Henrique Acker (correspondente internacional) – O grande vencedor da eleição ao Parlamento Europeu (PE) foi a aliança entre o grande capital financeiro-especulativo, os produtores de armas e as grandes holdings, que continuarão dando as cartas na União Europeia (UE).
A grosso modo, essa política determina como prioridades, neste momento, o socorro e apoio à Ucrânia em verbas e armas, e as elevadas taxas de juros definidos pelo Banco Central Europeu (acima dos 4%) há mais de um ano. Bancos privados, indústria armamentista e OTAN agradecem.
O bloco de partidos da direita tradicional vai indicar Úrsula Von Der Leyen para seguir a frente da Comissão Europeia e gerir as instâncias da União Europeia. No entanto, o setor que mais cresceu nesta eleição foi a extrema-direita, que inclui partidos neofascistas e até o neonazista Alternativa para a Democracia – AfD, da Alemanha.
Abalos na França, Alemanha e Bélgica
A crise da União Europeia é tão evidente que a extrema-direita venceu na França, Itália e chegou em segundo lugar na Alemanha, três dos países de maior peso econômico do bloco. Partidos neofascistas também venceram na Áustria e na Hungria e tiveram desempenho importante em muitos dos 27 países da UE.
O avanço da extrema-direita nesta eleição fez cair os governos da França e da Bélgica, além de fragilizar ainda mais o governo da Alemanha. Esta foi a primeira eleição ao PE em que houve uma articulação entre os partidos neofascistas.
A legalização de partidos neofascistas na Europa foi permitida a partir dos anos 2000, com a tese liberal de que é melhor manter a extrema-direita legalizada do que combatê-la na ilegalidade. Com a crise do capitalismo nas últimas décadas, no entanto, a extrema-direita passou a lançar mão de redes sociais, espalhando notícias falsas e construindo a imagem de lideranças fortes, como D. Trump, J. Bolsonaro e J. Milley.
Somados, os dois blocos de partidos da extrema-direita no Parlamento Europeu (Reformistas e Conservadores, e Identidade e Democracia), alcançam 131 deputados. Com os votos de outros partidos sem filiação, como o Fidesz, da Hungria, e da AfD, partido neonazista da Alemanha, este número pode chegar a mais de 150 deputados. Ou seja, a segunda maior bancada do PE.
Bancos nadam de braçada
Enquanto os europeus apertam os cintos, os maiores bancos da Europa ultrapassaram pela primeira vez os 100 mil milhões de euros (108 mil milhões de dólares) em lucros durante o ano de 2023. O aumento das taxas de juro é o principal responsável pelos números recorde.
O rendimento líquido combinado dos 20 maiores bancos da Europa continental referente a 2023 disparou para 103 mil milhões de euros, contra 78 mil milhões de euros registrados no ano anterior, mostram dados compilados pela Bloomberg.
A agência de crédito global DBRS diz que, com poucas exceções, os bancos europeus tiveram resultados “excepcionalmente fortes” em 2023 e fala num “tremendo aumento da rentabilidade” devido à subida da margem financeira (diferença entre juros cobrados nos créditos e juros pagos nos depósitos), enquanto o custo do crédito se manteve baixo.
Indústria armamentista agradece
Em 2022 a UE desembolsou 6,1 bilhões de euros para financiar a guerra na Ucrânia. Outros 18 bilhões € foram repassados em 2023, além dos 5 bilhões do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz (MEAP). A partir de 2024, outros 50 bilhões € estão à disposição da Ucrânia, em parcelas até 2029.
As importações de armas na Europa quase duplicaram nos últimos cinco anos devido à guerra na Ucrânia, que permitiu aos Estados Unidos reforçar a sua liderança no comércio mundial de armamento, segundo o Instituto Internacional de Estocolmo para a Investigação.
Pelo menos 30 países forneceram armas à Ucrânia desde a invasão russa de território ucraniano, em 24 de fevereiro de 2022. Os Estados Unidos, com 39%, foram o principal fornecedor, seguido da Alemanha (14%) e da Polônia (13%). O estudo revela também que França ultrapassa pela primeira vez como segundo exportador mundial a Rússia.
A guerra na Ucrânia fez aumentar nos últimos cinco anos as compras de armas e munições em 94% na Europa, que ampliou a sua dependência dos Estados Unidos (de 35% para 55% do volume total adquirido).
Por Henrique Acker (correspondente internacional)
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Fontes:
CNN Portugal
Euronews
Resultados da eleição para o PE 2024
DW
Ajuda da UE à Ucrânia
Exame
https://exame.com/mundo/uniao-europeia-aprova-ajuda-de-50-bilhoes-de-euros-para-ucrania/
Euronews
Lucros dos bancos europeus
Executive Digest
Expresso
Compra e venda de armas
CNN Portugal
RTP
(Legenda da Foto: Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, discursa após eleição do Parlamento Europeu — Foto: John Thys/AFP)