Quaest: 66% concordam com críticas de Lula à política de juros do Banco Central

Pesquisa Genial/Quaest aponta, ainda, que 53% dos entrevistados avaliam que as declarações do presidente Lula não contribuíram para a alta do dólar. Outros 90% concordam com as falas do presidente de que salário mínimo deve ser ajustado acima da inflação

 

As críticas feitas nas últimas semanas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central foram bem vistas pela maior parte da população, de acordo a nova pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (10). Dois terços dos entrevistados (66%) responderam concordar com as afirmações de Lula contrárias a política de juros para a instituição, enquanto 23% discordam e 11% não sabem ou não responderam.

O chefe do Executivo federal retomou os ataques ao BC e ao presidente Roberto Campos Neto há cerca de um mês, ainda antes da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu por unanimidade em interromper a queda do ciclo de juros, mantendo a Selic em 10,5% ao ano.

Entre as críticas, o presidente pontuou que o BC é um banco do Estado brasileiro e que não pode estar a serviço do mercado financeiro. Lula ainda afirmou que Campos Neto tem lado político e que trabalha para prejudicar o país.

A aprovação das falas de Lula foi alta tanto entre seus apoiadores quanto em relação a eleitores de Jair Bolsonaro. Entre os entrevistados que votaram em Lula, 77% concordaram com as críticas feitas a alta de juros e 66% dispensaram a possibilidade de que as falas do presidente tenham sido a principal razão pela alta do dólar. Somente cerca de 16% de apoiadores do presidente nas últimas eleições discordaram de suas afirmações relacionadas ao Banco Central, e 8% não souberam responder.

O posicionamento do petista diante da decisão do Copom de manter a taxa básica de juros a 10,50% também foi bem vista entre apoiadores de Jair Bolsonaro. A maioria daqueles que votaram no ex-presidente também concordam com apontamentos de Lula contrários a atuação do Banco Central, 36% discordam e 13% não souberam responder.

Segundo a pesquisa, 53% dos brasileiros afirmaram que Campos Neto tende a usar critérios técnicos na condução do BC. Já para 28% ele não usa, e 19% não sabiam ou não responderam. O presidente também constantemente ressaltou que o chefe da autarquia monetária foi indicado pelo ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL).

Apesar dos reiterados ataques de Lula, 69% dos entrevistados pela Genial/Quaest afirmaram não saber que o ex-presidente havia nomeado Campos Neto para o comando do BC, contra 29% que tinham conhecimento do fato e 2% que não sabiam ou não responderam.

Os entrevistados também corroboram as falas recentes do presidente de que salários deveriam subir acima da inflação (90%), que juros no Brasil são muito altos (87%) e carnes consumidas pelos mais pobres deveriam ser isentas de impostos.

Cinquenta e três por cento dos entrevistados afirmaram ainda que não acreditam que as falas do presidente tenham sido a principal razão da alta do dólar, enquanto 34% dos eleitores que responsabilizaram Lula pela escalada da moeda norte-americana.

Em relação às maiores preocupações da população, houve pouca mudança em relação à pesquisa de maio. Saúde segue no topo do ranking, com 15%, seguido por economia/crise/inflação (12%), violência/criminalidade (12%), desemprego (9%), fome (10%) e corrupção (10%).

Em relação ao poder de compra dos brasileiros, contudo, há uma unanimidade entre todas as classes sociais de que ela é menor atualmente se comparada ao ano anterior, entrando nessa categoria o valor dos combustíveis, dos alimentos e da energia. Mas a maioria dos entrevistados (52%) diz estar otimista e espera por uma melhora econômica nos próximos 12 meses.

A pesquisa da Quaest constatou ainda que é alto o índice de conhecimento e aprovação de programas e iniciativas do governo. Os programas sociais avaliados foram Farmácia Popular (86% conhecem e aprovam), Bolsa Família (80%), Desenrola (73%) e Pé de Meia (60%). O novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é conhecido e aprovado por 44%, porém desconhecido por 51%, com desempenho semelhante ao do programa Acredita, desconhecido por 56% da população.

A pesquisa foi realizada entre os dias 5 e 8 de julho e ouviu 2 mil eleitores com 16 anos ou mais, distribuídos em 120 municípios. O índice de confiança do levantamento é de 95%.

 

Crise entre Lula e o Banco Central

Depois de um esforço de convencimento por parte de seus auxiliares, a estratégia do Palácio do Planalto foi mudar o alvo dos ataques. Lula passou a dar mais entrevistas nas últimas semanas, e centralizou as críticas no presidente do BC, Roberto Campos Neto, sob o argumento dele ter sido indicado por Bolsonaro na gestão anterior.

Lula subiu o tom contra Campos Neto após ele se reunir com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de Jair Bolsonaro e um dos nomes da direita para concorrer à Presidência em 2026. Na ocasião, segundo o jornal Folha de S.Paulo, o presidente do BC disse que aceitaria ser ministro da Fazenda em um eventual governo de Freitas.

Após esse acontecimento, o petista concedeu sete entrevistas em duas semanas a mídias de diferentes estados. As conversas foram marcadas por críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e a taxa básica de juros em 10,5% ao ano. Com a alta do dólar, o presidente recuou novamente e passou a reafirmar o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal.

(Foto: Reprodução)

 

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