Texto Rafael Balago – Na campanha de 2024, Biden buscou repetir a estratégia, mas ela não funcionou bem. Tanto que o presidente desistiu de disputar a reeleição e abriu caminho para que sua vice assumisse a candidatura presidencial e trouxesse mudanças fortes de estilo.
Logo nos primeiros dias, a campanha de Kamala buscou mostrá-la como uma pessoa próxima dos jovens, mais direta e também mais provocativa. Surgiram memes que a colocam como ‘brat’, uma gíria do verão americano, e um coqueiro virou um símbolo informal, por conta de uma brincadeira com um discurso antigo dela. “Minha mãe dizia: você acha que caiu de um coqueiro?”, contou a vice, ao lembrar uma bronca que levou quando era pequena.
Nesta semana, a escolha de Walz foi mais um passo nesse sentido. O governador de Minnessota, de 60 anos, usa um tom brincalhão, distante da postura séria de Biden. “Que inferno, vocês sabem dar uma festa aqui em Michigan, hein?”, disse, em tom de brincadeira, ao abrir um comício em Detroit, na quarta, 7.
Walz fale em tom animado, fazendo ironia com ações defendidas por republicanos, como a de barrar livros em escolas. “Nossa regra básica é: se preocupe com as suas malditas coisas. É incrível como cuidar da sua própria vida faz para que tudo funcione melhor. Não gosta de um livro? Não leia”, defende.
O novo vice também costuma chamar os rivais republicanos de “caras esquisitos”, termo que tem sido cada vez mais usado pelos democratas. “Há pessoas esquisitas do outro lado. Elas querem sumir com livros. Querem estar na sua sala de exames médicos”, disse Walz em uma entrevista mês passado. O termo vem sendo repetido nos comícios. “Esses caras são repugnantes e, sim, estranhos pra caramba”, disse Kamala na terça.
“Eles estão tirando sarro de Donald Trump, tentando fazer ele parecer um bobo. Estão fazendo as pessoas rirem dos seus oponentes. É outro tipo de jogo do que Biden fazia”, avalia Ronald Stockton, professor de ciência política na Universidade de Michigan.
“Kamala usa um tom mais divertido. Ela tem dito que ela e os apoiadores são ‘guerreiros felizes’. As pessoas estão cansadas dessa luta depressiva sobre o futuro do país. A mensagem dela é ok, vamos se divertir. Esse é um bom país, vamos fazer as coisas e torná-lo melhor”, avalia Stockton.
O professor avalia que Kamala pode estar tentando criar uma onda similar à que Barack Obama gerou em 2008, puxada por uma campanha mais leve, com menos ataques a adversários. Naquele ano, o democrata conseguiu criar um movimento que atraiu muitos eleitores jovens e conquistou a Presidência.
O engajamento dos eleitores é uma questão fundamental para a eleição americana, pois o voto não é obrigatório. Assim, convencer os apoiadores a comparecerem às urnas tem grande importância. Além disso, criar uma onda também ajuda a conquistar eleitores independentes, que ao final decidirão a disputa em um cenário que, atualmente, é de empate técnico entre Kamala e Trump, segundo a maioria das pesquisas.
Próximos passos da campanha
Kamala e Walz fazem uma série de comícios juntos neste fim de semana em dois estados do oeste do país, Arizona e Nevada. O discurso nesses estados deverá dar destaque a políticas sobre direito ao aborto e imigração. Ali, republicanos tem tentado endurecer regras sobre direitos reprodutivos, e os dois estados ficam perto da fronteira com o México.
No dia 19 de agosto, começa a Convenção Democrata, em Chicago, que celebrará a chapa de Kamala e Walz e terá várias reuniões e discursos de democratas ao longo de quatro dias. (Foto: Jeff Kowalsky/AFP)