Direita propõe endividar Europa para financiar indústria de armas

Henrique Acker (correspondente internacional)  – O antigo primeiro-ministro italiano Mario Draghi propõe um mega endividamento da União Europeia para financiar investimentos na indústria de armas. Essa seria a consequência direta da “nova estratégia industrial para a Europa”. É o que se pode concluir do seu relatório, “O futuro da competitividade europeia”, apresentado nesta segunda-feira (9/9/24).

De acordo com o projeto de Draghi, sustentado por Úrsula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, a Europa precisa mobilizar pelo menos 750 a 800 bilhões de euros por ano para acompanhar o ritmo de concorrentes como os EUA e a China.

“A UE deve continuar — com base no modelo dos fundos NGEU (Next Generation funds) — a emitir instrumentos de dívida comuns, que seriam utilizados para financiar projetos de investimento conjuntos que aumentarão a competitividade e a segurança da UE”, sublinhou Draghi.

Pelas regras da UE, a proposta da cúpula dirigente terá que ser discutida e aprovada nos 27 parlamentos dos seus países membros.

 

Menos investimentos nacionais

Draghi admite que o endividamento comum exigiria “um conjunto mais sólido de regras orçamentais que garantam que um aumento da dívida comum seja acompanhado de uma trajetória mais sustentável da dívida nacional” de cada um dos 27 países do bloco europeu. Na prática, isso significa sacrificar parte dos orçamentos de cada país para financiar os gastos com a indústria armamentista europeia.

“Para conseguir este aumento, seria necessário que a parte do investimento da UE passasse dos atuais 22% do PIB para cerca de 27%, invertendo um declínio de várias décadas na maioria das grandes economias da UE”, lê-se no relatório.

Cálculos da Comissão Europeia divulgados em junho passado revelam que são necessários investimentos adicionais no setor da defesa de cerca de 500 bilhões de euros durante os próximos dez anos.

Se todos os Estados-membros da UE que fazem parte da OTAN cumprissem este ano a meta de 2% de seus orçamentos com investimento em defesa, as despesas com o setor aumentariam 60 bilhões de euros.

A expectativa de Draghi é que a emissão de novos títulos da dívida da União Europeia alimente o mercado financeiro, o que facilitaria o crédito para injeção de recursos massivos na indústria armamentista.

 

Christine Lagarde, ex-FMI e atual presidente do Banco Central Europeu – (Foto: ECB/Divulgação)

 

Contribuinte europeu paga guerra da Ucrânia

O relatório aponta como principais concorrentes da União Europeia a China e os EUA, sem esquecer a Rússia. A União Europeia é a maior financiadora dos gastos com a guerra da Ucrânia.

Desde o início da guerra, a UE já repassou 144 bilhões de euros ao governo ucraniano,  de acordo com o Instituto de Kiel, que quantifica a ajuda militar, financeira e humanitária prometida e entregue à Ucrânia. Em fevereiro deste ano a UE aprovou mais 50 bilhões de euros em doações aquele país para os próximos quatro anos (2024 a 2027).

Calcula-se que a União Europeia tenha repassado 926 milhões de euros apenas em ajuda humanitária, desde o início da invasão russa, em 2022, até 2024.

“São também necessários investimentos adicionais para restaurar as capacidades perdidas devido a décadas de subinvestimento e para repor as existências esgotadas, incluindo as doadas para apoiar a defesa da Ucrânia contra a agressão russa”, apela Draghi.

 

Situação atual (azul) e expectativas para a economia europeia (vermelho)

 

Juros altos atingiram a economia

O Plano Draghi/Von der Leyen pode esbarrar na realidade econômica da própria União Europeia. Em nome do combate à inflação, o Banco Central Europeu manteve a taxa de juros básica da UE em 4,50% durante nove meses consecutivos (set/23 a abr/24), a mais elevada desde 2001. A taxa de juros sofreu aumentos consecutivos durante os últimos dois anos, justamente o período da guerra na Ucrânia.

A zona euro voltou a ficar próxima da estagnação no segundo trimestre deste ano, com um avanço de apenas 0,2% do PIB, ao contrário dos 0,3% estimados.

O consumo privado caiu 0,1% e o investimento recuou 2,2%, o que só foi compensado pelo avanço de 0,6% nos gastos públicos. Do lado externo, as exportações cresceram 1,4% enquanto, mas as importações avançaram apenas 0,5%.

Os analistas da empresa Pantheon Macro lembram que os indicadores de mercado voltaram a tomar um sentido negativo, apontando para nova recessão (ou, pelo menos, uma estagnação) da economia. As duas maiores economias da UE — França e Alemanha — atravessam um mau momento.

Em 2023, o déficit francês fixou-se em 5,5% do PIB, enquanto a dívida pública do país atingiu os 110,6% do PIB. O crescimento da economia da Alemanha pode ficar abaixo de 1% este ano. Um dos sintomas da crise foi o anúncio recente da Volkswagen do fechamento de fábricas no país, algo inédito nos mais de 80 anos da empresa. (Foto principal: Mario Draghi e Úrsula Von der Leyen apresentam relatório “O futuro da competitividade europeia” – crédito: Dursun Aydemir/Anadolu/Getty Images)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

 

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Fontes:

Jornal I

Euronews

CNN Portugal 

Euronews

Idealista News

O Jornal Económico

Eco – Economia online

Eco – Economia online

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