O deputado estadual petista Simão Pedro, um dos coordenadores da campanha de Guilherme Boulos à Prefeitura de São Paulo, lançou dúvidas sobre a pesquisa Datafolha que deu 22 pontos de vantagem ao prefeito Ricardo Nunes já no início da disputa em segundo turno.
Foi antes da carreata em que o candidato foi da Matriz da Freguesia do Ó até o largo do Japonês, na Cachoeirinha, Zona Norte de São Paulo. Os votos de Boulos na região ficaram aquém do esperado no primeiro turno, muito pelo surpreendente desempenho de Pablo Marçal.
Marçal vendeu “prosperidade” à classe média baixa, cujos integrantes muitas vezes discriminam os mais pobres como dependentes do que antes apenas os mais ricos chamavam de “bolsa esmola”.
O coach de extrema-direita deu ao entregador de iFood um sentido de superioridade social sobre os descamisados, refletido na vitória que ele teve em bairros populares, como Pirituba e Itaquera.
Boulos, por sua vez, venceu em bairros da classe média mais afluente, como Pinheiros e Perdizes.
“Fora da curva”
O deputado Simão Pedro disse que os resultados do Datafolha estão “fora da curva” e sugeriu que a pesquisa pode ter causado desalento entre apoiadores de Boulos num momento crucial da campanha, justamente quando os dois candidatos dispõem de tempo igual de propaganda eleitoral no rádio e na TV.
Pedro é mestre em Sociologia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Ele afirmou que Boulos já havia advertido a militância, que se reuniu num grande evento na Casa de Portugal, na terça-feira, 8, de que sairia em desvantagem no segundo turno.
Não há qualquer prova factual de erro metodológico do Datafolha, mas no passado o instituto já cometeu falhas graves. Em 1984, a boca de urna do Datafolha cravou vitória de Fernando Henrique Cardoso sobre Jânio Quadros, o que foi desmentido pela apuração.
Jânio acusou o instituto, sem provas, de dar cobertura para fraude se o resultado fosse apertado.
O Datafolha também já foi acusado de bombar inicialmente as candidaturas de José Serra, que foi editorialista do Grupo Folha, para facilitar a arrecadação das campanhas do tucano, quando o financiamento privado ainda era permitido pela legislação.
Simão Pedro explica que, como cientista social, acompanha pesquisas.” Acho que o Datafolha na estimulada está fora da curva. 22 pontos de diferença não bate com as outras pesquisas, nem com nosso tracking. Na Paraná Pesquisas deu 13, na da Fundação Escola de Sociologia e Política deu 14. No voto espontâneo estamos bem, com votos muito mais consolidados que os do Nunes. Dá para virar e ganhar esta eleição”, diz.
O deputado não fez qualquer acusação ao Datafolha, além do estranhamento. Notou, porém, que em campanhas eleitorais as pesquisas muitas vezes são usadas para dar um banho de água fria nos adversários.
Neste caso, servem também para justificar a ausência do prefeito Ricardo Nunes dos debates, num “já ganhou” que faz a maioria silenciosa nem dar ouvido às propostas de quem está em segundo lugar.
De acordo com a pesquisa Datafolha, Boulos tem 58% de rejeição, o que o tornaria inelegível hoje. Dos que votaram em Pablo Marçal, sempre segundo o instituto ligado à Folha de S. Paulo, 81% votarão em Ricardo Nunes. Dos que votaram em Tábata Amaral, do PSB, 65% apoiariam Boulos no segundo turno. (Foto: Coordenação Campanha Boulos/ Divulgação)