Anielle fala sobre assédio de Silvio Almeida: ‘só queria que parasse’

Ministra da Igualdade Racial afirmou que ‘quis acreditar que estava enganada’, mas depois percebeu ter sido vítima de um crime: “Fico me perguntando o tempo todo por que não reagi na hora”, relatou

 

 

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, falou nesta sexta-feira (4), pela primeira vez, sobre o caso de assédio envolvendo o ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Em entrevista à revista Veja ela relatou que “quis acreditar que estava enganada”, mas depois percebeu ter sido vítima de um crime de importunação sexual. Segundo ela, foram diversas frases embaraçosas e toques indesejados em seu corpo.

“É importante deixar claro que o que houve foi um crime de importunação sexual. Fui vítima de importunação sexual. Precisamos reforçar isso para evitar que mulheres continuem sendo vítimas desse tipo de agressão. Não podemos normalizar uma situação como essa, independentemente de quem a pratique”, disse. A ministra não quis entrar em detalhes dos episódios de assédio para preservar as investigações que estão em curso.

Anielle contou que começou a conviver com Almeida na transição do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em dezembro de 2022. E já neste período tiveram início as “atitudes inconvenientes” por parte do ex-colega, que nega as acusações. Esse comportamento, prossegue a ministra, foram aumentando ao longo dos meses até chegar à importunação sexual.

“Não tínhamos nenhuma relação profissional até a transição do governo, em dezembro de 2022. Ali começaram as atitudes inconvenientes, que foram aumentando ao longo dos meses até chegar à importunação sexual. Por um tempo, quis acreditar que estava enganada, que não era real, até entender e cair a ficha sobre o que estava acontecendo. Fiquei sem dormir várias noites”, disse.

A ministra também revelou que ainda se questiona sobre o motivo de não ter reagido na hora e denunciado Almeida imediatamente após as investidas dele. Anielle explicou que ficou “paralisada” e se culpou pela falta de reação. “Me lembrava de todas as mulheres que já tinha acolhido em situação de violência. Mas o fato é que não estamos preparadas o suficiente para enfrentar uma situação assim nem quando é com a gente. Eu me senti vulnerável”, afirmou.

“Ninguém se sente à vontade ficando em silêncio em uma situação assim. Mas eu não queria a minha vida exposta e atravessada mais uma vez pela violência. Sou muito mais do que isso e me orgulho da minha trajetória. Só queria que aquilo parasse de acontecer”, acrescentou.

Anielle também destacou ações do governo federal para combater o assédio. “O governo criou um programa de prevenção e enfrentamento do assédio e da descriminação para fortalecer as políticas de defesa dos direitos das mulheres. Também temos um grupo de trabalho que está tratando exclusivamente desse problema na administração pública. É um esforço que busca medidas concretas de transformação”.

As acusações contra Silvio Almeida foram divulgadas no início de setembro pela organização não governamental Mee Too. Ele foi demitido do cargo de ministro dias depois. Almeida nega veementemente todas as acusações.

 

Depoimento à PF

Em depoimento à Polícia Federal (PF) na última quarta-feira (2), Anielle Franco confirmou ter sofrido importunação sexual por parte do ex-ministro dos Direitos Humanos. ela prestou declarações na sede da PF, em Brasília. Almeida foi demitido no dia 6 após a ONG Me Too Brasil afirmar ter recebido denúncias contra o então integrante do governo. Anielle foi uma das vítimas e relatou o episódio a integrantes do governo, inicialmente. Pessoas a par da investigação afirmam, no entanto, que a ministra não foi questionada, no depoimento, sobre ter avisado membros do governo antes de as denúncias virem à tona — o caso foi revelado pelo portal Metrópoles.

As perguntas giraram em torno dos supostos episódios de importunação, iniciada, segundo a ministra, ainda em 2022, antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Anielle e Almeida participaram da transição. Quando o caso foi revelado, Silvio Almeida disse que pediu ao presidente para ser demitido “a fim de conceder liberdade e isenção às apurações, que deverão ser realizadas com o rigor necessário e que possam respaldar e acolher toda e qualquer vítima de violência”.

O ex-ministro destacou que a investigação seria “uma oportunidade para que eu prove a minha inocência e me reconstrua”. Procurada, a defesa de Almeida disse, nesta quarta-feira, que não se manifestará e que aguarda habilitação para ter acesso à investigação.

(Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles)

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