O discurso teve mais de 90 minutos e quebrou o recorde de 2016, do próprio Trump, de ser o mais longo proferido por um candidato. Mais ameno no tom de voz, o candidato repetiu o discurso xenófobo e conservador da ultradireita ao encerrar a convenção Republicana, que confirmou seu nome como candidato à Presidência dos EUA
Donald Trump encerrou já na madrugada desta sexta-feira (19) a convenção Republicana em Milwaukee que selou sua candidatura à Presidência dos Estados Unidos, com um discurso longo, de pouco mais de 90 minutos. Nele, o ex-presidente usou o atentado ocorrido no sábado (13) na Pensilvânia para se vitimizar ressaltando que ele só estava lá “pela graça do Deus Todo-Poderoso”.
“Ouvi um zumbido alto e senti algo me atingir com muita, muita força na minha orelha direita”, disse ele durante um relato de 14 minutos, com um curativo grosso ainda cobrindo sua orelha. “Eu disse para mim mesmo: ‘Uau, o que foi isso? Só pode ser uma bala”. Quando ele disse à multidão de Milwaukee que “não deveria estar aqui”, os delegados gritaram de volta: “Sim, vocês estão!”
“Estou diante de vocês nesta arena apenas pela graça do Deus Todo-Poderoso. Muita gente diz que foi um momento providencial”, completou, diante de uma plateia em silêncio.
Trump com um curativo na orelha – usado como adereço por aliados radicais na plateia – adotou uma voz mais amena, mas repetiu o seu discurso xenófobo e conservador de ultradireita e fortaleceu a sua retórica de que é perseguido pela Justiça, a mando dos opositores.
“Se os democratas querem unificar o nosso país, devem abandonar esta caça às bruxas partidária, que tenho vivido há aproximadamente oito anos, e devem fazê-lo sem demora e permitir a realização de eleições que sejam dignas do nosso povo”, afirmou.
O candidato republicano ainda fez uma encenação com o uniforme e o capacete do bombeiro Corey Compatore, de 50 anos, que foi morto no tiroteio durante o comício na Pensilvânia. “Ele perdeu a vida agindo como um escudo humano”, afirmou.
Trump também ensaiou um discurso de união nacional – como aliados preconizavam -, dizendo que está “concorrendo para ser presidente de toda a América, não de metade da América”. No entanto, Trump não demorou para rasgar a pele de cordeiro e assumir sua verdadeira vocação, de incitar extremistas. “Estou concorrendo para ser presidente de toda a América, não de metade da América, porque não há vitória em vencer para metade da América”, disse ele, em um tom apaziguador inédito.
Porém, logo retomou os ataques já desgastados ao governo Biden, que ele disse estar “destruindo” o país. Ele alegou, sem provas, que as suas acusações criminais faziam parte de uma conspiração democrata, previu que o presidente Joe Biden, seu rival democrata, daria início à “Terceira Guerra Mundial” e descreveu o que chamou de “invasão” de migrantes através da fronteira sul.
No rol das sua tradicionais Fake News, Trump disparou que as “compras de supermercado aumentaram 50%, gasolina subiu de 60% a 70%, empréstimos imobiliários quadruplicaram” – na verdade, a inflação nos EUA durante o governo Biden foi de 20%. O republicano ainda repetiu o discurso de fraudes nas eleições de 2020 e, em forte tom xenofóbico, prometeu retomar o muro na fronteira com o México, culpando os imigrantes pelo declínio dos EUA.
“Temos uma crise de imigração ilegal. Uma invasão massiva em nossa fronteira sul que espalhou miséria, crime, pobreza, doença e destruição em comunidades por todo o nosso território”, afirmou, emendando que “eles [imigrantes] estão vindo de prisões e cadeias, de instituições mentais e asilos, e terroristas em níveis nunca antes vistos”.
No cenário internacional, Trump repetiu os ataques contra os “inimigos” preferenciais: Rússia, China e Cuba. “Encorajados por aquele desastre, a Rússia invadiu a Ucrânia. Israel sofreu o pior ataque de sua história. Agora a China está cercando Taiwan, e navios de guerra e submarinos nucleares russos estão operando a 60 milhas de nossa costa, em Cuba”, afirmou.
No fim do seu discurso, Trump fez nova promessa ao falar sobre a ação genocida de Israel em Gaza e afirmou que, a exemplo dos sionistas, construirá um “domo de ferro”, sistema de defesa antiaéreo – para proteger os EUA. “Construiremos um sistema de defesa antimísseis Iron Dome para garantir que nenhum inimigo possa atacar a nossa pátria. E este grande Iron Dome será construído inteiramente nos EUA. Israel tem um Iron Dome. Eles têm um sistema de defesa antimísseis”.
(Foto: Joe Raedle/Getty Images)