Henrique Acker (correspondente internacional) – Semanas depois de se ver obrigado a nomear um novo primeiro-ministro, o governo conservador de Emmanuel Macron já enfrenta outra crise. Uma gigantesca mobilização de agricultores, que começou na semana passada, promove um cerco a Paris. Eles prometem permanecer mobilizados até que o Conselho da União Europeia discuta medidas que aliviem as regras impostas ao setor.
Os agricultores da França, maior produtor agrícola da União Europeia, queixam-se da concorrência desleal por parte de rivais em países com uma regulamentação menos restritiva. Lutam também contra a queda de rendimentos, as aposentadorias baixas, a complexidade administrativa e a inflação.
As grandes importações provenientes da Ucrânia, para as quais a UE renunciou a quotas e direitos desde a invasão russa, e as novas negociações para concluir um acordo comercial entre a UE e o bloco sul-americano Mercosul, alimentaram o descontentamento em relação à concorrência desleal nos sectores do açúcar, dos cereais e da carne.
Para amenizar a crise, o governo apresentou medidas de emergência, incluindo uma isenção fiscal sobre o diesel agrícola, o compromisso de negociar com a União Europeia a revogação da obrigação de deixar 4% das terras em repouso, além da aceleração dos pagamentos da Política Agrícola Comum (PAC), da qual a França é o principal beneficiário, com 9 bilhões de euros por ano.
Nova lei restringe direitos dos imigrantes
Cerca de 15 mil policiais foram mobilizados para acompanhar os protestos, mas a repressão ao movimento dificilmente vai surtir efeito. A mobilização obteve forte adesão em todo o país, e os manifestantes fecham estradas e grandes vias de acesso com tratores e outras máquinas agrícolas.
Em dezembro, o parlamento francês aprovou nova legislação, que restringe direitos aos imigrantes, provocando grandes manifestações populares que tomaram as ruas de Paris e outras cidades do país. Foi o estopim para o pedido de demissão da então primeira-ministra Elisabeth Borne e sua substituição pelo ex-ministro da Educação, Gabriel Attal.
A nova legislação condiciona o pagamento de prestações sociais a cinco anos de presença legal na França, restringe o direito de residência legal e o reagrupamento familiar, reduz as autorizações de residência (incluindo estudantes e pessoas doentes). Além disso, a lei exclui de alojamento de emergência pessoas sem documentos sujeitas à obrigação de saída do país, reforça os obstáculos à integração, reinstaura o crime de residência ilegal, com medidas como prisão e deportação. (Foto: REUTERS)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)