Henrique Acker (correspondente internacional) – Trinta ex-chefes de Estado da América latina e da Espanha assinaram uma mensagem dirigida a Lula, exortando o Presidente brasileiro a fazer prevalecer a democracia e a liberdade na Venezuela. “Esta mensagem que estamos enviando, em essência, nos coloca como porta-vozes dos sentimentos da maioria decisiva dos venezuelanos”, diz o texto.
“A evidente usurpação da soberania popular que Nicolás Maduro Moros realizou, em conluio com os poderes do Estado que estão a seu serviço e sob seu controle, é feita com desprezo pela verdade eleitoral para se perpetuar no exercício do poder e afirmá-lo por meio de uma política de Estado repressiva e de violação generalizada e sistemática dos direitos humanos dos venezuelanos”, sentenciam os signatários.
No entanto, um breve levantamento do currículo dos que firmaram a mensagem a Lula é suficiente para duas conclusões: 1) A maioria enfrenta problemas na Justiça por fraude eleitoral, corrupção, favorecimento a grupos privados e até envolvimento com traficantes; 2) Todos sempre deixaram claro sua posição contrária ao regime bolivariano da Venezuela e alguns incentivaram iniciativas pela derrubada do governo venezuelano.
Currículos ou fichas criminais? (*)
Os defensores da “democracia e da liberdade”, como se auto intitulam, pertencem à Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas (IDEA), uma organização que atua supostamente para defender a democracia na América Latina e no Mundo.
No entanto, a esmagadora maioria foi reprovada em seus próprios países. Grande parte foi condenada ou ainda responde na Justiça por corrupção e envolvimento com o crime organizado. Muitos foram ou estão sendo processados por crimes comuns. Alguns casos são emblemáticos. Vamos a eles.
Cartel de Medellin
Álvaro Uribe – foto acima -, (ex-presidente da Colômbia / 2002-2010) – O Ministério Público colombiano acusou formalmente o antigo Presidente de fraude e suborno de testemunhas, durante o primeiro julgamento criminal contra um ex-chefe de Estado na história do país. No entanto, sua ficha é tão extensa que mereceria uma matéria exclusiva.
Seu governo usava depoimentos de membros do grupo paramilitar Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), para desacreditar adversários políticos. O sistema de justiça colombiano reconheceu em 2021 pelo menos 6.402 civis executados pelo exército colombiano entre 2002 e 2008, que eram apresentados falsamente como membros da guerrilha.
Já em 1991, relatório do serviço de inteligência do Departamento de Defesa dos Estados Unidos citava seu nome: “Álvaro Uribe Vélez, político e senador colombiano, dedicou-se à colaboração com o Cartel de Medellín em níveis elevados do governo… Uribe trabalhou para o cartel e é amigo próximo de Pablo Escobar Gaviria”.
Império da cocaína e dos massacres
Ivan Duque – foto acima – (ex-presidente da Colômbia / 2018-2022) – Outro conhecido por envolvimento com gente no mínimo suspeita, Duque enfrentou o escândalo a chamada “Ñeñepolitics”, relacionado com a ajuda do traficante de drogas José Hernández Aponte, que, no papel de suposto fazendeiro, financiou sua campanha à presidência. A partir de janeiro de 2022, as investigações continuaram no Supremo Tribunal de Justiça.
Coincidência ou não, a produção de cocaína durante o governo Duque atingiu recorde de 1.200 toneladas, colocando a Colômbia como maior produtor mundial da droga, de acordo com a ONU.
Durante seu governo, ocorreram mais de 260 massacres que deixaram mais de 1.100 mortos. O número de assassinatos de líderes sociais chegou a 930. Além disso, 245 ex-combatentes das FARC-EP que aceitaram os Acordos de Paz foram assassinados durante o Governo Duque.
Panamá Papers e peculato
Maurício Macri – foto acima – (ex-presidente da Argentina / 2015-2019) – Os documentos do “Panama Papers”, revelaram em 2016 que o nome de Macri apareceu na diretoria de uma empresa de fachada chamada Fleg Trading Ltd, dirigida pelo pai dele, Franco, empresário conhecido por garantir grandes contratos com o Estado nas últimas décadas.
Fleg Trading Ltd desempenhou um papel como uma holding company para a participação de Franco na “Pago Fácil”. A operação foi feita através da “Owners Do Brasil Participações”, uma empresa sediada em São Paulo, da qual a Fleg Trading Ltd era acionista majoritária.
Jamil Mahuad (ex-presidente do Equador / 1998-2000) – Deposto por uma rebelião militar-indígena, liderada pelo coronel Lucio Gutiérrez, sendo depois substituído por seu vice-presidente Gustavo Noboa, Mahuad fugiu do Equador e foi morar nos Estados Unidos. Em Maio de 2014, o Tribunal Nacional de Justiça do seu país condenou-o a doze anos de prisão por peculato.
Cartel, suborno e offshores
Felipe Calderón – foto – (ex-presidente do México / 2006-2012) – Seu ministro de Segurança Pública está sendo julgado nos EUA por suborno do cartel de Sianaloa. Seu governo foi o primeiro no mundo a utilizar o software espião israelita Pegasus, contra opositores políticos e jornalistas.
Rafael Calderón (ex-presidente da Costa Rica / 1990-1994) – Sentenciado a cinco anos de prisão em seu país, considerado culpado de receber oito milhões de dólares em subornos para a compra de dispositivos médicos na Finlândia, à custa do sistema de previdência social do estado.
Alfredo Cristiani (ex-Presidente de El Salvador / 1989-1984) – Aparece nos documentos do “Pandora Papers”, escândalo de corrupção internacional. Ele havia criado pelo menos 16 empresas offshore no ano seguinte à sua saída do poder. Durante o governo de Cristiani, a família de sua esposa adquiriu boa quantidade de ações de um dos maiores bancos de El Salvador, o Banco Cuscatlán, privatizado e mais tarde comprado pelo Citi Bank.
Senador vitalício
Juan CarlosWasmozy (ex-presidente do Paraguai / 1993-1998) – Nomeou muitos apoiadores de Alfredo Stroessner (ditador por 35 anos) para cargos em seu governo.
Embora houvesse casos confirmados de fraude na eleição que venceu, uma equipe de observadores internacionais, liderada por Jimmy Carter, concluiu que a margem de vitória de Wasmosy era grande o suficiente para compensar qualquer irregularidade. Os candidatos da oposição obtiveram 60 por cento dos votos nas eleições de 1993.
Em 2002, Wasmosy foi condenado por fraudar o estado paraguaio e sentenciado a quatro anos de prisão. Após apelação, sua sentença foi reduzida para fiança e prisão domiciliar. Como ex-presidente do Paraguai, ele foi nomeado senador vitalício.
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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Fontes de pesquisa:
(*) Esta matéria usou como fonte de pesquisa apenas as citações sobre os signatários da mensagem dirigida a Lula que constam da Wikipédia, à disposição de qualquer pessoa.