Nos próximos anos, a estimativa é de que 2 a 4 milhões de toneladas de CO2 deverão ser emitidas
Os incêndios que queimaram 2,4 milhões de hectares na Amazônia entre junho e agosto deste ano emitiram 31,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2). É quase o que a Noruega emite por ano (32,5 milhões de toneladas de CO2 equivalente). Comparado com o mesmo período de 2023, o aumento das emissões foi de 60%. A estimativa foi feita pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), que integra o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) e foram divulgados nesta terça-feira (17).
A área analisada inclui florestas, campos e pastagens. Ao considerar somente a vegetação florestal, os incêndios impactaram 700 mil hectares, que emitiram 12,7 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Esse valor é mais do que o dobro do emitido por queimadas em áreas florestais no mesmo período de 2023. As emissões oriundas de incêndios não são contabilizadas no inventário nacional (que só inclui o carbono de queimadas ligadas a desmatamento), mas têm sido relatadas pelo SEEG.
Segundo o Ipam, essas emissões continuam mesmo após o fim do fogo por causa da decomposição da vegetação atingida. Sendo assim, estima-se que nos próximos 5 a 10 anos mais de 2 a 4 milhões de toneladas de CO2 poderão ser emitidas. “Um importante impacto dos incêndios florestais nas emissões não ocorre no momento em que a floresta está queimando, mas depois, quando principalmente as grandes árvores morrem e continuam a emitir CO2 por muitos anos, o que é chamado de emissão tardia. O pior é que uma floresta degradada pelo fogo se torna mais suscetível a outros incêndios, perpetuando um ciclo de degradação e emissões”, explica Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam.
“Temos um cenário assustador de florestas em pé, que deveriam estocar carbono pelas próximas centenas de anos, sendo devastadas pelo fogo e se tornando uma fonte significativa de gases de efeito estufa. Nos próximos anos, talvez não vejamos a fumaça, mas as emissões continuarão ali e, com elas, o aumento do aquecimento global”, completa Camila Silva, pesquisadora do Ipam.
Bárbara Zimbres, pesquisadora do Ipam, alerta que há o risco do país entrar em círculo vicioso de secas mais severas e incêndios mais intensos. “O cenário é preocupante, pois os impactos a longo prazo de queimadas tão intensas não são totalmente claros. Há o risco de entrarmos num círculo vicioso de secas mais severas, incêndios mais intensos e aumento da mortalidade de árvores que, por sua vez, retroalimentam os estoques de combustível disponíveis para eventos de fogo futuros”, frisa a especialista em nota divulgada pelo Observatório do Clima — rede que reúne ONGs e institutos de pesquisa sobre agenda climática.
De acordo com o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia é o bioma com mais focos de incêndio no Brasil (45%), seguido pelo Cerrado (42,6%). Os municípios São Félix do Xingu, Altamira e Cumaru do Norte — os três no Pará — são os mais atingidos pelas queimadas nas últimas 48 horas.
(Foto: Nilmar Lage / Greenpeace)