrescentou.

 

Aproximação

Na avaliação de integrantes do governo, os acenos de Lula e a tentativa de agradar ao público evangélico tem surtido efeito, mesmo que de forma lenta e gradual. Prova disto é o resultado de pesquisas que mostraram uma queda na avaliação negativa do presidente pelo segmento. Em maio deste ano, 42% dos evangélicos tinham avaliação negativa do governo. Em junho, esse número caiu para 39%.

Recentemente, Lula sancionou um “pacote cristão”, que incluiu a lei que criou o Dia Nacional da Pastora Evangélica e do Pastor Evangélico, a ser comemorado anualmente no segundo domingo do mês de junho, e que reconhece as expressões artísticas cristãs como manifestação cultural nacional. Além disso, em agosto, a Fundação Perseu Abramo, braço teórico do PT, também elaborou uma cartilha para orientar o diálogo de candidatos do partido com religiosos na eleição municipal deste ano.

O esforço para se aproximar do eleitorado religioso conta com a ajuda dos prefeitos Eduardo Paes (Rio) e Waguinho Carneiro (Belford Roxo) e da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ). Desde que assumiu o Palácio do Planalto em seu terceiro mandato, Lula determinou a veiculação de campanhas publicitárias do governo para tentar aumentar o diálogo com os evangélicos, e pediu aos ministros com maior entrada no setor que reforçassem a aproximação com o Planalto. Uma das críticas apontadas por aliados é que falta em Lula a postura de dialogar com membros da igreja que estejam mais abaixo na hierarquia e, portanto, tenha mais contato com os fiéis.

(Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República)

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