OTAN quer permitir uso de suas armas em ataques contra a Rússia

Henrique Acker (correspondente internacional)  – A Assembleia Parlamentar da OTAN, instituição independente da Aliança Atlântica, aprovou em 27 de maio declaração de apoio à Ucrânia para atacar alvos militares na Rússia também com armas fornecidas por países aliados. A resolução contou com o apoio de 47 representantes dos 56 países e instituições que formam a OTAN.

Em resposta, o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, em entrevista ao jornal Izvestia e a REN TV, acusou a OTAN de “aumentar o grau de escalada” do conflito na Ucrânia. Questionado se a OTAN está se aproximando de um confronto direto com a Rússia, Peskov foi taxativo: “Não estão se aproximando. Estão fazendo”.

Vários países da Aliança que enviaram armas à Ucrânia para ajudar o país a se defender da invasão russa, iniciada em 2022, impuseram como condição que o equipamento não fosse utilizado para atacar posições militares em solo russo.

 

Autodefesa

Em declaração à imprensa, Jens Stoltenberg, secretário-geral da OTAN, afirmou ter chegado o momento de acabar com a restrição, argumentando que atacar alvos militares em solo russo, a partir dos quais a Ucrânia está sendo bombardeada, é uma forma legítima de autodefesa.

Apesar disso, Stoltenberg afirmou que o principal objetivo é garantir que o conflito não se estenda para fora da Ucrânia ou se transforme num confronto entre a OTAN e a Rússia.

“Os aliados devem decidir sobre as restrições à utilização de armas em alvos militares legítimos do outro lado da fronteira, esta não é uma questão da OTAN. Mesmo agora, alguns membros têm restrições e outros não”, admitiu o secretário-geral.

 

Alemanha e Itália contra

O chanceler da Alemanha e a chefe do Governo da Itália recusaram a proposta de permitir que a Ucrânia utilize as armas que lhe são fornecidas contra alvos localizados em território russo, em resposta ao secretário-geral da OTAN.

“Não sei por que o senhor Stoltenberg disse tal coisa, acho que temos que ter muito cuidado”, disse Georgia Meloni a um canal de televisão no dia anterior à resolução da OTAN.

Também o chanceler alemão, Olaf Scholz, recusou a possibilidade afirmando que há “regras claras que se acordaram com a Ucrânia e que funcionam”, durante uma conversa com cidadãos na ‘Festa da Democracia’, em Berlim.

Em visita oficial a Madri, o Presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky também ouviu do Presidente Pedro Sánchez que a ajuda de 1,1 bilhão de euros concedida pela Espanha é destinada a equipamentos de caráter defensivo, visando preservar a população ucraniana. Zelensky também visita Lisboa no dia 28 de maio, para assinar tratados com o governo português.

 

Duas cimeiras: uma pela paz, outra para a guerra

Apesar da convocação da Cimeira pela Paz na Ucrânia, a realizar-se nos dias 15 e 16 de junho, na Suíça, o secretário-geral da OTAN anunciou que pretende formar uma entidade permanente para o fornecimento obrigatório de armas à Ucrânia e o seu financiamento. A proposta deverá sair da conferência da organização, a realizar-se em julho, em Washington.

Segundo Jens Stoltenberg, o orçamento ainda não foi acordado. O secretário-geral disse anteriormente que era necessário criar um fundo militar permanente da OTAN para a Ucrânia, no valor de 100 mil milhões de dólares por ano.

Em comentário na CNN Portugal, o major-general da reserva, Agostinho Costa, alertou para as consequências da escalada do conflito. Com base em imagens aéreas, ele afirmou que foram realizados bombardeios a radares de defesa nuclear russos, um em Krasnodar e outro em Orenburg. Segundo Costa, esse tipo de ataque só é possível com o apoio dos EUA e já poderia resultar numa resposta de Moscou.

 

Zelensky em Madri e Lisboa

Em Madri resposta aos jornalistas sobre o fato da Rússia não ter sido convidada para a conferência de paz na Suíça, Zelensky voltou a repetir que não é possível confiar no governo russo. A Cimeira da Suíça será nos dias 15 e 16 de junho, na cidade de Bürgenstock.

Cerca de 160 países foram convidados para o evento. Apesar de não ter enviado convite à Rússia, o governo suíço emitiu comunicado reconhecendo ser imprescindível a participação russa, alegando que Moscou recusou tomar parte na conferência.

O governo chinês também não deve comparecer ao evento na Suíça. “A China apoia a convocação oportuna de uma conferência internacional de paz, aprovada pelos lados russo e ucraniano, com participação igualitária de todas as partes e discussão justa de todas as opções para a paz”, disse o embaixador chinês no início de maio, em entrevista à agência de notícias russa RIA Novosti.

 

Por Henrique Acker (correspondente internacional)

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