Henrique Acker (correspondente internacional) – A crise internacional nos anos 70 e a política de arrocho salarial da ditadura militar provocaram o descontentamento popular. Foi isso que levou os trabalhadores do ABC paulista e de diversas categorias a uma onda de greves no final dos anos 70 e início dos 80, com a retomada de seus sindicatos e organização da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
O movimento grevista desencadeou uma nova energia de luta popular, obrigando a ditadura militar a recuar.
O trabalho das Comunidades Eclesiais de Base (CEB), da Igreja Católica, as comissões de luta contra a carestia e os comitês pela anistia dos presos e exilados vieram na esteira, organizando protestos e obrigando o regime a convocar eleições para governadores em 1982, e forçando os militares a negociar a transição para a democracia.
Infelizmente a correlação de forças no Congresso Nacional levou a um acordo que anistiou tanto os que combateram a ditadura quanto os torturadores e seus mandantes.
Não por acaso, o então Presidente João Baptista Figueiredo advertiu com o chamado “prendo e arrebento” quem fosse contra a abertura lenta e gradual do regime.
Apesar da massiva campanha por eleições livres e diretas, que tomou as capitais do país nos primeiros anos da década de 80, o retorno à democracia teve que ser negociado com as forças reacionárias dentro do Congresso Nacional, dando origem ao governo de transição de Tancredo Neves e José Sarney.
Mesmo com a promulgação da nova Constituição (1988), prevaleceu um abismo entre o povo brasileiro e a possibilidade de um projeto de nação voltado para a maioria.
Até o final do governo Bolsonaro, todos os ministros da Defesa e os comandantes militares exaltaram o papel das Forças Armadas nos 21 anos de ditadura que infelicitaram o Brasil, publicando ordens do dia e promovendo comemorações nos quartéis, em defesa do golpe militar de 31 de março de 1964.
Na imagem, principal, foto de Vladimir Herzog morto nas dependências de tortura do DOI-Codi ( Departamento de Operações de Informações, que se tornaria conhecido como a central de tortura e assassinato dos adversários do regime militar. Registro realizado pelo fotógrafo Silvaldo Leung Vieira no dia 25 de outubro de 1975, a foto mostrar Vladimir supostamente enforcado, mas revela também o corpo do jornalista com os pés no chão, uma situação inesperada para quem pretensamente comete suicídio. (Fotos: Reprodução)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)