O que se passou no dia 8 de janeiro de 2023 não foi uma manifestação legítima de descontentes com o resultado eleitoral. Manifestantes que prezam pela democracia não acampam semanas na frente de quartéis para pedir intervenção militar. Tampouco se reúnem na capital do país para marchar e promover invasão e quebra-quebra das sedes dos Três Poderes.
Promotores, financiadores e atores daquela arruaça, derrotados nas urnas, tinham por objetivo atentar contra a democracia. Até agora, apenas algumas dezenas de participantes dos atos terroristas foram sentenciados, apesar dos processos que correm na Justiça.
É louvável a iniciativa do Congresso e do STF em apurar os acontecimentos. Mas ainda estamos longe de juntar os fatos e apontar os diversos envolvidos para se chegar a conclusões. O ex-presidente e boa parte de seu staff, formado por ex-oficiais das Forças Armadas, que cansaram de ameaçar as instituições democráticas e inventar quimeras sobre as urnas eletrônicas, ainda estão livres, leves e soltos.
A vida política brasileira – cujas classes dominantes estão acostumadas a promover arranjos e “jeitinhos” que nada resolvem e a ninguém incriminam – já absolveu e absorveu golpes e golpistas. Estão aí, até hoje, as marcas profundas de desigualdade e violência deixadas pela ditadura militar de 1964. Nenhum torturador e mandante foi julgado e preso pelos crimes cometidos naqueles anos de ditadura.
O 8 de janeiro de 2023 não pode passar impune ou se tornar apenas mais uma data condenada ao esquecimento. A punição de mandantes, financiadores e executores da tentativa de golpe deve ser exemplar, para que a democracia brasileira deixe de ser mera formalidade de palácios e parlamentos e possa ser sentida nas ruas, bairros, favelas e periferias.
Aos que não concordarem com a vida democrática, restará o caminho do protesto, que só a mais plena democracia permite. Mas jamais atentar contra a democracia e as suas instituições, sob pena de serem julgados e condenados exemplarmente. A democracia só se afirma e avança se os cidadãos tiverem a convicção de que ela é um bem comum a ser aprimorado. Nunca ser ameaçado e atropelado pela forç09a bruta da vontade de quem quer que seja.
Por Henrique Acker (correspondente internacional do Opinião em Pauta)
(Foto: Gabriela Biló/Folhapress)