Trabalhadores e trabalhadoras foram às ruas em pelo menos 11 capitais brasileiras nesta terça-feira (30) para protestar contra a manutenção da taxa de juros, a Selic, pelo Banco Central (BC). A autoridade monetária deve anunciar a revisão da taxa nesta quarta-feira (31) e a expectativa é de que o índice permaneça em 10,5%.
A pauta levou entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Nova Central (NCST), Intersindical e Pública a organizarem os atos.
Em São Paulo (SP), a manifestação ocorreu em frente ao BC, na Avenida Paulista, com o tema “Menos Juros, Mais Empregos”. O protesto trouxe críticas diretas ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, e pediu a saída dele do cargo.
Em junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a Selic no patamar atual. Naquela oportunidade, o órgão entendeu, por unanimidade, que os riscos de alta da inflação e de descontrole de gastos do governo justificavam a manutenção.
Depois disso, o governo anunciou um corte de R$ 15 bilhões no orçamento para o cumprimento das metas fiscais de 2024.
Movimentos defendem corte da Selic
Para os movimentos populares, os argumentos para manter a Selic nos patamares atuais são falaciosos. Eles defendem que os indicadores econômicos já apresentaram melhora.
Juvandia Moreira vice-presidente da CUT participou do ato. Em entrevista ao Brasil de Fato, ela afirmou que o país precisa de mais investimentos produtivos e que a taxa de juros impede o crescimento econômico e a geração de empregos.
“O Brasil já arrumou suas contas e, mesmo assim, o presidente do Banco Central não reduz os juros. É um absurdo, é um boicote à economia”, diz. “Campos Neto foi colocado no Banco Central por Jair Bolsonaro. É por isso que boicota a economia. Mas ele está boicotando o povo brasileiro. Quanto mais altos os juros, menos investimentos produtivos.”
Lincoln Patrocínio, dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, também esteve na manifestação e afirmou que a política de juros favorece a elite financeira. “Para o trabalhador é pesado. Talvez não seja para a grande elite, que não depende de salário, mas do rentismo. Mas para o trabalhador é suado, e o salário não aumenta de acordo com os juros.”
Telma Victor, da secretaria de informação da CUT de São Paulo, afirma que a manutenção da taxa de juros atrapalha o andamento da economia brasileira. “Perde-se a oportunidade de investir na própria economia. Quando os juros ultrapassam o que o trabalhador e a trabalhadora têm de condições reais de salário, atrapalha a vida deles e a vida econômica do país. A economia não roda.”
Para o vice-presidente da CTB, Ubiraci Dantas, a taxa de juros inviabiliza o cotidiano econômico das famílias brasileiras. “Não é possível uma taxa de juros que, nos últimos 12 meses, enviou R$ 780 bilhões para os bancos, que não produzem um prego. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), aprovada pelo Congresso Nacional, destinou mais de um trilhão de reais para os bancos”, diz. “Aí falta dinheiro para o hospital, para a saúde, para educação. Vão taxar os bancos e quem não produz nada e manda o nosso dinheiro para fora. Esse Campus Neto é um sabotador da economia.”
A campanha das entidades de defesa de trabalhadores e trabalhadoras contra os juros altos é permanente. Nesta terça-feira (30), ocorreram protestos também em Brasília, Rio de Janeiro, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Belém, João Pessoa, Recife, Salvador e Teresina. (Foto: Caroline Oliveira – BdF)
Texto: Caroline Oliveira e Nara Lacerda