Quadro afetou rios e a biodiversidade da região
Uma notável escassez de precipitação atingiu todos os nove países que compõem a Bacia Amazônica durante os meses de julho a setembro deste ano, o que representa os menores índices em mais de quatro décadas. É o que constata uma pesquisa recente realizada pelo Centro Científico da União Europeia. Segundo o levantamento, esse cenário impactou negativamente os cursos d’água e a biodiversidade, sobretudo nas nascentes dos rios Purus, Solimões, Madeira e Juruá. Isso impacta a região centro-sul do estado do Amazonas e se estende até os países mais ao sul da floresta, como Peru e Bolívia.
No Amazonas, a situação ficou crítica, pois as chuvas variaram de 100 a 350 milímetros abaixo do normal, o que corresponde a cerca da metade do esperado para a região. Além do índice pluviométrico, o estudo confirmou que, de agosto a novembro, uma série de ondas de calor elevou a temperatura para uma marca recorde nessa época do ano. As máximas nesses meses ficaram de 2 graus Celsius (°C) a 5°C acima da média histórica.
Divulgado pelo governo amazonense, no último sábado, um novo boletim aponta que todas as 62 cidades do estado seguem em situação de emergência, com mais de 630 mil pessoas afetadas pela seca. Além disso, há também o risco para a fauna, a elevação no risco de incêndios e as dificuldades que as comunidades ribeirinhas têm com o transporte essencialmente hidroviário.
No Senado, o diretor-geral do Inpe, Clézio De Nardin, explicou que a seca e a falta de chuva na região se agravou pelo aumento de temperatura registrado no Atlântico Norte, o que inibe o crescimento da transpiração na Amazônia. O ciclo de crescimento da temperatura do Atlântico Norte leva as correntes e, quando chega em cima da Amazônia, elas forçam a corrente de ar para baixo, evitando a formação de nuvens, evitando as chuvas e isso causa as secas.
Soma-se a isso as correntes do El Niño. Com parte do Oceano Pacífico aquecido, os ventos que seguem na direção leste-oeste, sobre a cordilheira dos Andes, formam uma espécie de barreira sobre o território brasileiro. Numa retrospectiva, o Observatório do Clima (OC) diz que a maior bacia fluvial do planeta viu milhares de seus habitantes isolados e sem acesso à água, na terceira seca recorde enfrentada pela Amazônia desde 2005.
“Desta vez, a fatal combinação do El Niño com o aquecimento global fez o rio Negro chegar ao menor nível desde o início dos registros. Em Rondônia, o rio Madeira desceu tanto que forçou a suspensão de operações na hidrelétrica de Santo Antônio”, registra.
Além da estiagem, uma das piores em 120 anos, o OC registra que vieram queimadas e incêndios florestais que deixaram Manaus, Santarém e centenas de cidades menores e povoados rurais encobertos por fumaça e populações inteiras sufocadas.
(Foto do Rio Negro seco: Euzivaldo Queiroz/A Crítica/Reuters)