Henrique Acker (correspondente internacional) – A ditadura militar que vigorou no Brasil por 21 anos (1964/1985) deixou um rastro de destruição do ponto de vista econômico, social, cultural e político. Seu final, melancólico, provou que a mais precária democracia é infinitamente superior a qualquer regime ditatorial. A dívida deixada pelos que comandaram aqueles anos de chumbo permanece, com juros e correção monetária, presente no Brasil de hoje.
É inadmissível que a cúpula das Forças Armadas ainda se orgulhe do golpe e eduque seus aspirantes nas escolas militares com a ideologia da Lei de Segurança Nacional, que nada mais é do que uma política antipovo. É vergonhoso que o Brasil tenha exportado técnicas de infiltração, tortura, assassinato e desaparecimento de pessoas para as ditaduras do Cone Sul, na chamada Operação Condor, e que nenhum dos mandantes e torturadores/assassinos brasileiros tenha sido condenado por seus crimes.
Para lembar as marcas daquele período, publicamos os números da máquina de tortura e morte da ditadura militar (1964/1979), com base em dados do Projeto Brasil Nunca Mais e nas informações da Comissão Nacional da Verdade:
. Cerca de 50 mil brasileiros foram presos, acusados de conspirar contra o regime;
. Cerca de 20 mil foram torturados;
. 10 mil foram atingidos em inquéritos em 707 processos por crimes contra a segurança nacional;
. 7.367 foram diretamente acusados de crimes contra a segurança nacional;
. 6.500 militares foram cassados, sem vencimentos, e 1.300 passados para a reserva;
. 4.860 civis tiveram seus direitos cassados;
. 434 brasileiros foram mortos ou permanecem desaparecidos;
. 377 agentes e seus mandantes participaram direta ou indiretamente de tortura e assassinatos contra opositores da ditadura militar.
Ainda assim, a tímida democracia que conquistamos é mérito da luta de todos os brasileiros que sofreram direta e indiretamente nas mãos da ditadura. É a eles que o Brasil deve render homenagens em 31 de março. Aos que patrocinaram e executaram os crimes da ditadura deixemos que comemorem em ambientes privados, no 1 de abril, o dia da mentira.
Esta é só mais uma tentativa de contar um pouco do que foi a ditadura militar no Brasil. Uma pequena contribuição para que as futuras gerações entendam a importância de passar a limpo este triste episódio da História do nosso país. Certamente muitas passagens e episódios ficaram de fora, podem e devem ser pesquisados, mas a intenção é que essas linhas sirvam de reflexão para as atuais e futuras gerações de brasileiros.
Obs: O Clube Militar levantou uma lista de 126 militares e civis mortos “em combates”, na defesa do regime militar. Mas, ao contrário das apurações da Comissão Nacional da Verdade e das comissões estaduais, não apresentou as circunstâncias em que essas mortes teriam acontecido. (Fotos: Internet/Reprodução)
Fontes:
https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/nunca/07.pdf
http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/institucional-acesso-informacao/acervo.html
Por Henrique Acker (correspondente internacional)