Henrique Acker (correspondente internacional) – Acontece neste final de semana (13 de janeiro) a eleição para Presidente e a renovação do parlamento de Taiwan – também conhecida por Formosa -, ilha chinesa que vive sob um regime separatista da China continental desde 1947. Três candidatos disputam o pleito e as pesquisas indicam leve favoritismo para William Lai, do Partido Democrático Progressista (DPP), atualmente no poder e aliado dos EUA.
A eleição taiwanesa passou a ter cada vez mais importância no cenário político internacional, desde que o governo dos EUA reforçou laços com seus aliados asiáticos, realizou manobras militares conjuntas no Mar da China e fez ameaças contra o governo de Pequim, que considera a ilha como parte de sua política de “Uma só China”.
Os dois partidos da oposição não chegaram a um acordo para a apresentação de um candidato comum. O KMT e o TPP, que tendem a estreitar os laços com a China, acabaram por apresentar os seus próprios candidatos, o que facilitou a tarefa do DPP, partido governista abertamente independentista e pró-EUA.
Lai (DPP) lidera nas sondagens, com o apoio de 37,3% dos entrevistados, seguido de Hou Yu-ih (KMT), com 33,4%, e Ko Wen-je (TPP), com 17,7%. Analistas alertam que o candidato eleito não deve obter e nem conseguir formar maioria no parlamento, o que dificultará a vida do próximo governo.
Interesses econômicos estratégicos
O outro motivo importante desta eleição tem quatro letras: “TSMC”. A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company, com sede em Hsinchu, é responsável por grande parte dos semicondutores usados em telefones celulares, laptops, carros, geladeiras, televisores e também em sistemas de armas digitais no mundo inteiro.
Considerada por muitos como a melhor e mais eficiente fabricante de semicondutores do mundo, a TSMC mantém plantas que produzem cerca de 25% dos chips do planeta – usados em praticamente tudo que tem um botão de “liga/desliga”: carros, aviões, celulares, computadores e também torradeiras, rádios a pilha e até lâmpadas. Trata-se de um mercado disputado por outras empresas do setor, como Intel e AMD.
Usados em tudo, os chamados semicondutores são hoje conhecidos como o “novo petróleo”. É o meio pelo qual Taiwan desenvolveu estreitas relações comerciais com vários parceiros ocidentais. Hoje a ilha produz 60% de todos os semicondutores a nível global. Mas é nos chips de altíssima tecnologia e grande capacidade de processamento que a TSMC se destaca da concorrência: 90% do mercado é dela.
Pressões dos dois lados
China e EUA acusam-se mutuamente de interferência no processo eleitoral. Washington já declarou que pretende enviar uma comissão para acompanhar o processo eleitoral até a posse do novo presidente, em maio. A China, por sua vez, estaria patrocinando propaganda via internet, visando influenciar o eleitorado.
A dois dias da ida às urnas, Pequim voltou a alertar para os “riscos” de Lai vencer, considerando o candidato do DPP como um “obstinado defensor da independência de Taiwan” que irá promover ainda mais “atividades separatistas” se triunfar, reforçando a ideia de que estas eleições representam uma escolha entre “a guerra ou a paz”. (Foto: REUTERS)
Por Henrique Acker (correspondente internacional)