Os Estados Unidos, que têm poder de veto, criticou o fato da resolução brasileira não mencionar o direito de autodefesa de Israel. Rússia diz que veto estadunidense representa ‘hipocrisia’ e ‘fracasso da política externa’ de Washington
O Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) rejeitou, nesta quarta-feira (18), uma resolução proposta pelo Brasil de encontrar uma saída diplomática para o conflito entre Israel e o grupo radical Hamas, que entra no 12º dia de confrontos. O texto, votado na manhã desta quarta, foi vetado pelos Estados Unidos (EUA), contrários a um cessar-fogo imediato na região. No documento, o Itamaraty pedia que os envolvidos no conflito executassem uma pausa humanitária nas ações em Gaza. O voto americano sepulta a proposta do Brasil já que os Estados Unidos possuem assento permanente no órgão, o que lhe dá o direito de veto.
Doze países votaram a favor do texto brasileiro: Brasil, China, França, Albânia, Equador, Gabão, Gana, Japão, Malta, Moçambique, Suíça e Emirados Árabes Unidos. Rússia e Reino Unido se abstiveram e apenas os EUA votaram contra. O texto brasileiro estava organizado em 11 pontos. No documento, o Itamaraty rejeitava os ataques promovidos pelo Hamas, no dia 7 de outubro, exigia a imediata soltura dos reféns civis, e condenava “toda violência e hostilidades contra civis e todos os atos de terrorismo”.
A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, afirmou que o país ficou “desapontado” com o fato da resolução não mencionar o direito de autodefesa de Israel. O Brasil tenta construir um consenso para proteger os civis no conflito entre Israel e o grupo extremista Hamas. O documento condenava o Hamas e requeria a “libertação imediata e incondicional de todos os reféns civis, exigindo a sua segurança, bem-estar e tratamento humano, em conformidade com o direito internacional”.
O texto brasileiro também pedia revogação imediata da ordem de evacuação, feita por Israel, das áreas do norte da Faixa de Gaza, além da criação de pausas humanitárias para permitir o acesso seguro e “ininterrupto” de ajuda. Nesse sentido, a proposta enfatizava a necessidade de fornecer bens e serviços essenciais, como eletricidade, água, alimentos e suprimentos médicos, para garantir a sobrevivência da população civil.
Desde a contraofensiva israelense após o Hamas atacar Israel no dia 7 de outubro, Gaza vive em um cerco total. O corte de serviços essenciais colabora para o colapso de hospitais. “As pessoas em Gaza têm acesso severamente limitado à água potável. Como último recurso, elas estão consumindo água salobra proveniente de poços agrícolas, o que suscita sérias preocupações quanto à propagação de doenças transmitidas pela água”, ressaltou a Agência das Nações Unidas de Assistência e Trabalho para Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA).
Anteriormente, uma outra resolução sobre a crise, apresentada pela Rússia, também foi rejeitada pelo Conselho de Segurança da ONU. Cinco países votaram a favor do documento. Os EUA, Reino Unido, França e Japão votaram contra. Outros seis países se abstiveram de votar, incluindo o Brasil. O documento russo apelava a um cessar-fogo imediato e à libertação de todos os prisioneiros, além de condenar a violência e as hostilidades contra civis.
O Conselho de Segurança da ONU não aprova uma resolução sobre a crise no Oriente Médio desde 2016. A organização vem enfrentando críticas por não conseguir eficácia em lidar com graves conflitos internacionais, repetindo a pressão que já vinha sofrendo com a guerra da Ucrânia. O Representante Permanente da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, classificou o veto dos EUA à resolução brasileira como um “fracasso da política externa” e uma manifestação de hipocrisia e padrões duplos por parte dos Estados Unidos. “Acabamos de testemunhar outra manifestação da hipocrisia e dos padrões duplos dos nossos colegas americanos”, disse ele.
Confira como votaram os membros do Conselho de Segurança da ONU:
A favor: 12 – Albânia, Brasil, China, Equador, França, Gabão, Gana, Japão, Malta, Moçambique, Suíça, Emirados Árabes
Contra: 1 – Estados Unidos
Abstenção: 2 – Rússia e Reino Unido
(Foto: AFP)