Pode ser tarde para deter os neonazis na Europa

Cá entre nós – Henrique Acker

 

 

A vitória da AfD na eleição para o governo da Turíngia e o empate na Saxônia com o CDU são um prenúncio do retorno dos nazis com força ao cenário político da Alemanha. O próximo desafio é a eleição de Brandemburgo, em 22 de setembro.

Suas bandeiras? O combate aos imigrantes, a defesa das tradições e um nacionalismo exacerbado. Ou seja, a mesma ladainha recheada de preconceitos, usada como justificativa para construir bodes-expiatórios e oferecer soluções autoritárias de sociedade.

Ainda que não consiga participar dos governos estaduais, o AfD terá bancadas para barrar qualquer mudança constitucional e a nomeação de juízes.

Na França, o senhor Macron ignora o resultado das urnas, que deu vitória à Nova Frente Popular (NFP), e convoca um velho direitista para formar governo. Prefere o consentimento da extrema-direita de Marine Le Pen do que um governo de esquerda, com um programa que restaure direitos e benefícios perdidos pelos franceses.

Há quem ainda insista que é melhor legalizar a extrema-direita do que mantê-la fora da lei, porque assim seria possível controlar seus passos. Cabe lembrar que Adolf Hitler chegou ao governo em 1933 a partir das urnas, mesmo sem maioria. Hoje, somados os três blocos de deputados, a extrema-direita já é a segunda maior força no Parlamento Europeu.

Em muitos países, como a própria Alemanha, o Brasil e Portugal, o discurso preconceituoso e autoritário está presente com força nas polícias, o que é preocupante, por se tratar de servidores públicos com porte de arma assegurado e a autoridade de coerção do Estado.

 

De mãos dadas com as big tech

O avanço da extrema-direita nos obriga a pensar se existe alguma contradição entre o totalitarismo dos nazi-fascistas e os interesses econômicos das atuais grandes corporações multinacionais, holdings, o sistema financeiro e as chamadas big tech. A julgar pelo que se publica todos os dias nas redes sociais, parece que não.

O vale-tudo das lacrações nas redes é parte da histeria típica da política da extrema-direita, em que o debate de ideias é substituído por xingamentos, acusações sem provas, notícias falsas e todo tipo de recurso para desqualificar o outro.

Cada vez mais os donos das big tech — que comandam um mercado de bilhões de usuários em todo o Planeta — se arvoram a desrespeitar as leis dos diversos países. Qualquer tentativa de regulamentar suas atividades é denunciada cinicamente como “censura” e “ataque à liberdade”.

O mesmo Elon Musk que faz coro com a extrema-direita racista na Inglaterra, desafia a Justiça brasileira, interfere na política venezuelana e recebe as bençãos de Donald Trump.

Não por coincidência seus maiores aliados no Brasil, em que o STF pede apenas ao senhor Musk que cumpra as leis do país, são os porta-vozes desta mesma extrema-direita: os Bolsonaro, sua bancada de parlamentares, coachs, youtubers e até alguns que se passam por líderes religiosos, como Silas Malafaia.

 

Israel aplica na Cisjordânia a mesma receita de Gaza

No Oriente Médio, o Estado de Israel conclui a “Operação Antiterrorismo”, com o balanço de 39 mortos (8 crianças) e dezenas de presos em territórios palestinos no Norte da Cisjordânia.

As imagens de Jenin, cidade atacada por Israel, em nada diferem do que se assiste em Gaza. Os “antiterroristas” usaram escavadeiras e deixaram um rastro de destruição das redes elétrica, de água, de esgoto, depredação de casas e pânico entre a população palestina. Um cenário devastador em nome do combate ao “terrorismo”.

Está cada vez mais evidente que os planos da extrema-direita sionista israelense são expulsar de vez os palestinos de Gaza para o Egito, e empurrar os que vivem na Cisjordânia para a vizinha Jordânia. É o tal “Grande Israel”. Por isso, e também para evitar o avanço dos processos judiciais que enfrenta, Netanyahu não aceita um cessar-fogo definitivo. (Foto: Reprodução/Ansa Brasil)

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional) – 07 setembro/24

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