Levantamento do Mapbiomas mostra que em 39 anos, o Brasil ficou mais seco e perdeu 30,8% de corpos hídricos naturais
A seca vista hoje no Pantanal não veio de repente. De acordo com levantamento do MapBiomas, o Pantanal foi o bioma que mais secou no país desde 1985. A área coberta por água no Brasil diminuiu 1,5% em 2023, na comparação com a média histórica calculada desde 1985. O Pantanal sofreu redução drástica de sua superfície hídrica. O bioma foi o que mais secou proporcionalmente, com uma redução de 61% em relação à média histórica.
Uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta, o Pantanal enfrenta queimadas severas em 2024. Foram 3.262 focos entre 1º de janeiro e 23 de junho, 22 vezes a quantia registrada no mesmo período de 2023. “Em 2024, nós não tivemos o pico de cheia. O ano registra um pico de seca, que deve se estender até setembro. O Pantanal em extrema seca já enfrenta incêndios de difícil controle”, disse Eduardo Rosa, do MapBiomas.
Segundo a pesquisa, a superfície hídrica brasileira sofreu reduções mensais ao longo de todo o ano passado, incluindo a Amazônia e o Pampa. Em 2023, a área coberta por água correspondia a duas vezes o tamanho de Portugal. Corpos hídricos naturais, como rios e lagos, eram 77% da superfície de água no país em 2023; outros 23% são antrópicos, como reservatórios, hidrelétricas, aquicultura e mineração.
Os dados apresentados pelo MapBiomas resultam de uma análise de imagens de satélite com a ajuda de inteligência artificial. Foram processadas mais de 150 mil imagens de satélite.
Amazônia e Pampa
A Amazônia foi o segundo bioma que mais perdeu superfície hídrica. A redução foi de 3,3 milhões de hectares em relação à média histórica. Em 2023, a superfície hídrica na Amazônia foi de quase 12 milhões de hectares. Em terceiro lugar vem o Pampa, que apresentou uma superfície de água 40% inferior à média histórica.
O cenário de seca é agravado pelas mudanças climáticas, segundo o coordenador Técnico do MapBiomas Água, Juliano Schirmbeck. “Enquanto o Cerrado e Caatinga estão experimentando aumento na superfície da água devido à criação de hidrelétricas e reservatórios, outros [biomas], como a Amazônia e o Pantanal, enfrentam uma grave redução hídrica, levando a significativos impactos ecológicos, sociais e econômicos. Essas tendências agravadas pelas mudanças climáticas ressaltam a necessidade urgente de estratégias adaptativas de gestão hídrica”, explicou Schirmbeck.
Queimadas intensas no Pantanal
A crise no Pantanal se intensificou com os incêndios que destruíram cerca de 600 mil hectares do bioma somente neste ano. Na segunda-feira (24), o governo de Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência devido à gravidade dos incêndios.
Junho foi marcado pela intensidade das queimadas, que devastaram uma grande parte do bioma. No primeiro semestre, a região registrou a maior quantidade de focos de incêndio desde 1988, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) começou a monitorar queimadas no Brasil.
A Amazônia, que abriga 62% da superfície de água do Brasil, também enfrentou uma redução significativa na área coberta por água. Em 2023, a superfície hídrica na Amazônia foi de quase 12 milhões de hectares, 3,3 milhões abaixo da média histórica. O déficit hídrico levou a episódios de seca severa, com impactos devastadores sobre a vida aquática e as comunidades ribeirinhas.
No Cerrado, em contrapartida, houve um aumento na superfície de água, atingindo 1,6 milhão de hectares, a maior desde 1985. Este aumento é atribuído principalmente à criação de hidrelétricas e reservatórios.
(Foto: Gustavo Figueiroa)