O ex-presidente do PSDB paulistano Fernando Alfredo apresentou nesta quinta-feira um requerimento de pré-candidatura à prefeitura de São Paulo — num movimento que desafia o apresentador José Luiz Datena, até então único pré-candidato tucano. A escolha do representante do partido na eleição municipal será feita na convenção do PSDB e do Cidadania, marcada para sábado (27).
Em carta ao presidente da federação partidária na cidade, Mario Covas Neto, Alfredo deixa clara sua discordância com a direção tucana, que defende a candidatura de Datena. O agora também pré-candidato afirma que seu projeto nasce “longe das benesses dos gabinetes oficiais e das salas de reunião dos donos do poder, mas perto do pulsar das ruas, da militância e dos não favorecidos”.
Datena admitiu no começo desta semana que poderia vir a desistir (mais uma vez) de se candidatar caso alguém o “sacaneie”, e deixou claro que deseja ter uma convenção de “aclamação” ao seu nome — como foi o evento que oficializou a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) e tende a ser também o ato inicial da campanha de Ricardo Nunes (MDB) à reeleição.
Após as declarações, o apresentador se reuniu na quarta-feira com o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, e o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), um dos principais caciques da legenda. Em nota divulgada após o encontro, a assessoria do partido informou que o trio “ajustou os últimos detalhes da convenção” e “definiu agendas das próximas semanas e estratégias de campanha”.
Mario Covas Neto garante que Datena tem o apoio do PSDB nos níveis nacional, estadual e municipal, assim como também ocorre na cúpula da federação com o Cidadania. Sobre as falas do apresentador sobre o risco de ser alvo de “sacanagem”, o dirigente partidário diz que isso é fruto de um “mal-entendido”:
— Do ponto de vista da estrutura partidária, todo mundo está apoiando ele. Não sei o que ele esperava a mais do que está tendo.
Fernando Alfredo lidera uma ala do PSDB que defendia a reeleição de Nunes sob o argumento de que a atual gestão é a continuidade do governo Bruno Covas (PSDB, morto em 2021). Em abril, antes de o apresentador se filiar ao partido e ser anunciado pré-candidato, parte dos tucanos favoráveis ao apoio a Nunes deixou a legenda.
Os militantes contrários a Datena prometem se opor formalmente ao apresentador no dia da convenção. Alfredo afirmou ao GLOBO que deve chegar à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), palco da convenção, acompanhado de mil pessoas para enfatizar o descontentamento do grupo.
— O Datena, nos últimos dias, têm feito críticas sistemáticas ao PSDB. E isso revoltou militantes e filiados históricos. A turma tem se organizado para ir à convenção neste sábado. Vamos para a convenção apresentar uma alternativa ao nome dele, até porque eu duvido que ele vá até o final. É um triste momento para a história do PSDB — declarou.
Inicialmente, o PSDB planejava fazer sua convenção municipal em 3 de agosto, dois dias antes do prazo final estabelecido pela Justiça Eleitoral. Entretanto, decidiu antecipar o evento para 27 de julho para dar fim às “especulações” sobre a desistência de Datena. O apresentador já refugou de pré-candidaturas em quatro ocasiões.
Datena fez no último dia 17 sua primeira aparição pública em uma visita ao Mercado Municipal, o mais longe que já foi em uma empreitada eleitoral. Mas a ideia das lideranças do partido era que ele fizesse outras agendas em seguida, o que não se concretizou, alimentando rumores de que o apresentador não estaria tão engajado assim na candidatura.
Com recursos limitados para campanhas e um leque de prefeituras que hoje é apenas uma fração do que era duas décadas atrás, o PSDB vê em Datena a chance de iniciar um projeto de ressurgimento nacional. Pesquisas de intenções de voto divulgadas nas últimas semanas indicam que o apresentador larga na corrida eleitoral com algo em torno de 10% das menções — abaixo dos líderes Nunes e Boulos, mas com possibilidades reais de alcançá-los.
Caso Datena efetive a ameaça de desistir de sua candidatura, há possibilidade de uma composição do PSDB com o PSB de Tabata Amaral. As duas legendas são simpáticas a uma aliança, mas cada uma defende ter seu filiado como cabeça de chapa. O partido da pré-candidata realiza sua convenção na mesma data e horário que os tucanos. (Foto: O Globo)