Venezuela: Candidato da oposição diz que assinou carta sob pressão

Henrique Acker (correspondente internacional) – A divulgação de uma carta assinada pelo ex-candidato da oposição de direita na Venezuela, Edmundo Gonzalez Urrutia, provocou uma crise política na Espanha, país em que se encontra desde 9 de setembro e ao qual pediu exílio político. Na carta, Urrutia acata a decisão do Tribunal de Justiça, que reconheceu a vitória de Nicolás Maduro, e que não pretende exercer representação política formal ou informal.

No documento de 8 de setembro e divulgado inicialmente por órgãos de comunicação identificados com a oposição de direita, Gonzalez afirma: “Sempre estive e seguirei disposto a reconhecer e acatar as decisões adotadas pelos órgãos de Justiça no marco da Constituição, incluindo a mencionada sentença da Sala Eleitoral (do Tribunal de Justiça Eleitoral), embora não a compartilhe, a acato por tratar-se de uma resolução do máximo tribunal da República”.

Em outro trecho da carta, o ex-candidato à Presidência pela oposição de direita afirma que “Não pretendo em nenhum caso exercer representação formal ou informal alguma de poderes públicos do Estado venezuelano”. Mais adiante, conclui: “Serei absolutamente respeitoso das instituições e interesses da Venezuela, e sempre apelarei à paz, o diálogo e à unidade nacional“.

 

Governo diz que iniciativa foi de Gonzalez

Depois de negar ao seu advogado a existência do documento, Gonzalez reconheceu que teria assinado a carta sob pressão, chantagem e coação do governo Maduro. No entanto, todo o processo de sua saída da Venezuela foi negociado entre ele e representantes do governo venezuelano na sede da Embaixada da Espanha, em Caracas.

O Presidente da Assembléia Nacional da Venezuela, Jorge Rodriguez, não só nega as acusações de pressão, chantagem e coação a Gonzalez, como afirma que a carta lhe foi entregue assinada pelo próprio ex-candidato da oposição. “Estávamos ali porque fomos convidados para uma negociação”, reiterou Rodriguez em entrevista à cadeia de TV TeleSur.

Por solicitação do próprio Gonzalez “nós havíamos nos comprometido a manter em absoluto segredo a carta que Edmundo Gonzalez entregou”, disse Rodríguez. “Temos provas de que a decisão de ir para a Espanha foi sua. Foi você que nos procurou e disse que teria essa intenção”, declarou o Presidente da Assembléia Nacional à Telesur, apresentando fotos das negociações.

 

Na foto, dentro da embaixada da Espanha em Caracas, o Presidente da Assembleia Nacional da Venezuela (de costas) e o ex-candidato da direita, Edmundo Gonzalez Urrrutia (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

 

Na entrevista, Jorge Rodríguez disse que, ao contrário do que afirma na carta, Gonzalez se reuniu com o ex-presidente espanhol José Maria Aznar e outros, para propor ao Congresso da Espanha o seu reconhecimento como Presidente da Venezuela. Rodriguez afirmou ainda que Gonzalez teve uma ligação telefônica com o secretário de Estado dos  EUA, Antony Blinken, a quem o parlamentar acusa de “comandar essa orquestra”.

Mais tarde, em coletiva de imprensa na Assembléia da República, Jorge Rodriguez apresentou áudios da primeira reunião que teve com Edmundo Gonzalez, em 6 de setembro, na Embaixada da Espanha, em Caracas. Rodriguez afirma ter mais provas de que não só o teor da carta como a iniciativa de solicitar a saída do país partiu do próprio Edmundo Gonzalez.

 

“Pressão, chantagem e coação”

Em declaração gravada e divulgada a partir de Madri, em 18 de setembro, logo após a divulgação da carta, em momento algum Gonzalez acusa o governo espanhol de interferir nas negociações que produziram o documento e redundaram em sua saída do país.

No entanto, os partidos da direita espanhola insistem em acusar o governo socialista de Pedro Sanchez de ter participado da negociação para a saída de Edmundo Gonzalez da Venezuela, que, segundo ele, teria resultado na assinatura da carta “sob pressão, chantagem e coação”.

Gonzalez estava escondido na Embaixada da Holanda em Caracas desde o final da eleição. A negociação para sua saída da Venezuela foi embaraçosa para a oposição de direita, justamente por ter sido ele o candidato presidencial. Segundo Jorge Rodriguez, os demais membros da oposição de direita “não faziam ideia de que aquilo estava ocorrendo” e devem ter considerado sua atitude uma “capitulação”.

 

Parlamento Europeu reconhece legitimidade de Gonzalez

Por insistência da oposição de direita, Gonzalez  negou a apresentar-se ao Tribunal de Justiça da Venezuela, que apurava o processo eleitoral de 28 de julho a partir de um pedido do próprio governo venezuelano.

Ao desembarcar em Madri, em 8 de setembro, o ex-candidato à Presidência da Venezuela ainda deu declarações moderadas, no mesmo tom do texto da carta que entregou ao Presidente da Assembléia da República de seu país.

Desde que Gonzalez chegou à Espanha, o Partido Popular (herdeiro do franquismo) propôs e conseguiu aprovar no Parlamento seu reconhecimento como Presidente legitimamente eleito da Venezuela. Em 19 de setembro o Parlamento Europeu também reconheceu Edmundo Gonzalez como Presidente legitimamente eleito da Venezuela, por 309 votos a favor, 201 contra e 12 abstenções. (Legenda da foto principal: dentro da embaixada da Espanha em Caracas, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela (de costas) e o ex-candidato da direita, Edmundo Gonzalez Urrrutia  – Foto: Yuri Cortez/AFP)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

—————–

Fontes:

Declaração de Edmundo Gonzalez a respeito da Carta

Entrevista de Jorge Rodriguez à TeleSur (19/9/24)

Coletiva de imprensa de Jorge Rodriguez (19/9/24)

 

Outras

G1 – Mundo

CNN Brasil

TeleSURtv

Rebelión

 

Compartilhe

Outras matérias

Relacionados

plugins premium WordPress