Henrique Acker (correspondente internacional) – Apesar de uma diminuição das manifestações violentas promovidas na última semana por grupos britânicos de extrema-direita, o balanço das operações policiais até aqui aponta para cerca de 600 prisões e 150 pessoas acusadas formalmente por ações criminosas.
A revolta começou como resposta ao assassinato a facadas de três meninas, em Southport. Relatos nas redes sociais apontavam que o criminoso seria um imigrante, o que foi desmentido oficialmente. No entanto, o boato foi suficiente para gerar protestos violentos nas ruas de 25 cidades britânicas.
Hotéis que servem de residência para imigrantes e mesquitas foram atacados. Depósitos de lixo foram incendiados, lojas depredadas, houve registros de espancamentos de pessoas e até uma lista com endereços de advogados defensores de imigrantes circulou pela internet.
Governo acusa influenciadores digitais
O novo governo trabalhista decidiu contra-atacar e conter as manifestações. O primeiro-ministrou convocou reunião de emergência com autoridades de segurança e ministros. A secretária do Interior, Yvete Cooper, chamou a atenção de alguns meios de comunicação, que seriam condescendentes com o preconceito contra imigrantes.
As autoridades britânicas tratam as manifestações como motins e os participantes como promotores de “banditismo violento”, como definiu o primeiro-ministro Keir Starmer. Cerca de seis mil policiais foram mobilizados para reprimir os protestos.
O governo quer pena severa para os detidos acusados, que envolvem depredadores, agressores, incendiários e replicadores de notícias falsas nas redes sociais, inclusive os chamados “influenciadores” digitais. Um dos que mais se destacou foi o proprietário da plataforma X (Twitter), Elon Musk, que compartilhou repetidamente conteúdo de extrema-direita com seus 193 milhões de seguidores.
Desde quarta-feira (7/8) as demonstrações racistas vêm diminuindo, mas o governo se mantêm em alerta para o final de semana, principalmente na Irlanda do Norte. Além do aumento do efetivo policial destacado para conter a violência nas ruas, partidos e organizações de esquerda também realizaram manifestações denunciando a extrema-direita.
Islamofobia
Nos últimos 12 anos os sucessivos governos conservadores têm usado como bodes expiatórios as pessoas que migraram para o Reino Unido, estabelecendo o que é oficialmente chamado de “ambiente hostil” e tentando deportar os requerentes de asilo para Ruanda, na África.
Rishi Sunak, ex-primeiro-ministro conservador, cunhou a frase “parem os barcos”, enquanto muitos políticos fizeram campanha eleitoral citando uma “invasão” de migrantes. Os dois slogans têm sido repetidos pelos manifestantes nas ruas nos últimos dias.
Em seu governo o ex-primeiro-ministro Boris Johnson comparou muçulmanos a “caixas de correio” e “ladrões de banco”, enquanto uma pesquisa apontou que mais da metade dos membros de seu partido acreditam que o islamismo é uma ameaça ao Reino Unido.
De acordo com dados do próprio governo, os muçulmanos britânicos sofreram mais crimes de ódio em 2023 do que qualquer outra fé.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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Fontes:
YouGov (O correspondente europeu)