A ligação entre os presidentes durou cerca de 30 minutos e foi agendada pelo presidente americano. Biden queria ouvir de Lula a posição do governo brasileiro sobre a crise política venezuelana. Lula ainda cumprimentou o líder americano caracterizando como “magnânima” a decisão de desistência à corrida eleitoral
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reiterou ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em uma conversa telefônica de cerca de 30 minutos, na tarde desta terça-feira (30), a necessidade de o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, divulgar as atas das eleições realizadas no último domingo (28). O resultado do pleito, que deu vitória a Maduro, é contestado pela oposição.
A assessoria do Planalto deu detalhes sobre a conversa. Durante a ligação Biden reforçou a importância da divulgação das atas da eleição venezuelana. Já o brasileiro informou estar recebendo informações através do enviado ao país, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim. Lula deu detalhes das reuniões que Amorim participou com Maduro e com a oposição venezuelana, que contesta o resultado divulgado e acusa Maduro de fraudar o pleito para se reeleger.
“Lula observou que tem mantido acompanhamento permanente do processo eleitoral por meio de seu Assessor Especial, Celso Amorim, enviado a Caracas. Informou que Amorim esteve com Nicolás Maduro e Edmundo González Urrutia e reiterou a posição do Brasil de seguir trabalhando pela normalização do processo político no país vizinho, que terá efeitos positivos para toda a região”, informou um trecho da nota.
“Lula reiterou que é fundamental a publicação das atas eleitorais do pleito ocorrido no último domingo. Biden concordou com a importância das divulgações das atas”, completou o documento.
O telefonema ocorreu após um pedido feito pelo presidente americano. Essas atas são os dados desagregados por mesa de votação. O Itamaraty considera que isso é um “passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.
Casa Branca elogia ‘liderança’ de Lula
A Casa Branca divulgou um comunicado sobre a conversa telefônica entre os dois presidentes. O texto elogia o que chamou de liderança de Lula em relação ao tema. ” O presidente Biden agradeceu ao presidente Lula por sua liderança na Venezuela. Os dois líderes concordaram sobre a necessidade de divulgação imediata de dados de votação completos, transparentes e detalhados no nível de seção eleitoral pelas autoridades eleitorais venezuelanas”, destaca a nota.
“Ambos partilharam a perspectiva de que o resultado das eleições venezuelanas representa um momento crítico para a democracia no hemisfério e comprometeram-se a permanecer em estreita coordenação sobre a questão”, completa o comunicado.
O Brasil ainda não emitiu um posicionamento sobre o reconhecimento das eleições. Na segunda-feira (29), o Itamaraty afirmou que aguarda a divulgação de dados oficiais. Hoje, Lula se pronunciou pela primeira vez sobre o resultado da eleição presidencial na Venezuela.
O chefe do Executivo disse que “não tem nada de grave e assustador” no resultado do pleito e que, para “resolver a briga”, é preciso que o governo de Nicolás Maduro apresente as atas. Na noite de segunda-feira (29), o PT divulgou uma nota em que reconhece a vitória de Nicolás Maduro nas eleições da Venezuela.
Biden no G20
No telefonema, Biden ainda confirmou presença na Cúpula do G20 em novembro no Rio de Janeiro e mencionou que “as economias dos dois países estão indo bem e que a parceria entre Brasil e EUA deve continuar a crescer”.
Lula convidou Biden para participar da reunião dos países democráticos contra o extremismo, que será realizada em setembro, em Nova York, à margem da Assembleia Geral da ONU. O brasileiro também cumprimentou o líder americano, caracterizando como “magnânima” a decisão de desistência à corrida eleitoral.
“Ao finalizar a ligação, o presidente brasileiro cumprimentou Biden pela ‘magnânima’ decisão quanto ao processo eleitoral americano e desejou sucesso para a democracia do país nas eleições presidenciais em novembro”, diz.
Em nota, a Casa Branca reiterou ainda o interesse em aprofundar a cooperação entre o Brasil e os EUA na aceleração da transição para as energias limpas, além de continuar a promover a Parceria para os Direitos dos Trabalhadores, lançado na Assembleia Geral das Nações Unidas.
(Foto: REUTERS/Kevin Lamarque)